- Estamos por nossa conta maninhos - analisei o obvio, enquanto entravamos para a sala trancando a porta em seguida com uma cadeira.
- Não discordo de você mano - Léo confirmou. - Vamos logo para a próxima armadilha.
- Não sou boa de luta, e nem mesmo quero lutar contra ele - sussurrou Samanta em meu ouvido.
- Eu sou boa no nunchaku, posso ganhar tempo caso tenhamos que fugir - garantiu Sammy Kim firmemente.
- Tudo bem então - encerrei a conversa. - Desçam com cuidado, um por um, sem denunciar nosso plano.
Cada um desceu sem fazer barulho, até mesmo o Saci-Pererê estava quieto demais. Assim que fiquei sozinho eu o chamei.
- Você ta aí, Saci?
Silêncio.
- Para de graça mano, sei que está atrás dessa porta, vai... apareça.
Um chute me pegou de surpresa, gritei alto o suficiente para assustar meus amigos lá em baixo. Ainda bem que ninguém se manifestou.
- Para de bater na porta Saci, por favor.
Mais uma batida forte, mesmo sabendo quem é, meu coração estava palpitando mais que o normal. Mais uma batida forte e a porta é arrombada. Ops, agora que notei: como vamos prender o Saci-Pererê em uma sala que não tem mais porta? Que vacilo o meu, cara. E que desperdício de plano e tempo. Pelo menos eu não teria que lutar contra ele.
Assim que ele entra na sala sorri ao me ver no canto com uma expressão de pavor, fora minhas mãos tremulas que agitava a corda do arco inconsciente, seria uma cena hilária se não estivesse com medo.
- Veja como você treme diante de minha presença - sua voz soava sarcástica com tom de zombaria. - Assim que eu gosto.
Já que a segunda armadilha falhou, eu não queria ficar mais tempo perto dele ainda não estava pronto para lutar de fato com ele. Atirei uma flecha de qualquer jeito só para dar um trabalho pro meu adversário. Nem mesmo quero saber se ele desviou ou não. Quebrei o falso piso de madeira com o meu pé e pulei sem pensar duas vezes. A queda não me machucou - agradeço por isso. Corri até meus amigos do outro lado do corredor. Agora só dependíamos da terceira e última armadilha. Para isso ele teria que pisar no local certo.
- Ótimo - resmungou Sammy Kim. - Lá se vai nossa segunda armadilha.
- Se a terceira falhar eu dou no pé - disse Léo agitado.
- Faça isso pra ver se não te meto a mão - vociferou Jeferson em seu ouvido. - Estamos no mesmo barco garotão.
- Ninguém vai deixar ninguém para trás - reafirmou Samanta. - Entramos nessa juntos, agora sairemos juntos.
- E o J.P e o Alison? - perguntei preocupado.
- Estão doloridos, mas vão passar bem - explicou-me Léo. - Estão lá em cima no segundo andar prontos para puxar a corda quando o Saci pisar em falso.
- Perfeito, galera - parabenizei. - Quem será a isca dessa vez?
- Como não temos tempo para decidir... eu vou - respondeu Sammy Kim. - Apenas fiquem alertas para caso eu precisar de ajuda.
- Tudo bem - respondi dando um beijo em sua testa. - Tome cuidado, por favor.
- Estaremos te vigiando - confortou Samanta.
Nós subimos até o segundo andar separados um dos outros em vários ângulos diferentes para ataca-lo em todas as direções. O silêncio era tão nítido que conseguimos ouvir tudo que Sammy Kim dizia para o Saci-Pererê que agora caminhava entre os bancos da igreja como que estudando a garota solitária, sua nova presa.
- Está mancando Saci - provocou. - Por acaso se machucou enquanto quebrava tudo por aí? Logo se vê que você é tão mortal quanto a gente. Podemos vencer.
- Vejo que os jovens que vieram me estudar são muito atrevidos - resmungou o Saci. - Eu até que me amarrei nisso.
- Gostaria de fazer uma parceria conosco?
- Acredite, eu gostaria mesmo de ser conhecido por aí sem precisar me esconder, mas as coisas não saem como queremos.
- Por isso que você se esconde na escuridão,? Para não ser caçado e estudado?
- Ficou tão obvio assim? - ele começou a caminhar lentamente em direção a ela, fazendo um pequeno drama como nos filmes de terror.
Isso Saci... continua assim que você estará onde queremos.- Agora que tudo está claro pra mim, eu... poderia tocá-lo?
Aquilo pegou todos de surpresa, até mesmo o Saci não esperava por essa ao parar por um segundo para processar a informação. Confesso que demorei muito para entender sua jogada. É claro, ela estava o atraindo para a armadilha, essa é a minha garota, usando a linguagem corporal feminina para atrai-lo. O fato de estar desarmada só comprovava sua confiança em nós.
O Saci ia falar alguma coisa, mas se calou quando ela estendeu as mãos com um "por favor" muito sedutor. Ela não deu brechas para ele pensar, estava conseguindo sua atenção 100%. Ele caminhou em sua direção até chegar no ponto da armadilha. Perfeito, agora o pegamos.
- PUXEM - ela gritou despertando o Saci-Pererê.
Tarde de mais amigo. J.P e Alison puxaram a corda, laçando a perna esquerda do Saci violentamente para o ar, ele caiu com tudo ao chão, tentou se segurar em algo por perto, mas em vão. Pai e filho ergueram com toda sua força até ele estar bem na nossa frente que nesse momento já estávamos com nossas armas apontadas para ele.
- Isso te domou um pouco, criatura folclórica? - disse com seriedade apontando meu arco para ele.
- Captura do Saci-Pererê completa - falou Alison com orgulho.
- Nosso primeiro contato com o sobrenatural real, estamos diante de uma lenda viva - disse Samanta admirada.
Sim, agora podemos comprovar a existência do sobrenatural, esse é apenas o começo de muito mais que está por vir.
- Sabem o que isso significa galera? - analisou Léo. - Temos em nossas mãos o poder de revelar ao mundo e decidir passar adiante essa informação das lendas folclóricas e quem sabe todas as outras tem sua veracidade comprovada por aí se a buscarmos.
- Seremos ricos e famosos - ponderou J.P.
- Não - intimou Jeferson. - Não fazemos isso para ganhar créditos, todos esses anos e elas permanecem escondidas por um motivo que já sabemos, que continuem como está.
- No fundo ele tem razão pessoal - disse friamente. - Não vamos usar nosso quadro para benefícios próprios, estamos fazendo nosso trabalho como entretenimento, isso tudo ficará só entre a gente. Deixem o mundo descobrir por si só. Isso é maior e mais sério do que pensei.
- Alifer analisou tudo que eu pensei - concordou Alison. - Quando criança ouvi lendas e histórias mais perigosas do que ficar cara a cara com o Saci-Pererê. Há casos em que estaremos com o risco de vida e morte.
Ninguém mais se manifestou, pois sabiam que o perigo que correríamos se fossemos atrás de todos os mitos. Mas uma coisa ficou clara para todos... nosso primeiro contato com uma das lendas não deixaríamos passar em branco.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mitos Reais do Folclore Brasileiro: O Saci-Pererê (Concluído)
Mistério / SuspenseJá se perguntaram se os personagens do folclore brasileiro de fato existiram e se eram somente uma história feita para crianças dormirem? Será isso que cinco jovens com seu novo quadro do YouTube irão desvendar ao andarem pelo Brasil a fora em busc...