Capítulo 5

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Eles entraram no vagão. O metrô já estava um pouco mais vazio, e eles se sentaram em um dos bancos perto a saída. Ana  simplesmente não acreditava no que havia acabado de acontecer. Foi tudo tão rápido, eles tinham acabado de se conhecer... ela lembrou do beijo e da sensação de eletricidade que sentiu, estremecendo. Esperava não ter sido a única a sentir tudo isso. Lucas estava tão quieto...

- Lu- ela tinha começado a se virar quando sentiu a cabeça dele cair sobre seu ombro.
Ela olhou assustada, e depois sentiu um alívio.

Ele dormia profundamente, as pálpebras fechadas, a respiração leve e constante.
Tinha a expressão tranquila no rosto, e as mãos estavam sobre o colo, com as palmas para cima. Ele devia estar bem cansado. Ela deu um pequeno riso, e pegou uma de suas mãos distraidamente, analisando. Ana passou os dedos pelo os dele, reparando em pequenos calos nas pontas, as mãos de um pianista. Devia ter tocado muito para ter conseguido os calos. Viu uma linha branca na palma, e seguiu o contorno. Parecia uma cicatriz, quase imperceptível. O que será tinha acontecido para ele ter ganhado a cicatriz? Ele devia ter competido muito também... Havia tanto que não sabia. Estava tão perdida em seus pensamentos que só notou que Lucas havia acordado quando ele pegou a mão dela, fazendo pequenos círculos com o dedão no dorso. Como se notasse enfim o que estava fazendo, Lucas levantou a cabeça, as bochechas vermelhas.

- Nossa, eu dormi em cima de você?- ele disse envergonhado, passando a mão pelo cabelo- Desculpe, eu não tinha notado...

- Tudo bem, você parecia estar tão cansado.- Ana disse, encostando o dorso da mão na testa de Lucas, a voz preocupada.- Você está com febre? Está tão quente...

- Estou bem.- ele disse, o rosto queimando. Com certeza não era febre...
O apito do vagão soou, indicando a chegada na estação deles. Lucas quase suspirou, aliviado. Como ele explicaria para ela que seu coração batia tão rápido, e que só de sentir ela tocando em sua mão daquele jeito ele quase entrou em combustão? Ele a tinha beijado, mas e se ela não sentisse o mesmo que ele? Sacudiu a cabeça, afastando tais pensamentos.

Saíram do vagão, e silêncio instalou-se entre eles.

- Então te vejo amanhã?- ele perguntou, distante. Tinha medo de ficar muito próximo dela, e acabar beijando ela de novo.

-Acho que sim.- ela disse, percebendo a distância entre eles. Seu coração deu um aperto, ele não queria mais ver ela? - Ou melhor não?- ela perguntou, a voz receosa.

Lucas se espantou. Ou melhor não? Por quê? Será que não deveria ter beijado Ana?

- Por quê?- Ele perguntou, o semblante surpreso.

- Ah, é que achei que por conta de tudo o que aconteceu você talvez não quisesse mais me ver... e você está tão distante...- ela disse, com um tom inseguro.

- O quê? Não, Ana.- ele pegou a mão dela, e colocou sobre seu coração.- É por isso que estou mais distante. Se não me afastar um pouco, vou entrar em combustão, entende? Não estou com febre, você me deixa assim.- Lucas disse, com uma expressão perplexa.

Ana sentiu os batimentos fortes e rápidos do coração de Lucas sob seus dedos, e olhou para ele assustada com a ação repentina.

- Estava com medo de acabar me descontrolando de novo.- ele acrescentou, sua expressão se suavizando.
Ela o encarou, sem saber o que dizer. Então ele não estava querendo se afastar dela...

- Que susto, Lucas!- Ana disse, enlaçando os braços em seu pescoço.- Achei que não tinha sentido o mesmo que eu.- ela disse com a voz aliviada.

- Acho que senti até demais.- ele riu timidamente, enquanto retribuía seu abraço.

......

Abriu a porta de casa, cercado do silêncio habitual. Ao longe, Lucas conseguia ouvir um cão latindo e o ruído dos carros, e ele até que gostava disso. Assim não se sentia no meio do nada, sozinho e sem ninguém. Seu pai não estava em casa, como sempre. Ele e o pai não tinham uma boa relação. Após o acidente, o pai passou a sumir, e muitas vezes não voltava para casa. Começou a trabalhar cada vez mais, e deixou de interagir com o próprio filho. Pelo menos se importava o suficiente para continuar a pagar as contas de luz, e água. E para deixar algum dinheiro em cima da mesa, quando voltava para casa. No começo, Lucas chorava todas as noites, e acordava com pesadelos. Depois, percebeu, e finalmente aceitou que o pai não seria quem ele precisava. Quase não notava a ausência mais. Agora preferia ficar sozinho a companhia do pai. Era quase a mesma coisa mesmo. Dobrou sua bengala, ela não era necessária dentro de casa. Foi até seu quarto, procurando concentrar-se em sua lição de casa, mas ele não conseguia. Começava bem, entendendo e resolvendo as questões, porém seus devaneios iam diretamente a Ana. Se lembrava de sua voz, das sensações que sentia perto dela, e já não conseguia concentrar-se mais. Desistindo, tomou banho e cansado, dormiu.
....
Ana entrou em casa. Havia recebido uma mensagem do pai, dizendo para ela que ele e  sua mãe iriam passar a noite no hospital. Quando protestou, perguntando o motivo deles não a terem levado, ele somente respondeu que o quarto era pequeno, e que Zig provavelmente não iria querer dormir se ela aparecesse lá. Oh, Zig... Ana foi até seu quarto, e pegou um livro, tentando revisar para a prova que teria no dia seguinte. Ela precisava se concentrar. Queria se formar e fazer uma boa faculdade, tornar-se médica. Tinha que se concentrar. Passou as mãos pelos cabelos, e encarou as letras no papel. "Lucas" ela leu. Piscou, relendo a palavra. "Lugar" estava escrito. Ela revirou os olhos, fechando o livro com força. Ainda bem que já tinha estudado antes. Lembrou de seu rosto e da frase que disse a ela " Ana, seria muito estranho se eu dissesse que parece que te conheço a vida inteira?" os olhos verdes cheios de receio, e uma tristeza que não conseguia entender, e atirou o livro longe, o rosto queimando.

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Oie gnt! Tudo bem com vcs? O que estão achando? O que teriam feito se fossem Ana?
Obrigada por terem lido mais um capítulo!
Votem se gostaram, e comentem por favor! Adoraria saber a opinião de vcs
❤️

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