[04] conversas diárias.

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[JEON JUNGKOOK]

Quando enfim o avião decolou, estar naquele aeroporto ficou sufocante não apenas para mim, mas para os pais de Jimin também. Ajumma soluçava nos braços do marido, murmurando coisas como "Será que ele ficará bem? Ele é tão novo..." enquanto o ajusshi respondia com toda paciência do mundo que o hyung não estaria sozinho, e sim com o irmão.

Inerte a isso, eu me mantinha parado, olhando pelo grande paredão de vidro a área de pouso que antes jazia um avião, agora vazia.

ㅡ Vamos? ㅡ Ajusshi pergunta assim que tocou em meu ombro, me tirando dos devaneios.

Assenti fraco, seguindo os dois em direção ao estacionamento do aeroporto.

O mais velho destravou as portas, colocando com cuidado a ajumma no passageiro, já que fora preciso os braços do marido envolta da cintura dela para que assim pudéssemos chegar ao carro. Perguntei se eles precisavam de ajuda, quem sabe comprar uma água ou um doce (mesmo que as coisas no aeroporto fossem uma facada de tão caro), mas a ajumma negou dizendo que estava tudo bem consigo. Encarei o Sr. Park, questionei em mudo se estava mesmo tudo bem e ele apenas suspirou.

Apesar de estar receoso, preferi não insistir e entrei no carro. Coloquei o cinto, encostando a cabeça na lateral da janela só esperando os mais velhos. Ajumma havia voltado a chorar e o ajusshi, agachado fora do carro, ainda acariciava o rosto da mais velha na tentativa de acalmá-la novamente.

Isso levou uns bons vinte minutos antes dele fechar a porta do passageiro e passar para o piloto. Suspirei assim que ele deu a partida e durante o caminho ainda se ouvia os fungados da Sra. Park.

Eu entendia a dor da mais velha. Quer dizer, não entendia, mas imaginava como deveria ser.

A família dos Park é formada pelos pais, Park Jihyo (mãe) e Park Minhae (pai), e os dois filhos, Park Seokjin, o mais velho, e o caçula vulgo o hyung.

O irmão mais velho do Jimin foi embora para os Estados Unidos tentar carreira de modelo quando eu e o hyung tínhamos 14 e 16 anos, respectivamente. Lembro o quão baqueado os pais ficaram quando Seokjin deixou-nos; diferentemente do peste do Jimin que ficou super feliz pois finalmente teria um quarto só para si.

Era o que ele dizia, mas todo mundo sabia que ele chorava de saudades deitado na cama de Seokjin enquanto se agarrava num dos moletons do irmão.

Agora, depois de dois anos, o outro filho também está indo embora. O quarto que antes era a bagunça dos dois, depois de apenas um e por fim, sem ninguém.

Acho que dá para entender o tantão que a ajumma está sentindo.

E nem dá para comparar. Contudo, essa sensação de estar faltando algo eu entendo, entendo muito bem.

Até porque é o que eu sinto todo santo dia.

Suspiro ainda com o olhar preso nas ruas passando com rapidez pela minha visão e me remexi desconfortável quando passamos pela antiga clínica na qual eu me consultava quando criança.

Quando pequeno, eu não era, digamos, uma criança normal.

Eu demorei para entrar na escola, pois a minha família seguia a linha tradicional: mulheres estudavam em casa. Desse modo, boa parte da minha infância estudei em casa, com a minha avó dando aulas de língua coreana e uma tutora que meus pais contrataram para me ensinar biologia e matemática.

Só que aconteceram vários empecilhos, um deles prejudicou tanto o consciente da vovó, que hoje em dia ela não responde mais tão bem. Sem poder ter aulas consigo e a minha família também não estava numa das melhores situações financeiras, eu acabei precisando ser matriculado numa escola perto de casa (eu devia ter uns sete anos nessa época).

I am a BOY ⚧ jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora