O Thales é mais biscoiteiro que o dono da Bauducco

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Eu me sentia um imbecil

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Eu me sentia um imbecil.

Talvez eu devesse escrever IMBECIL, com letras maiúsculas e destacadas, bem no meio da minha testa.

Pode ser que ir embora do barzinho não tenha sido a decisão mais madura que eu já tenha tomado na minha vida. Mas se Thales me achava uma criancinha chiliquenta, então nada me impedia de agir feito uma. Eu tinha todo o direito. Então, por quê meu coração estava apertadinho e eu queria me afundar no primeiro pote de sorvete que visse na minha frente?

— Eu não sei viu, Tânia — murmurei, me afundando no banco de couro e mordiscando a tampinha de alumínio do meu copinho de água. — Acho que não foi uma boa ideia ter ido embora assim do nada.

Talvez algum dia eu pare de agir como se motoristas de Uber fossem meus psicólogos. Mas aquele não seria o dia. Não enquanto eu tivesse a sorte de ter uma motorista tão simpática e disposta a bater papo e escutar sobre as desgraceiras da minha vida quanto aquela.

— Eu acho que você fez bem em ir pra casa — discordou a mulher, os olhos atentos à rua, mas ainda assim olhando para mim vez ou outra pelo retrovisor. — Esse Thales parece um babaca.

— Pior que nem é — lamentei, fazendo biquinho. — Seria muito mais fácil se ele fosse.

Ok, talvez eu tenha exagerado um pouco na hora de relatar toda a minha horrível desilusão amorosa e tenha pintado o Thales como um monstro de sete cabeças. Mas quem é que pode me culpar?

Eu estava com o coração partido, está bem?

— Na verdade — divaguei, começando a ficar ainda mais triste —, ele é um doce na maior parte do tempo. Essa foi a primeira vez que ele agiu feito um filhote de jumenta.

Tânia manobrou o carro e parou em frente ao meu prédio. Não era tão tarde e estávamos em um sábado, então fiquei bastante surpreso ao notar que a maioria das luzes estavam apagadas. A mulher se mexeu no banco da frente e se virou pra mim, me dando uma visão mais clara do seu rosto fino, pálido e de aparência cansada, com olhos cor de âmbar e lábios delineados por um tom de marrom bem clarinho. Apesar de parecer exausta, ela abriu um sorriso simpático e acolhedor que fez com que eu me lembrasse da minha mãe e que um quentinho se instalasse no meu peito.

— Garoto, eu tenho certeza de que devo ter bem mais relacionamentos fracassados do que você — garantiu ela. — Então, vindo de uma pessoa com bastante experiência e conhecimento de causa, é sempre bom perceber as coisas que estão azedas e cortá-las logo no começo.

Senti um gosto amargo na boca. Quão ruim é o fato de que eu ainda queria estar agarradinho nele mesmo com as coisas azedando entre nós?

Com dor no coração por estar gastando os dez reais que ia colocar de crédito no meu celular, desci do carro e adentrei o saguão do prédio parecendo uma capivara triste. Até mesmo cogitei a ideia de desistir de subir todos aqueles lances de escada até o apartamento e me deitar ali nos degraus mesmo, mas achei que isso já seria humilhação demais até pra mim.

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