one

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Vênus

Todos de preto, cabeças baixas e olhos transbordando dor. Olhando agora para as pessoas estava curiosa, imaginar como vão estar no meu velório, sorrisos tristes e almas vazias, mas nunca será um fim. Afinal todos morrem algum dia.

Cá estava eu, parada observando pessoas que até então nunca tinha visto e as mesmas entavam se  despedindo da minha mãe, alguns sussurros e olhares eram direcionados a mim como forma de pena. Era agonizante, eu não precisava da pena deles. Minha mãe estava sofrendo no hospital, eu vejo que ela descansou e vou me manter forte por ela.

Em passos lentos podia ouvir o barulho que as pequenas poças de água faziam com o atrito, minhas mãos estavam dentro do casaco enorme preto agora podendo perceber o quão grande o casaco felpudo estava em meu corpo, um riso baixo saiu de meus lábios. Eu não estava triste, na verdade estava bem por minha mãe finalmente ter descansado, a saudade seria imensa mas vinha me preparando para esse momento a quase dois anos e quando finalmente chegou, eu não derramei uma lágrima.

A quatro anos atrás minha mãe foi diagnosticada com leucemia mieloblástica aguda, tentamos de tudo, vi todos os estados de dor dela, dormi noites no hospital ao seu lado e por isso acho que ela descansar foi o melhor. Ainda caminhando na estrada estreita para fora do cemitério pairei meu olhar sobre um grupo de pessoas ali podendo reconhecer apenas alguns, antigos alunos da escola que eu costumava a ir. Quando minha mãe piorou decidi estudar em casa para passar mais tempo com ela, então terminei meu último ano em casa.

Ainda os encarando apertei fracamente os dedos e desviei o olhar continuando a caminhar para fora podendo ver o carro do meu pai que  estava próximo, mais alguns passos e me encostei no mesmo encarando o céu. Estava nublado, aquele tipo de tempo que uma cidadezinha pacata costuma a ter.

Weston é uma cidade localizada no estado americano da Flórida, consideravelmente pequena, todos aqui se conhecem e na maioria das vezes isso é muito ruim.

Quando meus pais descobriram que eu também tinha leucemia o desespero bateu, fomos a todos os médicos, procuramos ajuda de fora e conseguimos o tratamento, sempre nos disseram que esse tipo de tratamento funciona pra algumas pessoas e pras outras não. Minha mãe foi uma dessas outras.

Digamos que eu estou em paz comigo mesma,  não tenho raiva da vida e muito menos das pessoas, no começo eu me sentia mal, isso mudou. Por que ter tanta raiva? A vida é curta demais pra se prender a ódios e mágoas.

- Vee, oh querida graças a Deus achei você. Estava preocupado.

Meu corpo virou em direção a voz e lá vinha meu pai, típico pastor de igreja, cabelos escuros e uma barba sempre bem feita, roupas bem passadas e aquele ar de autoridade. Quem ele queria enganar? Não estava tudo bem.

- Pai... não se obrigue a sorrir, eu já tentei ok? isso só faz a dor aumentar.

Sussurrei o encarando e pude ouvir um longo suspiro sair de seus lábios, ele se aproximou envolvendo meu corpo em um abraço forte. Sabia que ele estava acabado, e sabia que estaria mais ainda quando eu partisse.

- Ande, temos que ir a igreja, a família O'Connell está presente... parece que a filha deles chegou agora na cidade

Prestei atenção em suas palavras e concordei  lentamente com a cabeça sabendo que era importante, quando adentramos ao carro encarei a rua pensativa. Ninguém sabia que eu,  Vênus Moore Blackwell tinha leucemia, meus pais quiseram deixar isso escondido pelo fato da minha mãe ter sofrido muito com os olhares das pessoas.

No rádio tocava rondó Alla Turca, Mozart. Como eu adorava músicas clássicas, cresci ouvindo minha mãe tocar o violino que meu avô havia a dado ainda pequena.

- Vamos querida, abra um sorriso

Meu pai quebrou o silêncio quando o carro parou, pude ouvir a música que soava na igreja, parecia estar cheia apesar da perda de minha mãe. Ao sair do carro umideci os lábios retirando o capuz preto o guardando e caminhei em passos lentos até a porta da igreja junto com meu pai que apenas por olhar via a tristeza em seus olhos, respirei fundo tomando coragem e entrei ao local.

Alguns olhares caíram sobre nós, via algumas pessoas sorrirem pra mim demonstrando carinho e eu apenas sorria de volta como forma educada, meu pai parou beijando minha testa e sorri minimamente indo ao meu lugar que ficava junto a outros jovens da igreja.

- Os planos de Deus é algo extraordinário, por mais que não entendamos sei que ele quer nosso melhor, uma vida foi perdida mas sei que Anne está muito bem ao lado do nosso senhor...

A voz de Thomas tomava conta do salão enorme, meu pai queria mesmo fazer um discurso sobre a morte da minha mãe? Um mínimo de silêncio não é o bastante? Ele tem mesmo que a expor?

Questionei travando o maxilar e desviei o olhar virando o rosto para a entrada podendo agora ver a família O'Connell adentrando ao local, todos com um sorriso gentil no rosto e muito bem vestido, Maggie sempre muito meiga e com um sorriso enorme no rosto por mais que estivesse mal já que minha mãe e ela sempre foram muito amigas. Patrick estava muito elegante, seus olhos encaravam meu pai como forma de carinho e dor ao mesmo tempo. Eles eram como irmãos e Patrick mais que ninguém sabia que meu pai estava sofrendo. Finneas estava andando até o seu lugar sem delongas e também mantinha um sorriso caridoso no rosto da mesma forma que seu pai.

Quando ia virar minha cabeça novamente em direção ao meu pai, meus olhos focaram no cabelo em tons de azul, um azul mesclado e um tanto chamativo, a pele branca e as roupas largas... afinal quem seria a garota?

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Eu realmente não sei se irei continuar mas estou bem motivada com essa história, por mais triste que seja minhas ideias pra essa fic estão enormes kkkkk espero que gostem e até o próximo♡

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