Capítulo 5

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ELA

Eu saí meio atordoada do palco. Para começar que todo o pessoal do bar se levantou para me aplaudir e a equipe que tinha acabado de me conhecer gritava animadamente também, batendo as mãos nas bandejas. E para finalizar, a cara de tonto de Alisson enquanto me encarava. Ele tinha travado e entrado em curto circuito naqueles quatro minutos de música e eu não conseguia parar de olhá-lo.

Quando signor Alessandro me disse para preparar alguma música italiana, se abriu um hall enorme em minha cabeça. Se uma coisa que a Itália tinha feito bem era me ensinar a apreciar melhor a música italiana sem seguir pelo óbvio como Laura Pausini, Andrea Bocelli, Luciano Pavarotti e Tiziano Ferro, mas assim que eu consegui aquela oportunidade, eu sabia que precisava usar para chamar a atenção de Alisson.

Eu não tinha muita certeza ainda dos meus sentimentos por ele, mas eu sabia que meu coração ainda batia por ele de alguma forma. Afinal, se você for ver, nunca tínhamos terminado de verdade. Quando eu soube que me mudaria de Nova Hamburgo, prometemos que tentaríamos, conversaríamos e visitaríamos um ao outro, como isso não deu muito certo, fomos nos afastando aos poucos, até não estarmos juntos. Um tempo depois ele apareceu namorando sua esposa e eu segui minha vida.

Seu sorriso, a forma que meu corpo encaixava com o dele em um abraço, as piadas, a intenção de me agradar em qualquer coisa, lembrar de pequenos detalhes da vida em que namoramos juntos: que eu dormia com dois travesseiros, que eu babava enquanto dormia, que eu amava Crepúsculo, isso são pequenos detalhes que só quem me conhece de verdade sabe. Eu não sei, eu tinha chego aqui em Alisson como uma forma de desespero por não ter onde ficar, como viver e afins, mas agora eu achava que era o destino tinha encontrado uma forma muito bizarra e sem graça de me reunir a ele novamente e eu estava caindo igual um patinho.

Acabei escolhendo Tiziano mesmo, um dos grandes cantores italianos e uma das minhas vozes favoritas da música. Ele era um gênio, um poeta e parecia que cantava não só com a alma, mas também com o coração. Já a música, simplesmente surgiu em minha cabeça e me surpreendi pelo significado fazer tanto sentido em nossas vidas. O Maior Presente, essa era a tradução da música, falava sobre um presente que ele queria dar a alguém, que acabava sendo o sorriso dela para que todos pudessem vê-lo nos dias difíceis, para lembrar que o amor é importante, não importando o que as pessoas diriam. E que se algum dia esse amor chegasse ao fim, seria o abismo, uma extrema agonia, uma falta de ar, afinal, sendo um amor tão grande que nem o tempo se rendeu, é você o meu maior presente.

E parecia que eu me sentia assim, Alisson e eu tivemos um amor tão ingênuo, juvenil, com alguns percalços e diferenças pelo caminho, mas era tão grande que até hoje eu sentia por não ter lutado por nós. Tanto que isso dificultou muito minha vida amorosa. Não tinha ninguém como ele, não tinha aquela intensidade, cumplicidade, amizade entre nossas famílias, conhecimento e apoio um ao outro não importando a situação, ninguém chegava perto. E não era por ele ser lindo, jogador, tinha um futuro brilhante pela frente, é que com ele éramos Alisson e Aurora, ninguém seria como nós. Além de que ele foi meu primeiro namorado, não tinha nada como o primeiro amor.

Eu não conseguia parar de sorrir durante a música, talvez porque eu percebi que meu amor por ele ainda estava guardado em meu peito depois de tantos anos, mesmo depois de tantos trancos e barrancos. E pelo sorriso bobo dele, tive a impressão de que ele também ainda sentia alguma coisa, mas eu não consegui identificar se era algo bom ou ruim, para mim ele tinha travado.

- Vamos chamar Bianca Morello! – Falei quando as pessoas finalmente pararam de aplaudir e dei espaço para que o microfone fosse oficialmente aberto.

Apesar desse rebuliço de sentimentos que minha mente ficou, eu tinha ficado tão feliz em cantar de novo, mas tão feliz que foi como se um pássaro enjaulado tivesse sido solto após muitos anos. Depois que fui embora de Nova Hamburgo, eu não tive e nem criei situações em que eu pudesse cantar. Às vezes tocava um pouco de violão e cantava sozinha em meu quarto para relaxar ou passar o tempo, mas não mais em público. E cantar ali, com tantos estranhos e alguém tão importante na minha vida, foi incrível.Acho que esse era um dos motivos de eu não conseguir parar de sorrir. Do contrário, eu provavelmente estaria com a mesma cara travada de Alisson.

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