"Oh love they don't love you like a love you...
slow down they don't love you like I love you...
Era um finalzinho de tarde e eu estava passando meu chá cantarolando uma das minhas músicas preferidas de beyoncé quando minha campainha tocou- TO INDOOO - abro a porta e me deparo com uma moça de cabelos castanhos e aparência familiar ia tentando me lembrar de onde a conheço e provavelmente devia estar parecendo completamente estúpida e mal e educada por não ter dito nem mesmo um oi
- Oi? É que deixaram a sua correspondência no meu apartamento - apontou pra porta em frente à minha - eu até tentei colocar por debaixo da sua porta mas parece que tinha alguma coisa tapando então eu...
- tu não respira pra falar não? - me olhou com um sorriso sem graça
- pelo que dizem, geralmente não... - riu
- vitória falcão, prazer, mas você já deve saber pela correspondência e a sua graça? - é a vizinha da frente! eu quase nunca a vejo por aqui, acho que não anda muito em casa... e o que você tem a ver com isso vitória? Se controla
- Ana clara, Ana Caetano ou só Ana - me ofereceu a mão no automático, por educação. Eu nunca gostei de apertos de mão, me lembra negócios, gente fria, formalidade... a puxei pra um abraço rápido e ela me soltou tímida, seu cabelo tinha cheiro de limão, eu gosto de limão...
- carece ter vergonha não, sóAna a gente é tudo vizinha respira tudo o mesmo ar - ela sorriu sem graça - você gosta de chá?
- chá? - Ana clara me olhou com uma cara esquisita, que tipo de pessoa pergunta se você gosta de chá ás 19:37 da noite?
- é, chá! Eu acabei de fazer, não quer entrar pra tomar uma xícara não?
- é que eu ia jantar agorinha, só passei pra entregar a correspondência mesmo... quem sabe uma próxima vez né
- é uma pena, então. obrigada por entregar minha correspondência, naclara. Agora que eu já sei de quem é a voz que canta Mallu Magalhães em altos volumes já posso te pedir quem sabe uma xícara de farinha de trigo emprestada. - ela gargalhou
- meu Deus dá pra ouvir? - riu - eu não sabia que tava tão alto. Eu amo mallu, bicho é uma das minhas cantoras preferidas - eu vi os olhos castanhos brilharem
- e o que mais?
- o que mais o quê? - riu
- o que mais tu gosta de ouvir ué, mas não me responde agora, vamo entrando que as minha pernas estão exaustas de me levar pra todo lugar - a puxei pra dentro antes que tivesse escolha - Ana clara me olhou com uma grande interrogação no rosto - é sério, fica! eu peço um uber pra você depois - riu alto - eu realmente sempre quis saber quem morava por trás daquela porta
- e por que nunca tocou a campainha? "a gente é tudo vizinha respira tudo o mesmo ar" - riu em deboche
- DEUS QUE ME LIVRE! Vai que você era um serial killer com a voz bonita e que gosta de ouvir mallu?
- tá mas o que te garante que eu não sou uma serial killer com a voz bonita (ah obrigada) e que está sentada nesse momento na sala do seu apartamento? - gargalhei e ela riu também
- impossível você ser uma serial killer agora que eu já te conheci
- mas você só me conhece há - olhou pro relógio no pulso - 10 minutos?
- mas nem nos melhores contos policiais uma serial killer tem o cabelo cheirando a limão!- touché - fingiu estar abalada
- vou buscar o chá - enquanto eu colocava o chá nas xícaras vermelho cor de sangue que foram um presente da minha mãe, conseguia ver da bancada americana Ana clara olhando em volta com curiosidade. Não que meu apartamento seja um exemplo de decoração e estilo mas acho que ele tem a minha cara e isso o torna especial. - eu até te serviria um pouco de açúcar mas eu não tenho, bebe com cuidado que ainda tá quente.
- você quer que eu vá buscar uma xícara pra você? - olhei confusa
- de quê menina eu já não tô com a xícara aqui?
- de açúcar, vitória! Vou buscar uma xícara de açúcar pra você lá em casa e...
- não precisa, só se você quiser colocar no seu chá. eu bebo tudinho sem açúcar, café, suco, chá... - me olhou como se fosse um absurdo
- você é diabética? - neguei com a cabeça - é sério? - assenti com a cabeça - credo
menina, qual a graça de tomar um chá sem açúcar?- saborear o chá, ué. Não é pra ser doce é pra ser chá! peguei esse hábito de não colocar açúcar na bebida com o meu pai, painho desde pequena me acostumou assim e desde então eu sou isso aqui
- entendi - levou a xícara até a boca e fez uma careta - isso precisa de açúcar MESMO, eu vou buscar - saiu em direção ao próprio apartamento
- você foi cortar a cana também ou só refinar o melaço? - perguntei em tom divertido
- hahaha engraçadinha, é que eu não tava achando o pacote no armário e o que tinha no pote acabou - mostrou o pacote
- você vai tomar chá ou fazer um bolo? Porque se for fazer bolo eu já te aviso que minha batedeira está quebrada
- pra quem me conheceu agora você é bastante piadista né
- é um charme natural que sai de mim como ferormônio - gargalhamos
- tu é uma figura menina - disse rindo
- pode pintar então - acho que pensei alto demais
- quê?
- eu disse que o seu chá já deve estar gelado - ainda bem que eu aprendi a improvisar nas aulas de teatro
- ah, eu não ligo não - assenti - onde ele mora?
- ele quem mulher? Só tem eu e você aqui
- o seu pai, sua besta, onde ele mora, aqui em São Paulo mesmo? - me olhou atenta esperando a resposta
- ah! Não, painho mora longe ou perto dependendo do que você acredita, eu prefiro acreditar que ele tá pertinho de mim toda vez que eu to com as minhas irmãs
- eu sinto muito, vi. eu não imaginava me desculpa ter per...
- tá tudo bem, mulher! Se preocupe não, não fico mais triste não, na verdade eu fico tranquila porque eu sei que ele tá bem - pensei em painho e em toda saudade que eu tenho dele, meu veinho me ensinou quase tudo que eu sei, até mesmo sobre quem eu sou
- eu não tenho dúvidas. então... eu acho que já vou indo, a correspondência tá entregue, não fiz a desfeita do chá... - rimos - qualquer dia desses eu te chamo pra pedir uma xícara de - cof, cof - mato emprestado
- mas tu é besta viu naclara? "pra quem me conheceu agora você é bastante piadista né" - gargalhou - fique a vontade para saborear meu maravilhoso chá sempre que quiser
- qualquer dia marcamos, tchau vi, foi um prazer - acenou um tchauzinho enquanto abria a própria porta
- você não tranca a porta quando sai, não?
- eu não pretendia demorar - riu - boa noite, moça do chá
- boa noite fã da mallu, téloguinho - ela ia fechando a porta quando eu gritei - ANA ESPERA! você esqueceu seu açúcar!
- eu não esqueci, foi um presente, experimente adoçar a vida, é bom também! - fechou a porta e eu fechei a minha.
Olhei no relógio em minha parede e eram exatas 20:30 como assim a gente levou uma hora conversando? E Ana disse que estava prestes a jantar e eu só ofereci chá, COMO VOCÊ É BURRA EIN VITÓRIA? E como essa mulher é linda... um linda diferente, um linda que é leve. Um leve que dá vontade de levar na garupa da minha bicicleta. Então Ana clara, por que eu demorei tanto pra te conhecer?
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Bem-me-leve
RomanceUma história sobre o amor, em sua face mais leve Vitória é uma jornalista recém formada que ama o que faz, Ana trabalha numa empresa de logística embora seu sonho de infância é ser artista, elas têm suas histórias cruzadas desde antes de se darem co...