One last time

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Donna sempre fora a pessoa de quem eu era mais próximo na minha família, e eu era simplesmente incapaz de mentir ou guardar algum segredo dela. Por isso é óbvio que após minha primeira semana lá, após comemoramos meu aniversário, ela já estava inquieta por eu ter escapado que saíra com alguém. Mais ainda após ela e notar em minha mala uma camisa com o cheiro que obviamente não era meu.

— Qual é, você precisa me contar, Steph! – eu a ignorei, um pequeno sorriso surgiu em meu rosto enquanto caminhávamos pelos campos em direção ao rio. — Nunca achei que você fosse encontrar alguém!

Em defesa dela, nem eu.

— Fala baixo, eu não quero que nossos pais saibam agora. – empurrei fracamente seu ombro, ela apenas cambaleou. — E não é como se fosse sério...

— Se não fosse sério, você não teria me contado. – Donna me lançou um olhar convencido, mas ela tinha razão, eu jamais contei para ela sobre meus casos. — Qual o nome dele?

Hesitei, meus olhos fixos no caminho.

— Anthony... Stark.

— Oh meu Deus! Como isso aconteceu?!

— Eu sei, eu sei, agora se controla. – pedi erguendo as mãos. — Ele visitou a NYU e nós dormimos juntos, mais de uma vez.

Talvez não fosse o melhor modo de resumir o relacionamento, mas não era como se juras de amor eterno fossem trocadas.

— Vocês são tão românticos que quase vomitei. – Donna tirou o casaco e os sapatos, me fazendo soltar um baixo gemido em protesto ao ver que ela não desistira. — Vão se ver de novo?

— Ele vai se mudar para Nova Iorque, assim vamos poder continuar nos vendo mesmo com a faculdade e o trabalho... E eu vou viajar para Malibu depois do Natal, ficar uns dias com ele antes das aulas. – eu  me sentei em um tronco próximo da margem, observando ela entrar na água. — Céus, você é a única louca de entrar nesse gelo.

— E você me diz que não é sério, daqui a pouco vai estar marcando ele. – não protestei, eu tinha essa vontade de oficializar, poder ter Tony ao meu lado. — Agora, te chamei pra nadar comigo, não pra ficar me olhando.

O que eu não fazia por minha irmã? Ela era a única louca o suficiente para nadar com aquele clima, e eu o único louco o bastante para ceder seus caprichos e ir junto. Hoje eu me arrependo tanto daquele dia, de não ter discutido mais para ficarmos em casa, ou andarmos à cavalo, qualquer coisa menos nadar.

No início achei que fosse uma brincadeira, mas conforme ela não tornava a emergir na superfície, eu comecei a nadar desesperadamente. Meu corpo tremia de nervosismo e frio quando a trouxe para a margem, sua pele muito pálida, os lábios azulados. Meus pais ouviram os meus gritos e se aproximaram, sequer ouvi eles chamando a emergência enquanto eu tentava fazer os primeiros socorros.

Eu mal sentia a dor em meus braços enquanto os médicos me afastavam, apenas para determinar o óbito. Dizer que meu trabalho fora em vão, que eu passara mais de meia hora bombeando e tentando respirar para um corpo há muito sem vida.

Eu falhei como irmão.

Falhei como melhor amigo.

Falhei como médico.

Não podia mais ficar naquela casa com a culpa e o olhar dos meus pais sobre mim, voltei para Nova Iorque logo após o enterro, me trancando em meu apartamento e me afundando em minha própria miséria. Pensava que as coisas podiam ter sido diferentes, talvez se eu tivesse dedicado mais de meu tempo aos estudos, e menos a um relacionamento casual as coisas teriam sido diferentes. A morte de Donna não pesaria sobre meus ombros.

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