Jungkook

1K 113 24
                                    

Dias em que você odeia ser você. Dias em que você quer desaparecer

Magic Shop, BTS

2018, Seul


Abri a porta, sentindo o sol quente sobre a pele enquanto levava a grande bolsa de lixo para fora. O dia estava tão quente quanto eu me lembrava ser possível, as pessoas até caminhavam sem os casacos matinais do fim do inverno. Respirei fundo, pensando em como as coisas estavam diferentes do que eu havia imaginado durante tanto tempo.

Toda agitação que eu pensava que sentiria, a tensão, a pressão, o desespero; não havia nada. Uma quietude pairava sobre a casa vazia, desde o momento em que minha mãe desapareceu pelas escadas e não voltou a aparecer, até o dado momento. Naquela manhã de sábado ensolarado, encontrei um bilhete sobre a mesa da cozinha, deixado pela minha mãe, provavelmente antes de desaparecer, seja para onde fosse. O bilhete dizia:

Limpe a casa. Jogue o lixo. Lave a louça. Reabasteça a despensa. Organize os currículos que estão em minha mesa em ordem alfabética. Lave a garagem. Apare a grama. Molhe as plantas. E cozinhe se não quiser morrer de fome.

Um sorriso brotou em meus lábios, contrariando toda lógica que eu poderia encontrar em mim mesmo. Jeon Soyeon era uma mulher dura e vezes insensível, que possuía uma forma diferente de expressar o que sentia. Aquele bilhete era a prova viva de que ela se preocupava comigo, à sua forma estranha e inconvencional de ser.

Entrei em casa novamente. A luz do sol entrava pelas frestas da janela, iluminando o chão de madeira com várias listras douradas brilhantes, alguns pássaros cantavam lá fora, uma música calma tocava em uma das casas próximas, minha trilha sonora. Era como se o dia estivesse colaborando, de alguma forma muito sobrenatural.

A noite estava prestes a cair quando todos os itens da lista estavam terminados. A casa continuava vazia, o silêncio duradouro e não muito mais reconfortante. Eu pensava se Taehyung atenderia se eu o ligasse, se ele ainda sentia a raiva e a tristeza que vi em seus olhos quando fugi pela última vez. Porque eu jamais fugiria de novo.

Segurei o celular em mãos, depois de ignorá-lo durante todo o dia. Respirei fundo e afundei o corpo no sofá como se assim conseguisse reunir coragem o suficiente para ligar para Taehyung e lhe contar tudo. Ele ficaria feliz? Ele desligaria na minha cara? Ele sequer atenderia a ligação?

Não pude pensar em todas as possibilidades que dançavam em minha mente pois o som da campainha soou pela casa, me assustando. Deixei o celular no sofá antes de abrir a porta, ansioso.

⸺ Chaeyeon? ⸺ Abri bem os olhos, surpreso. ⸺ O que... está fazendo aqui?

A expressão em seu rosto era uma bagunça de raiva, aflição e tristeza, como se alguém tivesse esfregado-lhe todas aquelas emoções sem pena. Vê-la daquela forma tão exposta me fez lembrar que eu precisava acabar com o que quer que houvesse entre nós, mesmo que não fosse oficial. Ela merecia isso de mim, no mínimo.

⸺ Você fez mesmo isso? ⸺ Perguntou, em um fio de voz.

⸺ O que? ⸺ Rebati, confuso.

⸺ Você fez? ⸺ Ela repetiu.

⸺ Do que está falando? ⸺ Eu sabia que a confusão era evidente em meu rosto.

⸺ De você ter se assumido gay, Jungkook.

⸺ Eu... O que...

⸺ Um dos amigos do Soyoun saiu espalhando isso pra todo mundo ⸺ disse, quando não fui capaz de pronunciar qualquer palavra. ⸺ Ele é seu vizinho não é?

Singularity | TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora