Capítulo 14- Nothead

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Estava extremamente frio no prédio naquela noite. Não havia ninguém pelos corredores, e o único som que se ouvia pelo andar era o zumbir do ar condicionado, ecoando pelo ambiente frio e deprimente do necrotério.

Na sala mais isolada, a luz piscava irritantemente, trazendo um ar sombrio e clichê ao ambiente sortido. Pela sala as macas eram ocupadas por seguidas bolsas mortuárias, lacradas com os cadáveres frios. De repente em um baque ao cenário silencioso e aterrorizante da sala, um dos corpos se revirou em um espasmos. Seus braços tentavam rasgar a bolsa que o contia, e suas pernas se entrelaçam no pequeno espaço que o era concedido em seu confinamento. O corpo, antes morto, se debatia em uma visão claustrofóbica dentro do saco. Suas mãos tentavam abrir o zíper do saco pelo lado de dentro, já cansados de atravessar o resistente material de que era feito o saco.

Após abrir o zíper o corpo finalmente se ergue da cama em desespero. Ele cai no chão ainda desnorteado, se arrastando pelo piso como a última alma viva em todo o ambiente, percorrendo o corredor cercado pelas macas, preenchidas pelos corpos imóveis. O homem recém acordado se levanta lentamente do chão ainda nú e desorientado, ele caminha até a porta se batendo nas mesas e tropeçando em seus próprios pés. Quando chega finalmente na estilosa porta de vidro, seu corpo retira sua última energia para segurar e abaixar a maçaneta, abrindo finalmente a passagem para que ele saia da sala fria e obscura. Antes de sair da sala o corpo dirige seu olhar ao reflexo da porta, o que o assusta profundamente com a terrível visão de sua aparência deprimente.

Sua cabeça estava decepada. Ele sente um tremendo desespero surgir em seu coração, sua visão estava obscura e quase que não conseguia ver sua real situação pelo vidro embaçado. É então que Philippe se lembra, de seu brutal e violento ato quando a tristeza e ódio o preencheu o levando a decepar sua própria cabeça.

(Leia "sangue no corredor")

Ele se lembrava de tudo, claro como o dia. Seu corpo se recuperou, ele se recompôs enquanto se observava, ainda decepado em frente ao vidro. Seu corpo estava gelado, branco como as paredes da sala, e o que restou de seu pescoço estava selado, coberto apenas pela carne negra e seca.
Philippe não sabia como aquilo era possível. Ele estava realmente vivo, seu corpo se movia normalmente e ele finalmente recuperava suas memórias e consciência, enquanto observava o corredor abandonado do prédio. Ele caminhou até a porta de emergência ainda sem saber como seguiria sua vida naquele momento, porém foi quando viu um armário de limpeza aberto perto, da saída. Lá dentro achará uma calça moletom, numa caixa de achados e perdidos, assim como um sobre tudo de inverno que parecia ter sido deixado pelo zelador. Philippe vestiu as roupas escondendo sua nudez, e então segurou a porta pronto para abri-la e partir quando algo chamou sua atenção. Havia um jornal largado no chão dobrado e molhado pela umidade do quarto. Philippe o pegou no chão, e então o abriu dando início a leitura. Philippe passou o olho rapidamente pelas machetes pegando apenas o essencial. O último dia de que se lembrava era 20 de abril e de acordo com o jornal já era 4 de maio. Ele começava a entender o que estava acontecendo. Seu corpo havia mudado, a explosão afetou seu organismo de tal maneira que ele podia até mesmo sobreviver a uma decapitação e continuar vivo e são. Philippe começou a se sentir melhor do que nunca.

Seu corpo estava mais bem definido, sua postura mas bem colocada, ele conseguiu até mesmo controlar melhor seus batimentos. Quando olhou novamente no espelho, no lugar onde antes era sua cabeça agora havia o molde negro de um rosto normal, formado apenas de carne escura e concreta. Philippe então começou a testar suas capacidades. Quando ele queria tocar em seu novo rosto a tarefa era fácil, e o molde negro continuava firme em seu pescoço com a mesma textura de uma cabeça normal, porém quando queria que sua cabeça falsa sumisse, sua mão atravessava instantaneamente a estrutura negra que tomou conta de seu rosto. Era impressionante. Philippe voltou a ler as manchetes captando o máximo de confirmação que podia:

Justice- Not hero [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora