Capítulo 3-
Eu ouvia sons, sons que quase pareciam palavras, vozes que eu parecia conhecer mas que logo se perdiam. Alguns momentos eu estava ali, outros eu parecia desaparecer, era como acender uma luz, um segundo eu tinha consciência, outro tudo sumia. O tempo passava? Era uma situação tão estranha. Um segundo eu senti que eu quase conseguiria erguer meu braço, logo isso sumiu. Eu queria gritar "O QUE ESTÁ ACONTECENDO? QUEM EU SOU? O QUE EU SOU?" tudo sempre foi assim? Por que eu não conseguia lembrar de nada? Um segundo passou e a luz se apagou novamente, eu estava sumindo...sumindo aos poucos. Mas eu não queria, EU NÃO QUERIA SUMIR! EU QUERO FICAR! EU TINHA QUE FICAR.
A luz se acendeu.
-William, MEU DEUS WILLIAM -aquela voz soava muito familiar. -ELA ESTÁ ACORDANDO WILLIAM, NOSSA FILHA. -de longe eu a ouvia, fiz um esforço para me lembrar. Meus olhos abriram devagar e fui cegada por um clarão. O pisquei um porção de vezes, tudo foi desembaçando. Ouvia vozes altas, aquilo estava me assustando, porém eu não queria fechar os olhos de novo, eu estava com medo de voltar para aquele lugar onde eu estava sozinha. -Filha? -sim! Claro era minha voz, eu a conhecia. -Filha está me ouvindo? -Me virei para o lado direito, de onde o som vinha carinhosamente e vi minha mãe em um estado deplorável, ela estava com um rosto esgotado, o cabelo seboso e desarrumado, se não fosse aquela figura de pé me chamando de filha jamais a reconheceria.
-Filha fale alguma coisa- Não demorou até que uma pontada viesse em cheio na minha cabeça.
-AI QUE DOR -eu gritei, não entendi se minha mãe começou a chorar de tristeza ou felicidade.
-Graças a deus! Sophia está bem. -meu pai apareceu correndo na sala e se jogou no sofá ao lado de minha cama. Observei o quarto devagar por conta da dor infernal na minha cabeça, eu estava em um quarto de hospital, abaixei o olhar para meu corpo, haviam tubos e curativos em meus braços. Senti um dos tubos entre minhas narinas. Levantei o braço alguns centímetros da cama percebendo que tinha controle sob mim novamente e senti um alívio. Levantei o braço mais rápido e minha mãe gritou. Passei as mãos pela cabeça até que senti um curativo muito grosso e uma dor forte.
-Minha cabeça dói muito. -eu reclamei com os olhos enchendo de lágrimas.
-Isso não é possível- Uma figura desconhecida parou na porta do quarto, ele era moreno e muito alto, todo vestido de branco e com um jaleco branco, provavelmente um médico. Ele se aproximou devagar e encostou em meu braço me observando fascinado como se eu fosse uma espécie de diamante, que poderia se partir a qualquer momento. -Sophia você, está...acordada.
Sempre pensei que médicos fossem mais inteligentes do que isso. Sim era evidente que eu estava acordada, mas a única coisa que eu conseguia pensar era em quando que iam tirar a dor ardente da minha cabeça.
-Sim eu estou. Mas minha cabeça dói muito, isso é terrível! -reclamei e todos na sala riram. Por que meu sofrimento era causa de riso? Alguém estava me vendo rir? Eu acordei no hospital com uma dor terrível de cabeça sem lembrar de nada e todos dão risada da minha queixa? Tenho cara de palhaça por acaso.
-Mas é claro que sim, nos desculpe estarmos tão atordoados é que não esperávamos que você fosse..-O médico parou de falar no mesmo momento e lançou um olhar para meus pais. -bem falamos disso depois, o importante é que você está bem.
-Dor de cabeça. -respondi impaciente
-Vou pedir que uma enfermeira lhe traga remédio para sal dor de cabeça. -Essas foram as últimas palavras do médico até que ele sumiu pelos corredores do hospital.
Minha mãe estava chorando e logo veio me abraçar, acabei soltando um "ai" quando ela me apertou e logo ela se separou de mim. Eu não entendia nada que estava acontecendo.
-Mãe, o que foi? Por que eu estou aqui? -perguntei perdida e ainda com muita dor de cabeça. Será que essa enfermeira tinha que demorar tanto?
-Não sei como dizer isso...bem vou direto no assunto, Sophia alguém atirou em você. E o tiro acertou sua cabeça, não tínhamos a mínima esperança, mas nós continuamos acreditando que você era mais forte e veja, aqui está você! -Meu pai disse e se emocionou no meio da fala.
Para tudo, eu havia levado um tiro? Em segundos toda a cena se passou pela minha cabeça, era como se toda a memória voltasse junta e pressionasse meu cérebro com muita força. Aquela dor ardente que eu senti antes que caísse no sono mais gostoso que já havia tido, era um tiro. Comecei a chorar na hora. Não aguentei a emoção que vinha com aquela memória. Eu havia levado um tiro. Não há modo fácil de se entender isso.
Meu primeiro reflexo foi levantar os braços, depois que vi que tinha controle sob eles mexi os pés. Era como se um peso de milhões de quilogramas saíssem de mim. Eu havia levado um tiro na cabeça e havia sobrevivido ilesa? Isso não era mesmo possível.
-Quem fez isso? -perguntei começando a me acalmar. Meus pais tinham o olhar cheio de fúria e ódio, mas ao mesmo tempo de dúvidas. Eles não sabiam quem tinha feito isso, e é claro eu muito menos sabia. -Espera, a última memória que eu tenho era da reunião para o senhor Hunter.
-Sim filha...foi alguém, alguém que estava na reunião.
Não eles não podiam estar falando sério, não podia ter acontecido lá. Eu não acreditava. Aquela reunião na minha casa, na minha fortaleza, não era verdade. Não pode ter sido no lugar onde tinham todas as pessoas que eu conheço desde os meus primeiros anos.
Não existia a menor possibilidade de alguém ter invadido o condomínio fechado em que morávamos. O que indicava que quem quer que havia feito isso comigo, era alguém que conhecíamos. O pior de tudo, alguém que confiávamos o suficiente para entrar na nossa casa. Por que? Por que alguém faria isso comigo?
Eu não sou do tipo de pessoa que tem inimigos, não conseguiria imaginar ninguém, que tivesse motivos para me odiar a tal ponto? Mas e se a pessoas não quisesse me acertar? E se o tiro foi de raspão e a pessoa mirou em alguém errado? Será que isso era possível? Não importava que sim, de qualquer forma o que eu conseguia pensar era que queriam que aquilo acontecesse exatamente a mim, alguém que eu amo me queria morta. E a única razão para que ela não tenha conseguido o que quer, é que provavelmente não era para ser a minha hora, porque eu lutei para ficar, porque eu me salvei de minha própria morte. Essa pessoa pode ter sido qualquer um de nossos amigos, clientes ou parentes. E quando essa pessoa souber...quando essa pessoa que queria me eliminar souber que eu ainda estou viva, ela pode tentar novamente. A minha única saída, a única forma de ficar segura novamente é: descobrir quem foi que tentou me matar. Esse agora será meu objetivo de vida. Vou descobrir quem ela é, antes que ela tente fazer isso...de novo.
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Reliving
AdventureSophia é uma jovem rica que vive em um condomínio fechado de luxo de Nova York, cercada de mordomias e pessoas que fazem tudo por ela por todos os lados. Herdeira de uma das companhias de software mais importantes do país, a última coisa que lhe pas...