Será se a Marília Mendonça chora ouvindo as músicas dela?

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Nunca gostei de shows em lugares fechados

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Nunca gostei de shows em lugares fechados.

Era sempre a mesma coisa. Uma galera fedendo suor amontoada em frente ao palco, o som alto que tornava impossível ouvir até os próprio pensamentos, o lugar abafado com cheiro de chulé. Um pesadelo sem fim. Quer dizer, até tinha fim, mas o trauma deixado te seguiria para o resto da vida.

Só de pensar eu já ficava desesperado e nauseado.

Mas depois de Thales insistir várias e várias vezes, alegando que já havia comprado os ingressos e fazendo biquinho, fui fisicamente incapaz de negar o convite.

Se arrependimento matasse, esse piá aqui já estaria mortinho da Silva.

Como esperado, o barzinho onde estava acontecendo o show era pequeno demais para todas as pessoas aglomeradas ali dentro. Quase me ajoelhei para agradecer o Universo quando achamos uma mesa vaga. Thales, que não tinha a menor vergonha na cara, riu ao me ver desabar sobre um dos banquinhos desconfortáveis de madeira.

No palco mais a frente, um piá vestindo uma camisa florida que parecia ser cerca de dois ou três anos mais velho que Thales, cantava cheio de molejo e sorrisos a música "Me Beija Com Raiva" do Jão. Ele parecia não caber em todo o restante do cenário rústico e sertanejo do lugar.

— Quem é que nós viemos ver mesmo? — Perguntei por cima da música.

— Uma dupla de amigos meus do Ensino Médio — explicou Thales, se aproximando um pouco mais de mim para ser ouvido. — Eles vão subir no palco daqui a pouco.

Assenti e comecei a brincar com as pontas dos dedos dele, que estavam apoiadas na beirada da mesa. Em um movimento lento, ele os entrelaçou aos meus, acariciando as costas da minha mão com o polegar. Aquilo até que estava indo bem. Ele meio que me acalmava. Parte de mim até mesmo pensou: ei, isso é legal, talvez hoje seja o dia certo para tocar no assunto do namoro.

Fui muito inocente por não perceber que o menino Thales tinha outros planos?

O momento em que comecei a me sentir como um peixe fora d'água coincidiu com a chegada de um casal que eu já havia stalkeado tanto que minhas habilidades como futuro agente do FBI evoluíram do nível 7 para o nível 30.

Kelly e Juan eram o tipo de pessoas que se fecham em um círculo bem seleto de amizades e dificilmente o abrem para desconhecidos. Mas a missão da minha vida era fazer com que gostassem de mim. Ou me achassem ao menos suportável, caso a primeira opção não desse muito certo.

— Eu achei que vocês não viriam mais — animou-se Thales, soltando minha mão e se aproximando dos amigos.

— O Juan perdeu as chaves do carro e ficamos uma meia hora procurando — explicou Kelly, rolando os olhos.

Ela tinha as feições de um camundongo. O nariz, pontudo e comprido, ficava em destaque entre as bochechas redondas. Era como se o Stuart Little tivesse tomado uma forma humana e estivesse usando uma peruca ruiva.

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