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   Durante a aula de química, os olhos azuis de Rogerina só focavam em uma única pessoa.

   A maldita Brianne Harold May.

   Desde o começo do ano, zoar com ela era divertido, Rogerina simplesmente não se importava com os sentimentos de Brianne, e todo lugar precisava de um bom divertimento.

   O problema foi depois da festa, ela não esperava ver Brianne ali, aquela era a última pessoa no mundo que Rogerina imaginava em uma festa. Ainda mais quando ela apareceu tão bonita, o vestido vermelho ressaltando o que tinha de melhor em seu corpo, seus cabelos cacheados volumosos, os belos lábios cobertos de vermelho, os olhos verdes brilhantes...

   Ela não esperava beijar aquela "musa", também era uma das últimas pessoas que ela imaginaria em beijar, não esperava que aquele beijo fosse tão bom, e também não esperava ficar mais alguns minutos da madrugada pensando naquela garota ao invés de dormir.

   No dia após a festa, ela se incomodou ao ver as pessoas tirando sarro de Brianne por causa do beijo, aquilo nunca tinha acontecido antes, até achou injusto as pessoas pegarem pesado apenas com Brianne sendo que as duas se beijaram. Ela não deixou ninguém mexer com Brianne naquele dia, e por mais estranho que aquilo soasse, se sentiu bem com aquilo.

   Depois da escola, ela passou o resto da noite trancada em seu quarto, tocando sua bateria. Poucas pessoas sabiam desse hobbie, mas Rogerina tocava quando estava estressada ou quando queria colocar alguma coisa para fora, a sua cabeça funcionar somente para pensar naqueles lindos cachos a deixava estressada.

   — Rogerina Meddows-Taylor é quase meia noite, se você não parar de tocar essa bateria você vai se arrepender! — Ela ouviu a voz de sua mãe gritando do andar de baixo.

   — Tá legal, eu vou dormir!

   Ela colocou as baquetas em cima da mesa, tirando a roupa e deitando-se apenas de camiseta e calcinha, se enterrando embaixo dos cobertores, fechando os olhos e tentando relaxar.

   Sonhou que estava em um quarto grande e bem arrumado, Brianne estava sentada em cima de uma cama enorme, usando uma grande camiseta branca apenas. Rogerina não se recordava de muita coisa do sonho, só lembrava de ficar no colo de Brianne, sentindo suas mãos acariciarem seus cabelos.

   As coisas estavam tão estranhas que as duas sonharam uma com a outra na mesma madrugada.

   E graças aos sonhos, Rogerina perdeu a hora e saiu correndo como uma idiota até a escola, não decidiu de forma consciente que queria parar de tratar Brianne daquela forma, aquilo apenas aconteceu, para a loira, estava sendo um processo natural, ela não esperava que Brianne fosse estranhar tanto.

   Enquanto a mesma pegava o exercício com Mark, Rogerina olhou para o pirulito que ela havia deixado em cima da bancada e riu de si mesma, o que ela estava fazendo? Ela só precisava parar de maltratar Brianne, não precisava de agrados ou gentilezas, estava fazendo até mais do que deveria, e também não deveria se importar se ela aceitasse ou não.

   Por que estava agindo daquela maneira com aquela garota?

   — Olha nós temos que...

   — Eu já falei que você vai fazer sozinha. — Rogerina respondeu curta e grossa, desviando novamente o olhar.
  
   — Tudo bem então...

   Enquanto Brianne fazia vários experimentos, como esquentar ou esfriar sulfato de cobre, Rogerina só conseguia olhar para a "cientista", o jeito que ela manipulava os instrumentos, a concentração que ela tinha durante os experimentos ou enquanto ela fazia as anotações, a expressão dela, seus olhos focados e vibrantes...

   Rogerina não percebeu que pensava constantemente em Brianne desde o primeiro dia de aula.

   Afinal, por que detestava Brianne ao ponto de fazer aquelas coisas com ela?

   Ela realmente detestava Brianne?

   — Acabei. — Ela deixou o caderno na bancada e se espreguiçou, olhando para o pirulito que Rogerina havia deixado. — Bom, eu vou aceitar o seu docinho.

   Rogerina sorriu de canto, mas não disse nada, era estranho não ter o controle sobre suas próprias ações, então ela não iria fazer nenhuma besteira se não fizesse nada.

   Aquilo não fazia sentido nenhum.

   Nada do que ela estava pensando fazia sentido.

   Sua cabeça estava no lugar?

   — Não se acostume com isso. — Ela tentou fechar a cara e desviar para outro canto, as vozes na sua cabeça estavam divididas em duas.

   "Para de ser idiota!"

   "Olha pra ela."

   "Para de querer olhar pra ela."

   "Você não quer conversar com ela? Converse!"

   "Pare de querer conversar com ela!"

   "Você gostou dela."

   "Você não gostou dela!"
  
   "Quer repetir aquele beijo?"

   "Finge que o beijo nunca aconteceu."

   "Quem se importa com o jeito dela, ela é adorável, e bonita."

   "Você tem certeza que quer ser vista com isso aí?"

   — Calem a boca. — ela sussurrou.

   — Mas eu estou quieta... — Brianne abaixou a cabeça.

   Como ela era adorável!

   — Não é você, eu nem estou falando com você, isso é irritante sabia? Alguém aumenta o tom de voz com você e você já abaixa a cabeça pra chorar. — "Você está fazendo tudo errado!". — Ninguém aguenta gente assim.

   — Parece que a Rogerina voltou ao normal... — Ela continuou com a cabeça abaixada, o pirulito de cereja até perdeu o sabor.

   — Eu falei pra você não se acostumar, acha mesmo que eu iria começar a ser legal com você só por causa de um beijo em um jogo? Você beijar bem não iria mudar na...

   Ela percebeu que tinha falado um pouquinho demais, e outras pessoas da sala olharam para elas, esperando que uma das duas desse uma resposta.

   — Você disse que eu beijo bem? — Brianne arregalou os olhos, sentindo o rosto queimar.

   — Não, não disse, e vocês estão olhando o que? — Quase que na mesma hora, todos desviaram o olhar e voltaram a fazer o seu dever. — Apenas esquece que isso aconteceu e não crie expectativas, só estou aqui porque a Patricia faltou.

   Ela olhou de canto para Brianne, ela parecia estar magoada.

   E realmente estava, ela tinha esperanças de Rogerina estar começando a ser mais gentil com ela.

   — Tudo bem... Eu só estou curiosa sobre uma coisa, espero que você não fique brava comigo se eu...

   — Fala de uma vez, eu já falei que isso é irritante pra caralho! — Ela respirou fundo.

   "Você está fazendo tudo errado! Peça desculpas pra ela."

   "Se afasta dela antes de falar mais besteira!"

   — Desculpe... Fala logo.

   — O que você achou do beijo? Eu só... Estou curiosa. — Novamente, Brianne abaixou a cabeça.

   Pela primeira vez em toda a sua vida, Rogerina não soube o que falar.

Blue Eyes • Fem¡MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora