Memórias

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[...]

Minha alma pulsava de maneira que sentia que ela estava prestes a sair do peito. Me torno ofegante, de maneira qual nem percebo.

— Geno. —, falo sério. Estávamos sentados na mesa de jantar, com uma variedade de comidas nela. Geno as faz todo dia, e, quando volto do trabalho, o jantar já está pronto e podemos ter um momento a sós, enquanto apenas fitamos um ao outro ou conversamos sobre qualquer coisa aleatória.

— Hm? —, ele larga os talheres no prato, me fitando. — Tem algo errado? Não está bom? —, me comovo minimamente com sua fofura. Sempre fora muito atencioso comigo, embora na maior parte do tempo não demonstrava este lado. Eu acho que, como mostrei uma expressão mais séria, ele decidiu tomar esta abordagem.

Minha alma deu uma pulsada, apenas com o pensamento do que teria que fazer.

Digo, ninguém está me obrigando. Eu amo a Tori, principalmente agora que ela reviveu. Sempre a amei. Eu me sinto bem perto dela. Ela sempre pensou em mim, e eu nela.

— Eu... —, começo. Não sei como achar as palavras certas. — Quero terminar. — falo de uma vez, olhando pro chão. Minha alma deu uma pontada de dor.

Fazia 2 anos que namorávamos. Eu até mesmo já tinha comprado um anel para pedí-lo em casamento um dia.

Eu não tenho nem mesmo a coragem de fitá-lo. Suspiro fundo, tentando achar o mínimo de coragem. Eu ergo o olhar.

Seus olhos estavam arregalados, demonstrando surpresa, e com uma mão no cachecol, apertando-o firme. A outra mão estava no seu short, também apertando-o forte. Ele tremia, como se tivesse feito uma maratona de filmes de horror.

Minha alma, novamente, pulou de maneira rápida e forte. Dolorido.

Ele engoliu em seco, desviando o olhar de mim, fitando qualquer ponto aleatório. Juntou forças na sua boca, gaguejando poucas vezes antes de iniciar.

— S-se for uma piada... —, ele fitou o lado oposto, colocando suas duas mãos no cachecol. — não tem graça nenhuma.

Uma outra pontada de dor invadiu minha alma. Ela diz que eu não deveria ter feito isso, mesmo sem falar.

— É que... —, também desviei o olhar, tentando não focá-lo. — Eu... Tori... — falo frases sem sentindo. Por que estou tão nervoso? Eu não o amo mais... Não é?

— Eu... —, ouço-o suspirar. Está perdido em seus pensamentos. — Entendo. —, se levantou do assento. E finalmente o fito.

Estava completamente afundado em seu cachecol, com o olhar perdido. Ele saiu do cômodo, em passos lentos. Estava com certeza sofrendo, e eu não podia fazer nada para ajudar.

Minha alma bateu incontáveis vezes de maneira forte e dolorida. Por que dói tanto? Eu tenho esses pensamentos de abraçá-lo e dizer que tudo era mentira, e que quero ficar com ele pra sempre. Mas, se eu fizesse isso, ele se machucaria ainda mais. O que já está feito, já está feito.

Mas eu quero voltar no tempo. Apenas para consertar o que fiz.

Eu deveria arrumar minhas coisas agora.

[...]

Essas memórias me atormentam, como um garoto ingênuo ouvindo uma história de terror macabra. Eu só queira esquecê-lo para poder seguir minha vida. Mas eu não quero esquecê-lo.

Ele sempre esteve aqui pra mim, desde que a Tori se foi. E eu sempre estive ali pra ele, desde da primeira vez que soube seu passado. Mas eu não cumpri minha promessa de sempre estar ali pra ele.

Eu te odeio, eu te amoOnde histórias criam vida. Descubra agora