Capítulo 9

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ELA

Almoçamos rapidamente em uma casa de massas tradicional de Roma, nós e boa parte do tribunal, segundo meu pai. Mas duas da tarde já estávamos de volta. Como eu já depus, pude entrar e ficar com o pessoal lá dentro. Me sentei ao lado do Alisson, sentindo-o segurar minha mão firmemente e esperamos recomeçar.

Logo o juiz voltou para o tribunal e a acusação e a defesa começaram a debater. Primeiro a promotora pública começou a falar da acusação do réu, no caso, meu ex-chefe. Eles citaram uma lista incontável de provas e constatações, além de usar o meu testemunho e de outras pessoas contra o mesmo, incluindo de Donatella que, supostamente, deveria testemunhar a favor de Miguel.

Confesso que tudo o que ela falava e apresentava ao júri, eu sentia que me lembrava disso, parecia que eu vivia um filme em minha cabeça, o que era realmente assustador. Eu sentia que aquele era o meu julgamento, não de Miguel, sentia que tudo isso poderia causar um plot twist incrível e desmoronar para cima de mim.

Principalmente quando o advogado de Miguel começou a falar, meu nome foi citado umas 200 vezes e eu não estou exagerando, ele falava bastante e sobre mim, acho que cada um poderia falar por duas horas e parecia que eles realmente estavam interessados em falar por todo esse tempo. Só sei que eu perdi as contas de quantas a vezes a frase "Como assinado por Aurora Boaventura..." foi dita na corte. Parecia que meu testemunho não tinha servido para nada e eu ficava com vontade de chorar e interromper tudo, mas aí sim eu poderia ser presa.

Alisson não soltou da minha mão em nenhum momento, o que fazia com que eu me mantivesse um pouco sã em não jogar tudo para o alto, mas ouvir aquelas palavras me doíam muito. Sentia que eu só tinha sido convidada para trabalhar aqui em Roma para isso: para ser feita de capacho para ele. Minha credibilidade, minha experiência, minha ética e compromisso profissional simplesmente não existiam para ele.

- Não dê ouvido a eles. – Alisson cochichou, colando a boca em meu ouvido e eu assenti com a cabeça, mas na realidade eu só queria ficar em posição fetal e chorar muito.

Pelo menos meu pai nem os parentes de Alisson entendiam italiano, porque se soubessem, tenho certeza que seu Gilberto já teria intervisto há muito tempo. Mesmo não entendendo, ele podia notar que algo estava errado, que tudo o que era dito ali naquele tribunal me atravessavam como facas e causavam pequenos pontos de sangue em meu peito.

Quando o advogado de defesa terminou de falar, além de eu dar graças a Deus, o juiz perguntou se a promotora gostaria de fazer uma réplica, mas ela negou. Dava para notar que essa mulher tinha confiança no que estava fazendo, totalmente diferente do que tinham me indicado lá atrás para esse caso. Então, eu esperava que soubesse o que estava fazendo, pois senti que ele realmente me jogou dentro de um buraco e ainda fechou com areia por cima.

- Agora o júri pode se retirar para deliberar. – O juiz falou e as sete pessoas se retiraram para uma sala atrás do tribunal e o juiz voltou a falar quando a porta foi fechada. – Caso a decisão seja feita hoje até as sete horas desta noite, o veredicto e possível pena serão divulgados ainda hoje. – Ele falou, me fazendo olhar o relógio e perceber que eram pouco depois das cinco. – Esse tribunal está em recesso. – Ele bateu o martelo e as pessoas começaram a dissipar novamente.

Dei um pulo ao ouvir o martelo e apertei as mãos nos olhos novamente, abaixando meu rosto em meu colo novamente, sentindo somente a mão quente de Alisson em minhas costas e vários beijos em minha cabeça.

- Respira, respira! – Ele falava seguidamente e eu tentava parar de hiperventilar ali, no meio do tribunal.

- O que está acontecendo? – Ouvi meu pai me perguntar e senti que Alisson se levantou ao meu lado.

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