and i love you, tony

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A luz da janela invadia o quarto e incidia diretamente nos meus olhos, me fazendo acordar. Estranhei estar na sede dos Vingadores e não em casa, e foi nesse momento que as lembranças dos últimos dias invadiram minha mente. Virei na cama, saindo da direção dos raios solares enquanto sentia a garganta embolar e as lágrimas chegarem.

Convencido que não deveria chorar, já que de certa forma era minha culpa o que aconteceu, me levantei da cama, caindo sentado na mesma logo em seguida. Era como se minhas pernas fossem feitas de varetas, e elas tremiam. Esgotado, eu estava acabado.

Quando finalmente desisti de segurar a tristeza e as lágrimas começaram a descer livremente pelo meu rosto, outro sentimento veio acompanhado dela. A raiva. A raiva de não ter protegido Peter, a raiva de ter perdido para Thanos, a raiva de ter ficado vivo enquanto via meu filho partir, a raiva de ver metade do mundo desaparecido.

Havia um copo no móvel ao lado da cama e ele foi minha vítima. Agarrei ele e o joguei na parede, meu corpo caindo na cama ao mesmo tempo que o copo partia em pedaços contra a parede. Um grito doloroso saiu do fundo da minha garganta, uma palavra indecifrável. Talvez nem fosse uma palavra.

A porta foi aberta com a força de um super soldado. Por ela passaram Bruce e Natasha, que se jogaram na cama, um de cada lado, me abraçando. Steve ficou parado ao lado da porta, me observando com lágrimas nos olhos.

A parte orgulhosa de mim lutava contra as lágrimas, não querendo demonstrar fraqueza na frente das pessoas. Já a outra parte de mim agradecia silenciosamente aquele abraço bagunçado de Natasha e Bruce.

Uma outra parte queria que Steve fizesse parte daquela bagunça também.

E como se Steve lesse meus pensamentos, ele entrou no quarto e se sentou na cama, abraçando nós três.

Assim ficamos até as lágrimas se tornarem mais escassas. Natasha deu um beijo em minha testa, enxugando um pouco das lágrimas que estavam em meu rosto.

- Nós vamos consertar isso, ok? Eu prometo. - Steve disse entre leves beijos dados nos meus cabelos. - O Thanos não vai se safar assim. Eu juro, ele vai pagar pelo que fez.

Eu queria muito acreditar naquelas palavras.

Então, eu acreditei.

Espero que dessa vez o destino não me engane.

Barton apareceu na porta chamando Natasha, e Banner saiu do quarto com uma desculpa qualquer. Eu estava sozinho com o Capitão e não sabia decidir se aquilo era bom ou ruim. O clima estava pesado e nenhum dos dois sabia como iniciar uma conversa.

Ignorei a presença de Steve e me deitei na cama abraçando o travesseiro e fechando os olhos, sentindo a cabeça doer. Senti a cama ficando mais leve ao meu lado e quando abri os olhos vi o loiro saindo do quarto. Mentalmente, comparei aquele momento com o momento que ele me abandonou no frio siberiano e fechei os olhos com força sentindo meu coração apertar-se; já havia muito para sofrer naquele momento, não precisava de mais aquela lembrança.

Alguns minutos depois ouvi passos dentro do quarto mas não me interessei em ver quem era. Só abri os olhos quando senti a cama afundando ao meu lado.

A visão de Steve Rogers de pijama e uma caneca na mão me trouxe uma sensação gostosa de familiaridade.

O loiro estendeu a caneca - que estava cheia de café - e eu aceitei de bom grado. Pegou ao lado da cama um comprimido, remédio para dor de cabeça.

- Você costuma ter dores de cabeça depois que chora. - Steve disse enquanto eu pegava o remédio de suas mãos.

E mais uma vez, ali estava a sensação.

Agradeci baixinho, logo em seguida dando um gole no café. Dei uma olhadela em Steve e percebi que o mesmo me encarava. Desviei o olhar, encarando a caneca enquanto bebia todo o líquido dela. Terminei de beber e coloquei a caneca ao lado da cama, passando a encarar agora meus dedos.

- Como você está? - Tentei iniciar uma conversa.

- Acho que estamos todos nos sentindo meio merda, não é? - Riu sem humor. - A sensação de perder é horrível.

- Nem me diga.

E novamente, ali estava o silêncio. E ele incomodava.

Steve fez menção de falar alguma coisa, mas eu o cortei, falando aquilo que estava preso na garganta desde o momento que eu o vi.

- Por que você escolheu ele?

Steve soltou o ar, e respirou fundo antes de responder.

- Eu fiz o que achava certo, Tony. - Me olhou. - Me desculpe, eu não queria que nada daquilo tivesse acontecido.

- Mas aconteceu. E você escolheu ele. Porra Steve, você partiu meu coração em milhares de pedaços. Você destruiu nossos planos. Você poderia ter me contado. Você deveria ter me contado, Steve. Eu merecia saber.

- Você merecia saber, eu sei disso. Eu fui egoísta pra caralho. Por favor, me desculpa Tony. - Vi uma lágrima brotar no canto de seus olhos azuis. - Eu pensei muito sobre isso esse tempo todo. Eu refleti, eu vi que errei. Você tinha todo o direito de saber. Ok, sua reação foi meio exagerada...

- Exagerada??? Ah, você só pode estar brincando comigo! - Olhei para Steve incrédulo.

- Você quase matou o Bucky, Tony!! Se eu não tivesse lá, você teria matado.

- Ele matou meus pais! - Gritei. - Você sabia de tudo, você escondeu tudo. Eu tive que descobrir por um vídeo uma coisa que você poderia ter me contado há muito tempo. Eu descubro que seu amigo matou meus pais e você queria que eu não surtasse? Você queria que eu não ficasse com raiva?? Claramente você não me conhece, né! Esperava o que? Que eu convidaria Bucky para tomar chá com biscoitos, cheio de perdão, porque ele não tinha controle do que fazia? - Diminui o tom de voz. - Não era ele, mas era ele. Por Deus, Steve.

Steve não respondeu por um longo tempo.

- Eu não quero brigar com você, Tony. Não mais. Nós já brigamos demais, não acha? - Internamente eu concordava e só queria esquecer tudo. - Eu só espero que você possa me perdoar um dia. Eu sei... Eu destruí nosso casamento. Mas eu errei, sabe? Eu errei. Eu sou humano também. Foi um erro péssimo, né. - Deu um pequeno sorrisinho de lado. - Mas foi um erro. E eu te amo, Tony. Eu só quero que você me desculpe algum dia.

Senti meu coração bater mais forte, saudade misturada com amor misturado com raiva.

- Eu já te perdoei, Steve. O que não significa que eu vou esquecer o que aconteceu. E nem que nós vamos voltar ao que éramos.

- Eu sei, eu sei. Eu não esperava que isso acontecesse, eu sei que errei feio. Mas... Amigos?

- Calma, Steve. Amigo é uma palavra forte. - Deu um sorrisinho triste, que eu correspondi. - Algum dia a gente chega lá.

Assentiu, conformado.

- Isso impede que você me conte sobre o Peter? Eu sei que você está triste e desculpa estar perguntando sobre ele agora. Mas a curiosidade de saber como Tony Stark lidou com o papel de pai está me matando. - Ri de leve. - Se não quiser falar, eu entendo.

- Não tem problema. Talvez seja até bom, né? Relembrar uns momentos bons com o garoto. Peter era um garoto incrível, sabe? Ele sempre sabia me alegrar, ele foi minha luz esse tempo todo.

Assim eu contei toda a minha história com Peter para Steve, como se nada tivesse mudado.

E aquela sensação de familiaridade se instalou no quarto pelas próximas horas, em que Steve e eu conversamos sobre os dois anos longe um do outro como se fossemos antigos amigos, e aqueles dois anos longe não tivessem um péssimo motivo para acontecer.

Eu não podia negar que sentia saudade dele.

beyond wars [stony]Onde histórias criam vida. Descubra agora