A tarde tinha chegado rapidamente, e Lucas pegou o metrô, indo em direção a ONG. Abriu a porta e cumprimentou todos, antes de ir a sala de música, ainda vazia, e sentar-se ao banco em frente ao piano. Não estava na hora delas virem para a sala, e Lucas aproveitou o silêncio, para tocar algo diferente. Lembrou-se de sua mãe, e de sua música favorita. Seus dedos voaram sobre as teclas, a melodia se formando, Lucas mergulhando em memórias, seus sentimentos se derramando sobre as teclas. Ele não precisava nem pensar para tocar essa música, tantas vezes já a havia tocado, cada músculo lembrando o que seus olhos já um dia puderam ver. Ele fechou os olhos, sentindo um nó em seu peito, e lágrimas escorreram por seu rosto, dor, perda, amor, felicidade, difusos em seu ser. Flashes passaram por trás de suas pálpebras fechadas, a mãe sorrindo, as mãos sobre as dele, o enterro, os primeiros dias após sua morte... ele soluçou, o rosto entre as mãos, os cotovelos apoiados nos joelhos. Doía tanto... Como podia doer, seu coração arrancado do peito... Sentia tanto a falta da mãe, que simplesmente não conseguia, era sua culpa , deveria ter sido ele... não ela. "Não ela..."
" Mãe, por que gosta tanto dessa música? Ela é tão triste..." ele virou o pequeno rosto em direção à mãe, encarando-a com descrença.
" Ela me lembra coisas que perdi, querido..." ela disse, arrumando os cabelos bagunçados de Lucas, os olhos verdes como o mar, um espelho claro de sua alma.
" Mas por quê você quer se lembrar de coisas que perdeu, mãe?" ele perguntou, o rosto em uma careta, o olhar impaciente
"As coisas perdidas precisam ser lembradas também, filho. As coisas que mais amamos, são as que mais doem quando perdemos. E elas não devem ser esquecidas, mesmo que suas lembranças doam. Lembre-se de cada uma com amor, e cresça em meio as perdas." A mãe deu um beijo em sua testa.
Sua imagem se dissolveu, e Lucas abraçou o próprio corpo, sentindo uma solidão que já muito tempo não sentia. Ele socou as teclas, sons estridentes e desafinados ecoando pela sala.
-Lucas!- ouviu Ana atravessar correndo a sala, o abraçando com força.- Meu Deus, você está bem?- ela o olhou, a voz coberta por desespero. - O que você fez?- ela pegou sua mãos, as tirando de seu rosto.
- Eu não consigo Ana... Não quero mais me lembrar...- ele balançou a cabeça várias vezes, os olhos refletindo sua dor.- Doí muito...
- Onde doí? Me diga Lucas, você se machucou?- ela perguntou, procurando por qualquer ferimentos, seus olhos cheios de lágrimas. Vê-lo daquela maneira quebrara algo dentro dela, que ela não sabia se algum dia se consertaria.
-Aqui, Ana. Aqui.- ele sussurrou, apontando para o próprio coração.
- Lucas...- ela o abraçou, e ele continuou soluçando- Todos temos uma parte quebrada dentro de nós , que nunca vai se consertar...- ela sussurrou no ouvido dele, acariciando seu cabelo.
- Mas eu não quero essa parte de mim, eu odeio ela...- sua voz falhou, e ele enterrou o rosto no ombro de Ana, suas lágrimas molhando seu vestido.
- Eu não odeio essa parte de você, Lucas. Ela o torna quem é.- ela pegou a mão dele, colocando-a sobre o coração dela- Consegue sentir a minha?
Lucas sentiu as batidas, fortes e rápidas sob sua palma. Sua expressão se suavizou, e ele fechou os olhos, concentrando-se no ritmo do coração de Ana.
- Muitas vezes a odeio, e odeio ainda mais por essa parte ocupar um lugar em mim. Mas muitas vezes a amo, por tornar quem eu sou. Humanos, Lucas. Somos humanos.- ela se inclinou e beijou suas pálpebras, suas bochechas. Passou os dedos, pela trilha que as lágrimas formaram no rosto de Lucas, e beijou sua testa por último.
- Porém, se realmente não consegue amar a sua parte, ame a minha então. Eu amarei a sua.- ela sussurrou.
- Ana...sempre amei a sua. Antes mesmo de saber que ela existia em você.- Lucas respondeu, selando os lábios nos dela. Ela puxou ele para si, e eles ficaram assim por um tempo, até que faltassem apenas alguns minutos para as crianças entrarem na sala.
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Oi gnt tudo bem com vcs? O q estão achando? Comentem por favor se gostaram ou não!! Estou fazendo mudanças importantes no livro, alterando a história das personagens, mas ainda estou trabalhando nelas.
Nessa parte, procurei dar uma profundidade a Lucas, é uma parte muito importante, para vermos seu passado, e seus traumas, dores. Como isso atinge,Obrigada por terem lido mais um capítulo!
Amo vcs❤️
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Amor à primeiro toque
RomantikLucas era uma criança comum até sofrer um acidente que muda completamente seus dias. Seis anos depois, redescobre um motivo para continuar com sua paixão pelo piano, começando a trabalhar como voluntário em uma ONG, tocando para crianças . Dois ano...