Taehyung

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Você vai ficar ao meu lado? Vai me prometer?

Butterfly, BTS





2018, Seul

O som dos bips contínuos dos aparelhos eletrônicos nos quartos do hospital eram o fundo musical que embalava o olhar triste de Park Jimin, perdido em pensamentos, em sentimentos e talvez até mesmo em arrependimento. Seu corpo estava sentado em um dos bancos de espera no corredor, curvado para frente como se não suportasse o próprio peso, mas eu duvidava que ele estivesse ali, de fato.

Ele manteve-se em silêncio a partir do momento que desligou a ligação repentina que recebera algumas horas atrás e anunciara em uma voz quebrada que sua mãe estava na UTI. Durante toda viajem até o hospital, no carro do Hoseok, ele chorou em meu ombro, soluçando violentamente, murmurando palavras desconexas. Jungkook, Hobi e eu não abrimos a boca em momento algum. Eles ficaram na recepção quando atravessamos o saguão e a atendente disse que apenas mais duas pessoas podiam subir para a ala vermelha, então eu o acompanhei, amparando-o como podia.

Ele dispensou a governanta Choi ⸺ que trabalhava para sua mãe há muitos anos ⸺ com algumas palavras, depois que ela explicou-lhe toda situação. Ela mostrou objeção em ir embora, mas acabou cedendo e deixando o hospital com uma expressão entristecida.

A tensão no ar era densa e pesada, as ordens gritadas dos médicos reverberavam pelo corredor, o barulho dos aparelhos era angustiante. Uma senhora passou por nós, assim que nos sentamos para esperar, chorando copiosamente e pedindo para que trouxessem sua filha de volta. Jimin então limpou as próprias lágrimas, como se engolisse todo desespero dentro de si. A cor deixou seu rosto, o brilho natural que ele possuía deixou seus olhos. Foi como se ele obrigasse a si mesmo a aceitar o que viria a seguir, mesmo que nenhum de nós soubesse o que o destino preparara.

A porta dupla do quarto 201 foi aberta, o médico saiu caminhando devagar, dois enfermeiros o acompanhando. Jimin pôs-se de pé num pulo, os olhos arregalados.

⸺ Você é Park Jimin? ⸺ Ele olhou por cima de seus óculos de grau, o som da voz abafado pela máscara branca que usava.

⸺ Sim, sou eu.

⸺ Sua mãe acordou, está descansando do susto que nos deu ⸺ ele visivelmente quis amenizar a tensão que meu amigo sentia. ⸺ Pode ir vê-la. A enfermeira Seo estará lá caso precise de alguma coisa. Voltarei em alguns minutos.

Jimin balançou a cabeça afirmativamente, segurou minha mão e puxou-me para dentro do quarto e o médico não fez objeção alguma.

A enfermeira Seo, que trocava uma bolsa de soro, fez uma reverência quando nos aproximamos, terminando seu trabalho antes de anunciar que estaria no lado de fora, para nos dar mais privacidade por um momento. Jimin sequer pareceu ouvi-la. Ele caminhou até a beira da cama onde sua mãe repousava de olhos fechados, sentou devagar na ponta do colchão e observou-a, sem nunca soltar minha mão. Minutos inteiros se passaram no mesmo silêncio, o som dos bips e do ventilador pulmonar eram os únicos barulhos a serem ouvidos. Jimin abriu a boca para falar alguma coisa mas nada saiu, ele a fechou e abriu novamente, mais uma vez e ainda outra antes de começar a chorar. Seus soluços baixinhos fizeram os olhos de sua mãe abrirem-se, inundarem-se de surpresa e descrença.

⸺ Ji...Min ⸺ Ela disse, a voz cansada de alguém que havia sofrido um ataque cardíaco. Ele enxugou as lágrimas rapidamente.

⸺ Oi... ⸺ respondeu hesitante, ponderando a próxima palavra. ⸺ Mãe...

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