•Capítulo XVI•

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"Onde não há amor, não há dor"
Jisoo

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      – Quando eu era mais nova – Começou. - eu sempre quis ser igual ao meu pai, governar às terras e ser o braço direito do rei. Mas meu pai dizia que isso era coisa para homens. Ele me amava, mas sempre se zangava quando eu falava que queria ser igual a ele. – Jennie ficou atenta à cada palavra de Jisoo. – Quando ele faleceu, o rei não tinha outra escolha a não ser colocar eu no lugar de meu pai, já que eu era a sua única primogênita. Então os homens começaram a discutir sobre ter uma governadora. Achavam deplorável uma mulher vigiando a cidade para deixar tudo em perfeita ordem, para que nenhum indivíduo descumprisse às leis do reino. Parte de mim tinha que mudar, e eu fiquei mais séria e firme, assim como o rei me ordenou. Só que eu havia mudado tanto que... Eu já não acreditava mais no amor. Eu não tinha mais nenhuma compaixão pelo mais próximo. – Jisoo olhava para seus pés.

     Jennie acabará de ficar com pena de Jisoo. Ela entendia que Jisoo passou por dificuldades para se tornar essa mulher que é agora, mas não mais do que ela mesma. Jisoo não teve os pais assassinados na frente dela, ela não foi castigada, ela não sofreu dor física, ela não foi chicoteada a cada erro que fazia. Não, tudo isso aconteceu com Jennie. Jisoo apenas se tornou a governadora e por isso foi invejada por alguns homens.

     – Entendo... – Jennie, finalmente, disse alguma coisa. – Mas você foi invejada. Quem me dera eu me tornar uma governadora.

     – Você ia se tornar uma pessoa fria, sem ninguém para te amar, às pessoas iriam te respeitar, mas não porque gostam de você, e sim para não sofrer às consequências que é estar a frente de alguém com classe maior que a sua. Você ia ser sozinha e mal-amada. Sem ninguém pra te dar amor, sem nem ao menos você saber o que é isso.

     Jennie olhava para os olhos de Jisoo e viu que, ela estava sendo honesta com suas palavras. Ela sentiu a dor que Jisoo sentia, a dor de estar sozinha.

     – Eu sinto muito... Eu não sabia. – Falou Jennie com dó de Jisoo naquele estado.

     A mais velha apenas assentiu com a cabeça e olhou para o sol se pondo. Os raios solares iam desaparecendo conforme o sol se escondia cada vez mais atrás das grandes planícies verdes.

     – Não importa mais o que os outros falam de você. Eu acho sim que você é capaz de lidar com os problemas do reino, junto com a nobreza. – Jennie confessou.

     – Obrigada... Primeira vez que escuto isso. – Jisoo agradesceu. – Digo, depois do rei Park. – Um leve sorriso se formou em seu rosto.

     – Por que eu acho que você e o rei tem alguma coisa? – Jennie teve a ousadia de perguntar aquilo.

     – O que? Não! – Jisoo alterou a voz, hábito que costumava fazer quando ficava nervosa. – É que... Nós eramos muito amigos quando éramos crianças. Brincavamos de guerrear e fingir que haviam dragões escondidos na floresta. Éramos como irmãos. Deve ser por isso que ele não se preocupou em me colocar como governadora.

     – Vocês ainda falam sobre isso? – Jennie foi mais afundo no assunto.

     – Não... É passado agora. – Jisoo manteve o olhar em Jennie. – É muito agradável para conversar. – Confessou.

     – Ah é... Às pessoas costumavam dizer isso pra mim. – Jennie olhou para céu que já dava para ver às estrelas aparecendo na expansão rosada. – Por que deixou para mais tarde?

     Jisoo olhou para Jennie confusa, mas logo entendeu a pergunta. Por que ela não levou Jennie consigo para a cidade? E deixar com que os outros vejam ela cavalgando em cima de um alazão com um criada? Seria uma vergonha.

     – Eu queria contar isso a você, para pedir desculpas sinceras mais uma vez. – Não era mentira o que Jisoo tinha dito, mas resolveu não contar tudo a verdade para não magoar Jennie.

     – Eu já te perdoei...

     – Sério? Prometo que nunca mais vou fazer isso com você. – Jisoo percebeu o olhar triste de Jennie. – O que foi?

     – Ainda serei sua serva, Jisoo... Eu não estou completamente livre de você.

     Às palavras de Jennie vieram em cheio em Jisoo. Ela estava certa.  Jennie ainda continuaria nas garras da governadora até quando ela quiser.

     Jisoo deixou sair um suspiro pesado da sua boca e se levantou quando percebeu que o céu já estava no tom azul escuro e às estrelas brilhavam.

     – Temos que ir. – Disse estendendo à mão para Jennie se levantar, a mais nova se levantou com a ajuda de Jisoo.

     Montaram na Noite que estava amarrada em um tronco de árvore, comendo algumas flores e voltaram para o castelo.

     Ambas saltaram do cavalo e Jennie fez questão de colocar à Noite de volta ao estábulo. Jennie e Jisoo entraram no castelo com a permissão dos guardas e as duas se separaram no meio do caminho. Jennie precisava fazer o jantar e Jisoo tinha que ir até a sala do trono para dar às notícias sobre o reino.

     – Jennie! – Lisa gritou ao ver a amiga entrando na cozinha. – Onde estava? Não te vi o dia inteiro.

     – Calma, eu estava com a Jisoo. – Disse.

     – Pior ainda, agora me mostre onde ela te feriu dessa vez. – Lisa virava o corpo de Jennie a procura de alguma mancha vermelha ou corte.

     – Não, ela não fez nada de mau comigo. – Disse e Lisa a encarou estranhando.

     – Como assim?

     – Eu passei o dia inteiro conversando com ela.

     – Conversando? Vocês duas? Conta outra história, vai.

     – É sério, ela me contou sobre o seu passado, eu já sei de tudo.

     –  Deixa eu adivinhar, você agora vai se vingar da governadora, porque descobriu os podres dela.

Vingar.

     Jennie não pensou mais nessa palavra desde a hora que sentiu pena da história da governadora.

     – Jennie? Tá me escutando? – Lisa tentou desligar a amiga de seus pensamentos.

     – E se eu te disser que não quero mais me vingar de Kim Jisoo?

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Anoitecer • Jensoo Onde histórias criam vida. Descubra agora