Placenta prévia, foi o que o médico que nos atendeu na emergência diagnosticou. Algo que acontecia em 0.5% das gestantes, aconteceu justamente comigo. Acho que nunca vou conseguir colocar em palavras o desespero que senti quando pensei que estava perdendo meu bebê, saímos totalmente apressados da lanchonete e fomos para o hospitalar mais próximo. Após fazer os primeiros exames o médico de plantão me fez uma série de perguntas.
-Quando ocorreu o sangramento?
-Hoje um pouco antes de eu vir para cá.
-Ele ocorreu mais de uma vez?
-Não.
-Qual a intensidade do sangramento?
-Foi… mediano.
-Ele é acompanhado de dor ou contrações?
-Eu senti uma cólica fraca uns minutos antes de perceber o sangramento.
-Você já fez cirurgias uterinas, cesárea, remoção de miomas ou dilatação e curetagem?
Foi nessa hora que senti meu sangue gelar. Eu ainda não havia contado a eles sobre minha primeira gravidez, a qual Michael me torturou até que eu sofresse um aborto. Me aninho mais aos braços de Adam, que permaneceu ao me lado desde que demos entrada no hospital, e tomo coragem para falar.
-Curetagem, uma vez, há alguns anos. - Sinto o olhar dos dois sobre mim mas evito encara-los e me foco unicamente no médico.
-Hm… Olha, não se sabe exatamente o que causa a placenta prévia. Mas geralmente é mais comum em casos que a pessoa já fez alguma cirurgia envolvendo o útero, como a curetagem. Felizmente sua placenta prévia não é completa então você ainda pode ter um parto normal e não precisará ficar internada visto que seu sangramento não foi muito abundante mas recomendo repouso e que você vá ver seu obstetra o mais rápido possível.
Horas mais tarde, depois de termos feitos vários exames a mais e constatado que estava tudo bem com o bebê, estávamos novamente na estrada em meio a um silencio quase que mortal que havia iniciado logo que saímos do hospital.
-Por que você não nos contou que já tinha tido uma gravidez anterior? - Electra pergunta diretamente alguns minutos depois.
-Esse fato, é algo que eu prefiro não lembrar. Eu coloquei essa memória num canto escuro da minha mente, uma área que eu não gosto muito de visitar.
-Quando foi que aconteceu? - Adam pergunta sem tirar os olhos da estrada.
-Eu tinha quatorze anos. - Do ângulo que estou consigo ver seu maxilar trincar e ele apertar com força o volante - Eu tive uma forte inflamação na garganta e precisei tomar antibióticos naquela época eu não fazia a mínima ideia que alguns deles cortavam o efeito do anticoncepcional. Após algumas semanas passando mal Michael desconfiou e quando recebeu a confirmação do médico dele me trancou no porão sem água e sem comida. Ele me acusou de ser irresponsável e de não tomar o remédio corretamente como ele exigia e que por causa disso ele ia tirar a 'coisa' dentro de mim da pior maneira possível, ele realmente fez isso. Durante todos os dois ou três dias que passei lá ele entrava principalmente para me espancar, sempre concentrando os chutes na minha barriga. Quando ele não me batia ele abusava de mim da maneira mais bruta que ele conseguia com o único objetivo de me machucar. - As lágrimas caem tanto pelo meu rosto quanto pelo de Electra que me olha de seu lugar no banco do carona, Adam por sua vez continua focado na estrada - Por fim ele conseguiu que eu abortasse e após cuidarem dos meus ferimentos e me alimentarem fiz a curetagem para a retirada dos restos do aborto. Sem qualquer anestesia, para que segundo o Michael "eu nunca mais esquecesse de tomar meus remédios".
Neste momento Adam devia o carro da estrada e para no acostamento, sem mais nem menos ele sai batendo a porta com força, o que faz eu e Electra darmos um pulo de susto. Ele chuta a areia do chão com raiva e da um soco no capô do carro, Electra faz menção de sair mas faço um sinal com a mão para ela ficar e abro a porta do carro e vou ao encontro dele.
- Adam…
-Volta pro carro Ashley, eu já estou indo. - Ele responde de costas afastado agora alguns metros de mim.
-Qual o problema? Me fala… - Me aproximo lentamente dele e passo minhas mãos belos seus braços e o obrigo a ficar de frente para mim, lágrimas caem de seus olhos no momento que ele me encara - Adam o que…
Ele nem deixa eu terminar a frase e me puxa para uma abraço apertado.
-Como ele pode fazer isso com você? Você era só uma criança droga!
-Tá tudo bem Adam, isso já passou…
-Não tem nada bem Ash, eu não consigo suportar imaginar você naquelas condições. Tudo o que você passou na mão daquele monstro… e eu totalmente cego a tudo que acontecia com você. Como eu não pude perceber?
- Adam não tinha como você saber naquela época. Tínhamos acabado de nos conhecer e mal trocávamos um 'oi' até alguns meses atrás.
-Mas…
-Mas existe uma 'mais' nessa questão, você não pode se culpar por não ter feito algo que você não tinha a menos chance de conseguir realizar. E mesmo assim olha o que você fez por mim esse tempo todo. Arriscou sua vida para salvar a minha e a do bebê, eu devo muito a você Adam. Essa dívida é infinitamente grande.
Ele me aperta mais e distribuí diversos beijos pelo meu rosto.
-Desculpa por ter surtado. Eu não sei administrar bem o sofrimento das pessoas que eu amo.
-Sem problemas.
Após todos se acalmaram voltamos a estrada e passo o resto do caminho passando no fato que Adam havia falado indiretamente que me amava.
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A GAROTA POR TRÁS DA MÁSCARA - LIVRO UM (ÚLTIMOS CAPÍTULOS)
RomanceLivro Um da Série Todas As Coisas Do Amor Apesar de ser uma série as histórias são independentes e podem ser lidas fora de ordem. ----- Quão erroneamente nós podemos julgar alguém a primeira vista? Pelos olhos das outras pessoas a vida de Ashley pa...