Ainda dá tempo de sair correndo?

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Nunca tive problemas para me arrumar para um encontro e é claro que para esse não seria diferente

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Nunca tive problemas para me arrumar para um encontro e é claro que para esse não seria diferente. Apenas peguei a primeira roupa que vi na minha frent...AH TÁ!

Só que não.

Passei mais de uma hora tentando encontrar algo que impressionasse-o, me agradasse, fosse confortável, bonito e não dissesse que eu queria impressionar. Acabei descobrindo que não era possível ter todos esses requisitos em apenas uma composição.

Eu já não sabia mais o que estava acontecendo comigo. Logo eu, que sempre soube me vestir bem e nunca liguei para a opnião dos outros, estava entrando em pânico por não gostar de nada no meu guarda-roupa.

Parecia uma menininha rica e mimada.

— Pare de drama, você está ótimo — disse Flávia, a voz cortada por conta da interferência.

Pela tela do computador eu podia ver parcialmente o quarto bagunçado dela. O poster de Overwach sobre a sua cabeça estava descolando da parede e parecia estar prestes a cair a qualquer segundo.

— Flávia — disse eu ao me abaixar no nível da câmera do notebook —, tu estás de pijama enrolada em um edredom com calda de chocolate sujando a tua cara. Qualquer pessoa vai parecer estar ótimo pra você.

Ela rolou os olhos e limpou a calda de chocolate no canto da boca.

— Acho melhor eu mandar uma mensagem pra ele e dizer que estou doente — sugeri para mim mesmo. — Não faz nem uma semana que começamos a conversar. Acho que estamos acelerando as coisas.

— Não faça isso. — Flávia balançou a cabeça e a imagem ficou pixelada por alguns segundos, descongelando logo depois. — Você sabe que vai se arrepender e se afundar em doce se fizer.

É verdade. Flávia me conhecia melhor do que eu mesmo e sabia da minha tendência a me arrepender das coisas depois de fazê-las. Isso me assusta um pouco. É como se nós fossemos amigos nossa vida toda, mas eu a havia visto pela primeira vez há menos de três meses.

Respirei fundo, me virei e encarei meu reflexo no espelho. O jeans escuro e o sweater preto estavam me fazendo parecer mais alto do que realmente era. Apertei a pulseira de um relógio no meu pulso direito e espirrei quase meio frasco de perfume em mim.

Eu estava pronto e meu coração parecia prestes a sair pela minha garganta.

O Uber virou mais uma esquina e parou em frente à um restaurante italiano chamado La Bella Pasta

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O Uber virou mais uma esquina e parou em frente à um restaurante italiano chamado La Bella Pasta. Meu estômago estava se revirando e formando nós. Talvez não fosse uma boa ideia afinal se entupir de macarrão quando se está nauseado.

A questão é que não voltamos a nos ver pessoalmente desde a balada e só tínhamos conversado através de mensagens de texto. E eu estava com medo. E se eu não fosse tão interessante pessoalmente? E se não conseguisse falar nada? E se ele não gostasse do Iago 100% sóbrio?

Desci do carro e paguei o motorista. Segundo a mensagem que havia me enviado — agora tínhamos o número inteiro um do outro —, Thales já estava me esperando lá dentro. Quase entrei em pânico e saí correndo. Mas forcei minhas pernas a me levarem na direção da porta de vidro com uma plaquinha em neon escrito aberto.

Antes que a guria baixinha de avental que guiava as pessoas para as suas devidas mesas me interceptasse, eu o avistei sentado de costas para a porta em uma mesa no fundo do ambiente mal iluminado.

Os ombros pareciam estar tensos embaixo da camisa azul marinho de botão estampada com poás um pouco mais claros. Imaginei o que estava se passando na mente dele. Estaria Thales tão nervoso com a situação quanto eu?

Porque eu me sentia prestes a parir uma criança de tão ansioso. E olha que eu sou biologicamente impossibilitado de engravidar.

A guria a minha frente sorriu por obrigação e sacudiu uma mão na frente dos meus olhos, me roubando dos meus pensamentos.

— Mesa para quantos? — Perguntou a garota, enquanto tamborilava os dedos nas costas de uma prancheta de acrílico.

— Eu estou na mesa reservada à Thales Camargo — respondi, me dando conta de quão seca minha garganta estava.

— Oh, é logo ali. — Apontou a atendente, enquanto colocava atrás da orelha um fio loiro que estava escapando do rabo de cavalo. — Tenha uma boa noite, senhor.

Ela me chamou de senhor. Sempre achei, de certa forma, um tanto cômicas essas formalidades. Eu, claramente, não tinha maturidade alguma para que alguém me tratasse como um senhor, porque quando ouvia alguém ser chamado de senhor tudo o que me vinha na cabeça era um homem de terno, gravata e uma maleta preta cheia de grana.

Sorri, mesmo que quisesse na verdade rir da forma séria como ela me tratou. E teria gargalhado muito se não estivesse a ponto de morrer ali mesmo. Podia ouvir meu coração batendo e o sangue fluindo na minha cabeça.

Não tinha mais para onde correr. Então apenas respirei fundo e segui na direção dele.

 Então apenas respirei fundo e segui na direção dele

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