Eu não sou pavê

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Thales era um péssimo motorista

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Thales era um péssimo motorista. Mas ainda dirigia melhor do que a minha Vó. Para ser sincero, qualquer um era capaz de dirigir melhor do que Josefina. Não tínhamos um carro porque ela havia se envolvido em um acidente de trânsito dois anos antes e mandado à merda o Policial que foi enviado até o lugar. A carteira dela foi suspensa e meu pai e meus tios a obrigaram a vender seu carro. Era um celta verde limão de duas portas. Uma monstruosidade.

Mas a forma de dirigir de Thales não chegava a ser perigosa. Era incomoda, de fato. Com todas as aceleradas bruscas e freiadas secas. Porém, duvidava de que algum dia ele fosse se envolver em um acidente ou ser indiciado por desacato a autoridade. Não. Meu Thales era certinho demais para aquilo. Sua forma imprudente de dirigir era apenas mais um dos seus leves desvios de conduta como os seus grandes exageros ou como ter pulado da jabuticabeira aos sete anos ou até mesmo como aquela camisa horrorosa.

E foi graças ao fato dele acreditar que estava vivendo no mundo de Velozes e Furiosos que chegamos muito mais rápido do que o esperado ao meu prédio. O porteiro não estava na guarita quando passamos por lá. Mas, para falar a verdade, ele quase nunca estava. Não fazia ideia de como nunca havíamos sido roubados.

Não conversamos muito durante todo o caminho até o apartamento. Foram quatro lances de escadas do térreo até o meu andar de puro silêncio. Eu estava nervoso e não sabia se Thales podia perceber meu nervosismo. E se ele não gostasse da surpresa? E se achasse bobo? Ele havia surtado antes de me pedir em namoro porque não se achava preparado para algo mais sério.

— Você está bem? — Perguntou Thales.

Assenti. Fazer qualquer coisa com as mãos tremendo era um inferno. Destrancar a porta foi uma atividade que requereu muito mais esforço e concentração do que costumava. Entramos no apartamento.

— Espere aqui — pedi.

Fui para o quarto com o coração batendo mais rápido do que quando assisti a batalha final em As Relíquias da Morte - Parte 2 pela primeira vez. Gostaria de ter um feitiço mágico que garantisse que aquilo iria dar certo. Acho que nem toda a Amortentia do mundo poderia me deixar cem por cento seguro quanto à reação de Thales.

Abri a gaveta da cômoda e encarei por alguns segundos a pequena caixinha. Era isso. Não tinha volta. Eu não podia ser um piá assustado que deixa tudo para depois por causa de medo pra sempre.

Respirei fundo e agarrei a caixinha.

Ao voltar para sala, encontrei Thales parado na sacada e encarando o céu. Eu odiava o fato de que não podíamos ver as estrelas por conta de toda a poluição luminosa da cidade. Imaginei se ele sentia mesmo. Parei ao seu lado. Nossos braços estavam se tocando e eu estava ciente de cada ponto de contato que partilhávamos.

— Eu... — Dissemos ao mesmo tempo.

Sorri.

— Você pode ir primeiro — falei. Acho que meu coração estava prestes a sair pela boca.

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⏰ Última atualização: Jul 24, 2019 ⏰

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