Brianne não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido. Ela já estava em casa, dedilhando sua Red Special, enquanto resolvia alguns deveres de matemática. Rogerina ajudou ela e suas amigas a se livrarem de Prenter, ela fez uma coisa boa, ninguém mexeu com ela pelo resto do dia, tudo estava tão estranho.
— Por que eu estou pensando tanto nisso... — Ela colocou a guitarra no chão, tinha construído o instrumento com a ajuda de seu pai, a guitarra era realmente especial para ela. — Ela só deve estar me dando um desconto para pegar pesado amanhã...
A garota prendeu os cabelos, já era tarde da noite, ela deveria estar dormindo, e dormir iria fazê-la parar de pensar no assunto. Tirou as calças e deitou na cama apenas usando seu moletom e calcinha, se cobrindo até a cintura, agarrando-se ao travesseiro.
Ela só precisava descansar...
— Brianne?
Brianne sentou na cama ao ouvir a voz de Rogerina, ela se levantou rapidamente para ligar a luz, e quando se virou, viu a loira sentada em sua cama, usando o mesmo moletom vermelho de quando estava na sala, com os cabelos soltos, enfeitados com lacinhos, ela tinha um pirulito de cereja nos lábios, e parecia não usar nada além do moletom.
Por alguma razão, Brianne se aproximou da cama e deu um tapa no rosto da loira, ela não teria coragem de fazer isso, então por que o fez?
A loira se virou, sorriu para ela e passou a mão pela bochecha, avermelhada pelo tapa, tirando o pirulito dos lábios logo em seguida.
— Você é uma vadia, Brianne Harold May.
— Eu não sou, você quer sair daqui? — Brianne disse aumentando o tom de voz, puxando o moletom para baixo na intenção de esconder sua calcinha. — O que está fazendo aqui?
— Por que você não deita? Se eu sair agora, você vai ficar entediada... — Rogerina fingiu estar magoada com a ideia de ir embora.
— Eu estou tentando dormir, já não basta me atormentar o dia todo? — Brianne a empurrou para fora da cama e se deitou. — A porta é por ali.
— Eu não quero.
A loira se deitou ao seu lado, as duas ficaram de frente uma para a outra, foi uma sensação parecida com a que Brianne sentiu naquela festa, aquele clima não era normal, aquilo não poderia ser real.
— O que você pensa que está fazendo?
— Isso aqui é a sua cabeça, eu estou fazendo o que você gostaria que eu fizesse... — Ela segurou o rosto de Brianne, acariciando seus cachos. — Você gosta de vadias May?
— Ninguém gosta de vadias.
— Isso é o que você pensa...
Rogerina estava se aproximando, Brianne ficou paralisada, ela estava muito perto, estava fechando seus belos olhos azuis, preparando os lábios...
E elas duas se beijaram, assim como na festa, algo não muito profundo, porém demorado.
— Não! — Brianne acordou de manhã, quase que em um salto. — Não, não, não!
Ela usou o travesseiro para gritar, estava começando a se arrepender de ter aparecido naquela maldita festa.
•••
Brianne estava no laboratório de química, olhando para todos os cantos possíveis da sala, procurando por Rogerina, ela estava atrasada, e talvez por bondade do universo, Patricia tinha faltado àquela aula. Geralmente, Brianne passava as aulas de química no laboratório sem uma dupla, o número de alunos daquele horário era ímpar, e também não havia problema, ela preferia trabalhar sozinha.
— Vistam os jalecos e se juntem com suas duplas, hoje vamos estudar as propriedades dos sais...
E de repente, como se o universo estivesse em um complô contra a sanidade de Brianne, Rogerina apareceu na porta, ofegante, com a bolsa pendurada apenas em um ombro e o jaleco nas mãos.
— Está atrasada senhorita Taylor. — Disse o senhor Spilburn, o professor magro e esguio que usava o mesmo terno preto, lembrando vagamente um mordomo em um filme de terror. — A senhorita Prenter faltou, fará dupla com Brianne May hoje.
— Mas... — Brianne tentou argumentar, sendo interrompida pelo professor.
— Aposto que não tem nenhum problema com isso, não é mesmo senhorita May?
— Sem problema algum...
Rogerina sentou-se ao lado de Brianne na bancada do laboratório, deixou sua mochila no chão e vestiu o jaleco, olhando com uma expressão de tédio para o professor. Isso não era muito comum, mas a garota dos cabelos cacheados não conseguia prestar atenção na aula, ela estava tentada demais a olhar para Rogerina, quanto mais ela tentava pensar em outra coisa, mais se sentia tentada a olhar para o lado.
— Agora vamos para a parte prática, cada um de vocês recebeu um pote com um sal diferente, já sabem o que tem que fazer então não me procurem. — O senhor sentou-se em sua mesa, abrindo um livro e esquecendo de tudo e todos.
— O que devemos fazer? — Ela criou coragem para falar com Rogerina, mas ainda não virou para o lado, estava nervosa só de pensar em olhar para o rosto dela.
— Você fala como se eu tivesse prestado atenção, a nerd aqui é você. — Ela cruzou os braços, respirando fundo. — Nem faz diferença mesmo, ele nunca olha nenhuma tarefa.
— Como você sabe?
— Eu e a Patty nunca fizemos nada, vai por mim, ele não está dando a mínima. — Ela tirou um pirulito de cereja da sua bolsa.
Era estranho o jeito como os lábios dela ficavam sexys com apenas um doce.
— Eu não sou de deixar a matéria acumular...
— Faça o que achar melhor, se não vale ponto, eu não faço. — Rogerina deu de ombros, olhando para Brianne.
As duas estavam conversando pela primeira vez, sem a loira lhe jogar insultos ou debochar de si, aquilo era realmente estranho.
— Eu vou perguntar pro Austin, se não se importar...
Mark Austin era o único garoto da sala que não mexia com Brianne para fazê-la se sentir mal, ele era um garoto doce e gentil, um verdadeiro amor de pessoa, ela gostava muito dele, já que ele era um dos melhores amigos de Melina.
— Por que você não deixa isso pra lá? A gente poderia ficar conversando... — Ela tirou outro pirulito do bolso. — Quer?
— Certo, o que está acontecendo aqui? É uma pegadinha?
— Fala na minha língua.
— Você simplesmente me atormentou todos os dias desde que o ano começou, você sempre foi cruel comigo, o que está acontecendo? Pelo que eu sei, você sente vergonha de ficar perto de mim...
— Isso pode ter um fundo de verdade, mas você quer que eu comece a te humilhar?
— Não!
— Então não reclame, vai pegar o exercício com o Austin... Eu espero. — Rogerina deixou o pirulito ao lado de May, desviando o olhar logo em seguida.
Brianne não tinha ideia do que estava acontecendo, mas Rogerina sabia exatamente o que estava fazendo.
Querendo ou não, ela estava fazendo o que deveria fazer.
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Blue Eyes • Fem¡Maylor
FanfictionBrianne May já estava cansada de ser perturbada por Rogerina todos os dias, então decide mostrar que merece ser tratada como qualquer outra pessoa do colegial indo em uma das festas, apenas não esperava que a maldita garrafa apontasse para Rogerina...