prologue.

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alerta de gatilho: pessoas sensíveis e suscetíveis a problemas psicológicos, leiam com cuidado e responsabilidade.

○•••○

Há quem diga que beleza é algo relativo, que a forma como nós enxergamos o que nos cerca é apenas o reflexo de como somos por dentro, e a singularidade de nossas personalidades e almas é o que faz da vida uma experiência prismática, ou seja, nunca há apenas um lado.

Na filosofia Pré-Socrática, Heráclito, o pai da dialética, abordando a questão do devir, firmou a teoria de que tudo se movia em um constante fluxo permanente, onde nada seria o mesmo pois estava em um constante processo de mudança. Como quando nos banhamos em um rio, e depois de tempos nos banhamos de novo, não será o mesmo rio, pois as águas serão outras e já se modificou.

E na mesma época, Parmênides surgiu com a tese de que ser é universal, onde nada se transformava verdadeiramente e a realidade era algo uno e imutável, assim como era eterna, pois o tempo seria uma mudança e já sabemos que nada é mutável. Apenas o não ser não é.

Partindo desse pensamento, podemos ver como todas as coisas se definem pelo ponto de vista de quem as enxerga, como o rio, que pode se modificar pelas águas correntes ou apenas continuar o mesmo, pois ele não evoluiu e nem moveu-se. E também como a beleza, que pode ser encontrada tanto da forma mais abstrata possível, quanto da mais padronizada. Mas o ponto é, assim como quase tudo no universo, nunca será encontrado algo que defina com toda a veemência o que é, pois somos únicos e especiais demais para pensar todo tempo na razão.

Lalisa Manoban acreditava que a beleza das coisas estava no ambíguo, e que tudo se torna mais colorido se você enxerga dessa forma.

Park Chaeyoung não sabia como se livrar do preto e branco da vida, e achava que o reflexo no espelho não era algo que agradaria alguém.

Elas apenas precisavam aprender a como juntarem suas peças do quebra cabeça para entender melhor a vida, para entender que é apenas sozinho que se resolve os conflitos consigo mesmo, que o máximo que alguém pode fazer por você é dar um pequeno empurrão, mas as batidas das asas e o impulso é tudo por conta própria. Como uma lagarta entra em metamorfose sem a companhia de ninguém.

E foi assim que as coisas começaram de verdade.

(...)

Lá estava ela, mais uma vez.

Se Lisa pudesse pausar o tempo, e depois rebobinar tudo de novo, ela reviveria cada passo de Chaeyoung que seus olhos assistiram todos de novo. E de novo. Até que o espaço-tempo se quebrasse bem ali, naqueles tão perfeitos lábios rosados e pequenos, se movendo enquanto ela os mordiscava com as pontas dos dentes, alheia a tudo em volta com em sua leitura e as sobrancelhas um pouco franzinas.

Ela sempre estava com aquele livro, e Lisa pôde perceber o quanto ela o amava pois quase todas as páginas estavam marcadas com pequenas fitas coloridas que guardavam suas citações preferidas. Mesmo que, por suas feições, a cena que lia não fosse bastante satisfatória.

Era aula de educação física e ambas estavam sentadas na arquibancada, uma em cada extremidade, Chaeyoung com seus pensamentos voando em aleatoriedades. E Lisa com os pensamentos presos nela. Era uma situação extremamente comum naquela altura do campeonato.

A distância não impedia Lisa de observá-la de forma disfarçada, fingindo toda hora que ia pegar algo na mochila atrás de si apenas para se virar para o lado e poder olhá-la um pouquinho. Ela estava estonteantemente comum como todos os outros dias, com uma meia calça preta por baixo da bermuda jeans do tamanho certo, batucando com as pontas do all-star vermelho desbotado no degrau debaixo de seus pés e vestindo um moletom grande demais para o tamanho de seus braços, como todos os dias, daquela vez era um azul claro, com uma estampa de gatos se lambendo bem brega.

Polaroids & Stereos | ChaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora