Singularity | Taekook

Amigo

Talvez seja uma providência do universo. Tinha que ser assim

Serendipity, Jimin

Fevereiro de 2016, Busan

Taehyung observou pelo canto do olho quando o garoto baixinho entrou na sala mais uma vez, emburrado como sempre. Ele sentou-se na última cadeira da fila, deitando a cabeça nos braços apoiados na mesa. De vez em quando, Tae podia ouvir sons estranhos vindo do garoto que balançava os pés desajeitadamente.

Não pôde deixar de notar quão fofo ele era, ao mesmo tempo que era estanho. Apesar de sua aparência delicada, de cabelos loiros bem penteados e roupas de marca, ele não havia feito amizade com ninguém na sala e nem na escola inteira, parecia sempre estar emburrado e, sempre que se passavam alguns minutos de espera para a aula começar, o garoto tirava alguma bebida da bolsa. Suco, refrigerante ou leite, ele estava sempre bebendo algo.

E o brilho em seus olhos, sempre que estava com o canudo na boca, não passou despercebido por Taehyung. Era estranho, mas, de certa forma, era único. Tae estava disposto a falar com ele, por mais que tivesse medo de ser ignorado pelo baixinho de pele pálida, pois parecia que era isso que ele faria a qualquer um que atrevesse se aproximar. A verdade era que Taehyung se sentia sozinho desde que o ano começou, sem seu melhor amigo consigo e, apesar de Jungkook ainda estudar na mesma sala... jamais seria a mesma coisa.

⸺ Bom dia, turma! ⸺ A Sra. Choi entrou na sala, sorridente como sempre, carregando uma pilha de papéis. ⸺ Quem está a fim de pintar hoje?

Os alunos bufaram em insatisfação. Todos pensaram que o segundo ano do ensino médio seria um avanço em suas vidas, mas eles continuavam pintando e escrevendo redações.

⸺  Vamos lá, formem duplas! ⸺ A professora de artes começou a organizar os papéis para distribuir e Taehyung sorriu, tendo uma ideia brilhante. Não importava se Jeon Jungkook já estava com uma garota como dupla, ele iria até o garoto novo tentar a sorte.

Levantou-se, caminhando a passos lentos até o garoto que observava seu caderno com desinteresse. Ele não podia negar que achava seus cabelos loiros descolados e que sentia vontade de bagunçá-los. Eles pareciam extremamente sedosos. Parou à frente do garoto e puxou uma das cadeiras vazias para perto dele, chamando sua atenção. Assim que seus olhos se encontraram, Taehyung soube que queria ser amigo daquele adolescente emburrado. Soube, naquele momento, que precisava lhe arrancar um sorriso e que queria, mais do que tudo, bagunçar os seus fios de seus cabelos perfeitos.

[...]

Escola. O maior mal de todos os males.

Era torturante simplesmente pôr os pés pelo grande piso desgastado, ouvir o barulho das portas rangendo, sentir o fedor de suor matinal dos adolescentes. Se a sua antiga escola era um terror... não havia comparação digna a se fazer com a atual. Simplesmente insuportável.

Trancou-se no banheiro mais uma vez, assim que conseguiu desviar das pessoas nos corredores cheios, o que não foi tão difícil, dado que era um garoto baixinho e sem amigos. Ninguém o notaria ali. Era um absurdo ser obrigado a estudar em uma escola tão distante de sua casa, só porque se envolveu em uma briga na antiga escola. Era um absurdo ter sido abandonado por seus antigos colegas, que nem mesmo lhe mandavam mensagens.

A verdade era que não exista isso de amizade verdadeira. E depois de tantas mágoas, em seus quase 17 anos de vida... Park Jimin sabia muito bem que tudo não passava de uma ilusão. O amor era uma ilusão, fosse ele maternal, entre amigos ou namorados. Nada era real.