Conceituar felicidade sem o uso do pleonasmo é algo considerado extremamente difícil para todos os pensadores, pois abrange muitos aspectos e opiniões diferenciadas, e o que nos deixa feliz muitas das vezes não deixa os outros. O mais próximo do racional seria felicidade ser aqueles pequenos momentos em sua vida que você torce para nunca mais acabar.
O professor de ética Clóvis de Barros diz que o ser humano está em um constante ciclo cansativo de desejar que o tempo passe, desejamos o fim do dia para ir para casa, a chegada do fim de semana para descanso, o fim de ano para as festividades. E, quando notamos, passamos o tempo inteiro apenas desejando que a vida passe logo.
Mas, naqueles momentos de alegria, o que mais queremos é que ele aconteça para sempre, que nunca mais acabe. E então, o desejo de que a vida passe vai embora.
Todo mundo tem suas paixões na vida. Aquilo que, enquanto você faz, sente que poderia fazer eternamente, aquilo que abrange o conceito da felicidade. E o mais importante para ser feliz de fato, é reconhecer o que te satisfaz e usufruir disso o quanto puder, e extrair um momento de felicidade em cada situação de sua vida, por mais chata que pareça. Ou então, viveremos em um duradouro propósito de apenas esperar as coisas passarem.
Fotografia e música eram as grandes paixões que conceituavam felicidade para Lisa. Por isso a câmera snap digital instantânea polaroid branca que ela trabalhou as férias de verão inteirinhas para comprar com o próprio mérito estava sempre pendurada em seu pescoço pela alça preta, para o caso de seus olhos capturarem algo que gostasse de registrar. E seu fone de ouvido era seu melhor amigo para toda a vida. Não importa o quão triste isso soa.
Mas, naquela tarde ensolarada em que Lisa vinha andando da escola para casa, a câmera balançando em seu torso levemente por cima da camisa polo branca, o casaco amarrado na cintura e sentindo a franja grudar na testa pelo calor, junto com a nuca e os lados do rosto, adornados pelos cabelos alourados na altura dos ombros. Ela ao menos tentava murmurar no ritmo da música, como sempre fazia e as pessoas na rua talvez a achavam louca, ou olhava em volta com os olhos curiosos por um cenário para suas fotografias. Se Lisa se mexeu fora da caminhada para chutar uma pedrinha foi muito, seu corpo parecia estar no piloto automático.
Tudo que ela conseguia pensar era em Chaeyoung, mas não da forma boa e refrescante como sempre fazia. Pensava na Chaeyoung de verdade, na Chaeyoung que foi ferida mentalmente o suficiente a ponto de querer se ferir fisicamente também. A imagem de seu olhar temeroso dando a volta pela sala ainda estava presa em sua mente, como ela estava assustada de alguém ter descoberto, como ela tampou o machucado na velocidade de alguém desesperado, o peito subindo e descendo. Aquilo não era justo.
Como nunca havia percebido? Era tão idiota assim?
Doía tanto em si ver aquelas marcas em seu antebraço e perceber que não podia fazer nada, pois era tola e maricas demais para isso. E doía mais ainda saber que ela estava sendo egoísta e na verdade não conhecia e nem queria conhecer a Chaeyoung de verdade, suas lutas, seus medos, os motivos de ela ter feito o que fez, e agora ela só queria poder mostrar à Chaeyoung que ela passou a enxergar o mundo de outra forma depois que conheceu a garota, queria que ela se sentisse do mesmo jeito.
Não só porque ela queria que o sentimento de paixão fosse mútuo, mas sim porque sua maior ânsia no momento era poder mostrar as coisas de forma mais bonita para Chaeyoung, fazer da vida dela um compilado sem fim de pequenos momentos alegres que a faziam esquecer da vontade de que tudo passe logo.
Queria lhe mostrar o conceito de felicidade, descobrir suas paixões, ajudá-la a usufruir disso. Mas ainda não havia pensado na forma que iria fazer isso, pois o seu lado maricas ainda era maior do que ela mesma. Ela estava perdida e a vontade de ser o seu próprio gênio da lâmpada não batia o sentimento de que ela iria fracassar lindamente se tentasse dar um passo sequer.
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Polaroids & Stereos | Chaelisa
FanfictionEntre as poucas dificuldades de Lalisa, seu maior problema era ser perdidamente apaixonada pela garota australiana e quieta da escola que ao menos sabia de sua existência. Porém, Park Chaeyoung era o ser que dava luz à sua vida com todos aqueles mol...