"Todos temos almas de idades diferentes" dizia F. Scott Fitzgerald.
Fundamentado na ideia das experiências que vão além do tempo de vida físico do ser humano, as coisas que passamos ao longo da jornada acrescentam diretamente no nosso nível de sabedoria, o que acrescenta na nossa idade mental. Não é sobre a quantidade de vida, e sim sobre a quantidade de aprendizado adquirido com as coisas vividas. Principalmente aquelas ruins.
Uma ideia mais do que certa, é que o aprendizado que as más situações pode trazer é inimaginável, trazendo tais virtudes que uma pessoa que sempre teve tudo nunca poderia ter na mesma intensidade. Pelo simples fato de que, experimentando o ruim, é que se aprende valorizar verdadeiramente ao bom.
Nessa linha, parafraseando uma das falas do conhecido filme Fragmentado, "os afligidos são os mais evoluídos".
Chaeyoung se sentia uma dessas pessoas, que já presenciara coisas ruins o suficiente para se sentir grata pelo que estava vivendo; acontecimentos bons pela primeira vez em muitos anos. E, por este motivo, achou que se sentiria bem melhor nos próximos dias.
Porém, algo ainda parecia fora do lugar. Como sempre estivera.
— Eu tive sonhos impróprios com Karl Marx ontem a noite — escutou a voz conhecida a puxar de seus devaneios.
Olhou para Lisa em sua frente, piscando várias vezes.
— Hein?
— Nada, só queria chamar sua atenção — Lisa riu sozinha, equilibrando a caneta preta nos dedos finos e longos. — Estava desligada por um tempão, olhando para o nada. No que tanto pensa?
O céu estava escuro o dia inteiro, com riscos de chuva, então todos os alunos decidiram se abrigar em um local com cobertura, ao invés de ficarem no pátio externo que sempre lotava no intervalo da tarde. O que fez a biblioteca, pela primeira vez, se encher de estudantes. De onde elas estavam, no último corredor, ainda dava para se ouvir muito bem o burburinho chato das conversas.
Chaeyoung coçou a bochecha direita, olhando para o caderno aberto em seu colo e completamente limpo, exceto pela florzinha torta que desenhara no canto superior. Enquanto o de Lisa já estava quase completo com o dever de história que faziam.
Ela realmente devia seguir seu exemplo às vezes. Ou sempre.
— Nada... — murmurou acuada, enterrando o rosto no caderno. Todavia nem sabia responder nenhuma daquelas questões. — Só umas coisas aí.
— E eu posso ajudar?
Chaeyoung deu de ombros, se esforçando para focar a cabeça cheia naquela bendita atividade. Mas o combo de sua cabeça falando junto com as pessoas ali não era bom para sua concentração.
— A não ser que você saiba me dizer... os autores das três principais teorias absolutistas, receio que não.
— Bossuet, Hobbes e Maquiavel — respondeu simples, sem nem tirar os olhos de onde copiava.
— Ah... — Chaeyoung fez beicinho, escrevendo a resposta.
Ficaram em silêncio por mais alguns minutos, estes que Chaeyoung se desconcentrou de novo e acabou olhando para o vazio novamente, com o queixo apoiado na mão e os dedos puxando os fios soltos da manga distraidamente. O som da caneta de Lisa rabiscando pelo papel e as páginas do livro de pesquisa sendo viradas quase prevalecendo naquela área da biblioteca.
Fique bem, pedira suplicante para o próprio cérebro, se as coisas estão bem então por que você não consegue ficar?
Ela tinha, de repente, pessoas que se importavam consigo, tinha Lisa, e ocupações o bastante para empurrar certos pensamentos malignos para o fundo da cabeça. Mas ainda parecia mais profundo que isso, como se tivesse arrancado a planta podre, mas a raiz ainda estava lá, espalhada por tudo, agarrada à terra.
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Polaroids & Stereos | Chaelisa
FanfictionEntre as poucas dificuldades de Lalisa, seu maior problema era ser perdidamente apaixonada pela garota australiana e quieta da escola que ao menos sabia de sua existência. Porém, Park Chaeyoung era o ser que dava luz à sua vida com todos aqueles mol...