Carta 20.

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“Querido Michael,

Sonhei contigo mais uma vez.

Estávamos os dois…

Eu estava bem e com mais cabelo…

Tu olhaste-me e sorriste.

O meu coração tinha aquecido.

O sorriso que sempre gostei de observar.

Quando acordei sorri um pouco, mas depois o sorriso desvaneceu-se.

Eu não vou ser mais a razão dele.

Hoje fazíamos mais um mês.

Chorei momentos depois de acordar…

A médica apareceu e ela perguntou-me o que se passa.

“Não quero morrer sem ver a razão pela qual ainda estou a respirar,

Não quero esquecer a pessoa que mais me fez sorrir,

A pessoa que mais significou para mim.

A pessoa que me faz lutar ainda mais com esperanças de voltar a vê-lo.

Não quero ver um Mundo sem ele…Não quero ir-me embora sem o ver.” Eu disse.

A médica apenas suspirou e disse que nada era justo neste Mundo.

Mas ela disse que devia amar-me primeiro.

Como é que é possível se estou doente?

Como é que é possível quando todos te deitam abaixo?

Dizendo que tu nunca me amaste.

Tu nunca me amaste, Michael?

 Sinto-me cada vez mais fraca para escrever…

A minha letra começa a ficar tremida.

A minha respiração é lenta e alta.

Eu olho para as minhas mãos e começo a mexer levemente os meu dedos,

Vejo-os a mexerem-se e depois lembro-me que ainda estou viva.

A minha mão está fraca na verdade…

Passo-a pelos meus lábios e fecho os olhos durante segundos e lembro-me de estarem contra os teus.

Tenho um tubo pelo meu braço e eu passo a outra mão sobre ele.

Lembro-me que sou inútil.

Não posso fazer nada.

Apenas aguardar a minha morte.

Fecho os olhos e tudo se faz silêncio.

Sinto a dor de todos e as máquinas a fazerem barulho.

Abro-os de novo e vejo a dor no olhar de todos.

O desejo da morte e da vida.

O desejo de sobreviver e morrer.

É estranho desejar os dois…

Mas eu desejo.

Eu desejo de viver para poder ver-te mais uma vez.

Eu desejo morrer para esquecer tudo e acabar com esta dor.

Mas esta decisão não é fácil.

Eu posso permitir o meu cérebro que deixe de lutar e o meu corpo.

Mas o coração não.

O meu coração quer-te.

Quer ver-te uma última vez…

Ver o teu sorriso, o teu olhar e ouvir a tua voz.

Ele quer o teu corpo contra o meu e os teus lábios contra os meus.

As nossas mãos entrelaçadas e o nosso amor entrelaçado.

Preciso de tudo isto.

Eu amo-te.

Porque a razão de uma parte de mim querer sobreviver é esta.

A razão és tu.

 

Da tua,

Freya.”

Apologize. || CliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora