Fifteen

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"— Billie"

Balançou a cabeça algumas vezes para se dar conta de que a namorada a encarava preocupada, os olhos aflitos fixados no rosto expressivo, carregado de dor e lembranças ruins. A maior sorriu sem graça desviando os olhos por alguns segundos, não tinha orgulho do seu passado, ao menos chegava a culpar tais momentos por sua dependência na bebida, no entanto, foram esses fatores que ajudaram a de olhos azuis se afogar nas próprias dúvidas.

— Uh? Acho que me perdi no assunto. - riu sem ânimo tomando a mão menor para si, fazia um carinho terno com a ponta dos dedos enquanto os entrelaçava aos seus.

— Tem certeza? Me deixou preocupada...

Ainda receosa, Vênus encolheu os ombros brevemente mantendo o olhar nos da outra. Queria entender o porquê aquilo vinha acontecendo com tanta frequência. Bastou um piscar de olhos para que Billie se levantasse e ajeitasse tudo dentro da mochila, fechou e colocou a mesma nas costas se preparando para pegar o corpo menor no colo. Seria uma caminhada boa até a moto.

O rosto pálido de Vênus se escondeu entre as mechas azuis, os olhos quase se fechavam e os lábios trêmulos batiam um contra o outro. Era possível ouvir os galhos secos sendo amassados, a respiração fraca do corpo encolhido e pássaros de longe cantarolando entre si. Novamente havia esquecido de tomar o remédio, mas já era de costume para a garota, afinal, sempre que estava com Billie era tão entorpecente que não precisava de mais um efeito aleatório lhe possuindo.

— Não vai me dizer que dormiu, mocinha.

A voz risonha soou, e só agora Vênus percebeu que passou o caminho até a moto calada, os olhos se abriram brevemente sendo incomodados pelos flashes de luz que passavam as árvores mais vazias, riu, querendo chorar pela dor agonizante que apontou o estômago.

— Acho que seu cheiro me faz dormir mais fácil.

Forçou mais um riso enquanto era colocada sentada na moto, os olhos inundados pela onda de lágrimas pesadas mas que a garota não permitiu descer, contrário disso, engoliu, o choro e a dor miserável que quase a fazia desmaiar.

— Babe? - Billie chamou baixo.

A destra tocou o rosto menor e os olhos azuis traçaram o percurso de todo o rosto, o semblante preocupado foi surgindo no exato momento que sentiu os olhos mais tristes.

— Sinto sono.

Se adiantou com qualquer desculpa esfarrapada que conseguiu soltar mais rápido, os lábios forçaram mais uma vez um sorriso do qual a de cabelos azuis aproveitou para roubar-lhe um selinho.

— Dorme comigo hoje. - Manhosa pediu, fazendo um bico adorável com o lábio inferior.

— Preciso fazer algumas tarefas... - suspirou inerte nas próprias dores.

Vênus rodeou os braços envolta do pescoço da maior e selou mais uma vez os lábios nos dela, Billie quis resmungar mas por um lado sabia que a namorada estava passando tempo demais fora de casa e mesmo com o namoro, ela tinha suas tarefas. Concordou em um revirar de olhos rindo ainda com a boca colada nas dela, uma das mãos seguraram o queixo tortinho e ali acariciou com o polegar livre de qualquer anel que tinha costume de usar.

— Acha que seu pai vai te tirar das coisas que envolve a igreja? - Sussurrou fechando os olhos, só de pensar que havia complicado a vida da outra, doía em Billie.

— Isso é provável, não importa mais, uh?

As palavras falhas vieram já sabendo dos pensamentos incertos, afinal conhecia a namorada desesperada que tinha arrumado.

— Certeza? Eu posso...

— Eu te amo.

Vênus foi mais rápida nas palavras, os olhos castanhos agora abertos em direção a outra, tão próxima, tão bela.

— Babe... - respirou fundo segurando ambas laterais do rosto. — Eu te amo. - sussurrou de volta não contendo um sorriso bobo.

Sinto dor, tudo dói, minha mente lateja. Será que vou morrer? Vou morrer agora? Amanhã ainda acordarei com uma mensagem de Billie dizendo que está com saudade? Verei o sorriso vergonhoso ou as madeixas desgrenhadas deixando o capacete da moto?

[...]

Fechou a porta e assim o sorriso, uma das mãos tocaram a barriga por cima do tecido, os dedos estavam trêmulos assim como o resto do corpo. Estava fraca. Checou se o pai estava em casa e agradeceu ao ver que as chaves do carro não estavam ali, deu alguns passos se apoiando nos móveis de madeira que encontrou pelo caminho. Subir a escada fora ainda pior, choramingava de dor a cada degrau que subia, podia jurar estar transpirando sangue. A dor era perturbadora, pareciam múltiplas facadas no estômago, doía até mesmo para respirar.

A garota se arrastou até o quarto se sentando com cuidado na cama, os soluços tomavam conta do cômodo, o desespero de não conseguir respirar direito, a sensação incomoda de estar se sufocando consigo mesma. Vênus olhou para os lados em busca da pequena bolsa de remédios, gemeu quando teve que se inclinar para pegar, entretanto não parou até que estivesse com o frasco de plástico branco em mãos. Mal conseguiu abrir, tremia de dor ao ponto de derrubar alguns comprimidos no colchão, soluçou mais uma vez jogando um punhado dos mesmos em sua mão e sem água foi jogando um por vez para dentro da boca. Os olhos vermelhos e inchados encaravam o colchão quando a visão foi falhando, a primeira ideia que teve foi tomar banho para aliviar a sensação.

Tratou de retirar as peças que vestia e os sapatos, a garganta seca e a sensação de ter algo preso na mesma, afinal os remédios eram grandes, não conseguia facilmente engolir os oito que havia tomado.

— Billie?

Chamou em um riso, o corpo nu caiu sobre a cama novamente e de barriga para cima ficou, encarando o teto. Puxava o ar em desespero para dentro e ao mesmo tempo gargalhava pela sensação de estar flutuando, afinal eram remédios fortes e nem mesmo a garota poderia tomar tantos de uma vez. Tossiu colocando uma das mãos sobre a própria garganta, os risos foram diminuindo e deram lugar a lufadas, o corpo se encolhendo e aos poucos, Vênus ia perdendo o fio de ar que tinha. Não era como brincar de quem segurava mais a respiração, por mais que a sensação fosse semelhante, era aterrorizante e mesmo se debatendo para tomar o oxigênio para si, bastou uma única revirada de olhos para que apagasse e por fim se entregar ao exaustivo fim.


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