two. liar

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Mentiroso. — Foi a palavra usada por Tony para definir Steve. Isso sem contar todas as coisas que jogara em sua cara de uma única vez, é claro.

Aquelas palavras ainda ressoavam pela mente de Steve. Mesmo depois do baque que fora ir até o planeta onde Thanos estava e encontrá-lo sem as jóias, o sentimento de culpa que o acompanhara durante todos os anos desde o conflito entre os Vingadores — e que apenas se intensificara com a volta de Stark — parecia não deixá-lo em paz de forma alguma.

— Eu disse que nós perderíamos, e você disse que o faríamos juntos. Nós perdemos, Steve, e você não estava lá. — Tony também dissera. — Adivinhe, Margo precisou de você por inúmeras vezes, e nunca esteve lá.

Tony?! — Todos os olhares da sala viraram-se para Margo Alessio, que estava recostada na porta.

— Você não deveria estar de pé, Margo. — Steve balançou a cabeça.

Agora você se importa? Depois de tantos anos, você se importa? — Tony aproximou-se de Steve, enquanto Natasha tentava convencer Margo à voltar para a enfermaria, por mais que a morena se recusasse. — Você sabia que ela quase incendiou o prédio dela depois que você foi embora?! Sabia que os poderes dela nos levaram até uma realidade onde você, Steve, finalmente parecia realmente se importar com-

TONY! — Margo gritou, o repreendendo. Tony a encarou por alguns segundos, só então parecendo se dar conta dos absurdos que havia dito. Já Steve alternava os olhares entre os dois, mas parecia tomado por uma preocupação e culpa insuperável. — Você pode dizer qualquer coisa para tentar demonstrar a sua raiva, o seu ódio, mas não me use como um exemplo dos seus joguinhos. Porque eu também precisei de você inúmeras vezes, e a única coisa que sabia fazer era me afastar de você como se eu não significasse nada. E ainda assim, eu arrisquei a droga da minha vida para tentar te ajudar quando entrei naquela nave.

— Talvez não devesse ter tentado ser tão prestativa, Margo. Porque, se você não estivesse lá, talvez não tivesse quase nos matado!

Tony. — Foi a vez de Natasha chamá-lo, repreendendo-o.

O quê?! Vocês tem certeza de que somos os Vingadores?! Vingadores, e não os Precavidos?! — Tony colocou-se mais próximo de Steve. Rhodes tentou puxá-lo de volta para a cadeira de rodas mas, mesmo fraco, Tony ainda conseguiu desvencilhar-se. — Então, Capitão, eu não tenho absolutamente nada para você! Sem planos, cordenadas, opções, nada!

Stark tirou o reator Arc de seu peito, entregando-o à Steve.

— Você fica com isso. — Ele disse. — Você o esconde, usa para encontrá-lo. Eu não ligo.

Tony caiu, apoiando-se na mesa para não ir ao chão.

— Tony! — Margo fez a menção de ir até ele, mas Natasha a impediu. Assim como Stark, a morena mal conseguia manter-se de pé sem segurar-se em qualquer lugar para não cair.

— Eu estou bem! — Ele exclamou, antes que qualquer um pudesse tocá-lo. Mas não demorou muito mais do que um segundo para que ele apagasse, caindo no chão.

— Não! Eu quero ajudá-lo. — Margo choramingou, tentando desvencilhar-se dos braços de Natasha.

Enquanto Danvers e Rhodes levavam Tony às pressas para a enfermaria, Steve apressou-se em ir na direção de Natasha e Margo. Calmamente, ele envolveu a morena com os braços, a mantendo de pé.

— Eu não queria machucar ninguém, Steve. — Alessio chorou, tentando chegar até Tony. Mas era óbvio que sua força não seria nada, comparada com a de Steve. — Eu juro que eu não queria.

— Natasha, leve-a para o quarto, por favor. — Foi a única coisa que ele disse. Sua voz era pesada, quase sem vida.

Natasha levou Margo ao quarto, e não demorou muito para que Steve aparecesse.

— Eu sinto muito. — Ele murmurou, ao entrar. Apesar de ter assentido, ela não o olhava. — Por sumir, por nunca dar notícias, por não contar a verdade sobre você, por tudo.

— Tudo bem.

— Não está tudo bem, Margo, e isso está estampado na sua cara. — Rogers sentou-se ao seu lado na maca.

— Eu só estou pensando demais. Aliás, é algo que eu deveria fazer sempre. — Margo balançou a cabeça. — Quem sabe, talvez, as coisas não dessem tão errado.

— Não entendo o que quer dizer com isso.

— Eu acho que isso não vai dar certo, Steve. Aliás, absolutamente nada disso dá certo para mim. Todo o mundo de heróis, vilões, missões e qualquer coisa relacionada, eu não nasci para isso.

— E não tem problema algum nisso.

— Sim, tem! Porque eu tentei fazer funcionar, e a única coisa que consegui até hoje foi chegar perto de estragar tudo. Tony não estava errado quando disse que eu cheguei muito perto de nos matar.

— Mas você nunca fez nada de propósito, Margo! Nunca fez por mal. — Steve pegou a mão trêmula da morena e beijou o dorso da mesma. — Eu não quero que você se afaste por algo que não é sua culpa, certo?

Inesperadamente, ela o puxou para um longo abraço, como se não quisesse soltá-lo. Quando se afastou, seus rostos estavam próximos. Próximos demais.

— Não faça algo apenas para desaparecer depois novamente, por favor. — Ela pediu, quase em um sussurro.

— Não vou.

O toque inicial dos lábios foi lento. Ainda assim, não lento o suficiente para incomodá-los. Depois de esperar tantos anos para que aquilo acontecesse  não havia pressa alguma ali — mesmo que aquela não fosse uma das melhores situações. Rogers colocou uma mão na nuca de Margo, sentindo a pele da morena arrepiar-se ao puxá-la para mais perto. O beijo manteve-se calmo e lento, mas aprofundou-se em questão de segundos. E apenas a falta de ar foi capaz de fazê-los parar.

— Achei que isso aconteceria em circunstâncias mais românticas. — Ela brincou, ainda ofegante. Steve soltou uma risada, antes de se levantar, um tanto desajeitado.

— Prometo compensar assim que possível. — Ele ergueu uma sobrancelha, não contendo um sorriso ao vê-la rir. — Tenho que ver como Tony está, certo? Volto assim que possível.

— Não precisa passar o dia inteiro comigo, Steve. — Ela balançou a cabeça.— Aposto que você tem muito a fazer, além de ser minha babá.

— Tem razão, não vou passar o dia com você. — Ele deu de ombros. — Porque vou ficar pela noite também.

— Você é inacreditável.

— Quando eu disse que prometia compensar, não me referia apenas ao beijo, Margo. — Steve suspirou. — Perdemos tempo demais, sobre tudo. É o tipo de erro que não quero voltar a acontecer. Já perdi muita coisa por conta do tempo.

Rogers se aproximou da morena mais uma vez e lhe deu um beijo na testa, como o que já era usual, antes de murmurar um "até logo" e sair do quarto.

Ao sair, respirou fundo. Apesar de toda a bagunça acontecendo no mundo — e no universo inteiro —, Margo ainda conseguia fazê-lo sorrir.

Anos antes, ele havia sido o seu ponto de paz. Agora, após o estalo de Thanos, parecia que era a vez de Margo Alessio de confortar o coração despedaçado de Steve Rogers.

a/n. hm kk chorei escrevendo esse capítulo

alessio ── endgameOnde histórias criam vida. Descubra agora