Akai ito

Whatever it takes

A nave havia sido danificada durante o combate, mas felizmente com a ajuda de Nebulosa havíamos consertado o suficiente para sairmos do planeta e fazermos alguns saltos na direção da terra. Estávamos mais perto de casa do que havíamos estado antes, fizemos o melhor que podíamos com os poucos recursos disponíveis.

Mas fora somente isso, a nave logo não estava mais funcionando e nós estávamos a deriva no espaço, sem nenhuma nave secundária para fuga e com poucos suprimentos. E a verdade era que isso não era nem de longe o mais preocupante ali, ao menos para mim.

— Você tem sorte de não ter sido atingido em cheio, se tivesse sido um pouco mais pro lado teria perfurado seu rim esquerdo, no pior dos casos destruído a artéria e veia renal. – Nebulosa havia se mostrado bastante habilidosa enquanto uma máquina acelerava a cura dos ferimentos, especificamente o corte feito pela espada. — E mais sorte ainda de seu feto ainda estar vivo depois de tudo.

Eu havia piscado completamente descrente de tal comentário, mas após ter feito um scanner verificando minha saúde, fora sua primeira conclusão. Inclusive ela afirmara com toda certeza de que eu estava com cerca de dez semanas.

Passei a mão pelo rosto, era impossível que o bebê estivesse vivo depois de todo combate que havíamos travado, mesmo com a armadura eu devia ter pego um dano considerável... Não. Stephen havia me amparado na maior parte do combate após ter olhado o futuro, Levi havia sido deixado comigo em diversos momentos, e o único golpe considerável que eu havia levado fora o golpe da minha própria lâmina.

Stephen sabia, percebi dolorosamente.

Em algum momento em que ele observou o futuro, ele descobriu sobre como a batalha terminaria, e também descobrira sobre o bebê. Por isso ele abrira mão de seu manto, quando normalmente ele jamais tirava, por isso ele fizera tanta questão de minha segurança. Agora ficara óbvio o motivo de tamanha dor em sua expressão ao visualizar o futuro, o motivo de suas desculpas.

Isso também devia explicar algumas de minhas mudanças de alimentação recentes, e também meu ganho de peso, não era culpa exclusiva do sorvete. O fato de eu estar constantemente arrumando o ninho que eu tinha no Sanctum, não era algo relacionado ao meu calor que estava atrasado duas semanas.

— Ele está mesmo... Vivo? – indaguei hesitante. Sinceramente eu mal podia acreditar que ainda podia engravidar aos meus 48 anos, eu já não era tão jovem em minha primeira gravidez.

— Parece que sim, pelo que vejo o feto está com batimentos cardíacos. – eu senti as lágrimas vindo aos meus olhos.

— Droga... Eu realmente vou matar seu pai quando o trouxermos de volta.

Pois agora mais do que nunca eu tinha um motivo para continuar vivo, para continuar lutando. Voltaríamos para terra, iríamos nos reagrupar e traríamos todos aqueles que sumiram de volta. Se a manopla do infinito fora capaz de os tirar de nós, então se a usássemos deveríamos conseguir os trazer de volta, afinal de contas eles não estavam mortos. Tinha uma chance para minha família.

Ao menos esse era o meu foco nos primeiros dias, quando eu ainda tinha esperança.

Mas o tempo foi se arrastando, agora estávamos à deriva em meio a imensidão do espaço esperando que nossos dias se encerrassem, ou então que alguma nave recebesse nossa transmissão pedindo por ajuda e fosse até nós. Por alguns tempo eu tive esperança que a ajuda chegasse, embora isso também tivesse acabado agora.

— Isso está ligado? – dei algumas batidinhas no capacete, até ter certeza de que a gravação iniciara. — Diário de bordo, esse é o dia 28... Não, é o dia 29 desde que estamos vagando no espaço. – me corrigi, apoiando melhor as costas contra a parede da nave. — Infelizmente parece que ninguém recebeu nossa transmissão pedindo por ajuda, então acho que dessa vez vamos terminar aqui.