(2606 palavras)
Eu sempre acreditei que minhas neuras não passavam disso: neuras, e jamais se concretizariam. Eu estava errada. Bem, quase errada. Na verdade, talvez eu estivesse certa. Tudo bem, agora não estou falando coisa com coisa mas eu não sei exatamente de mais nada. Só acho que morri afogada e estou vivendo uma espécie de transe pós-morte traumático no qual eu ainda respiro mesmo estando debaixo d'água e mesmo não conseguindo abrir os meus olhos.
A situação não estava boa, mas é como dizem, tudo que está ruim pode ficar bem pior. E foi exatamente o que aconteceu! Senti um cutucão na minha orelha. Na verdade, não sei se era bem um cutucão. Bem, era um cutucão, mas não um cutucão qualquer, acontece que não eram dedos que me tocavam, isso eu tinha certeza.
- Qual o problema dela? Porque não acorda logo? -ouvi uma voz ridícula falar.
- Ela quase morreu, é normal demorar para se recuperar. Agora pare de cutucar a cabeça dela ou pode causar uma contusão. -outra voz disse, uma voz masculina.
Então quer dizer que eu não tinha morrido? Mas então porque eu tinha a sensação de ainda estar submersa embaixo d'água? Aos poucos comecei a abrir os meus olhos e a primeira visão que tive quase me fez gritar. Tinha uma lagosta falando. Uma lagosta! Eu morri, com certeza morri. Lagostas não falam! Ou será que falam? Talvez a minha neura com a lagosta mãe realmente tivesse um fundo de verdade... Eu sabia! Eu sabia que nem todas as minhas neuras eram invenção da minha cabeça.
Observei com os olhos entreabertos enquanto a lagosta conversava com um... Tritão? Tá, isso já é demais! Definitivamente eu morri! Não que um tritão existir fosse mais louco do que uma lagosta falar, mas a combinação das duas coisas era inaceitável até mesmo para minha mente criativa.
Eles estavam tão absortos na conversa que sequer perceberam que eu havia aberto os olhos. Talvez eu devesse limpar a garganta e perguntar o que estava acontecendo. Não, não, melhor não. A melhor coisa no momento é fingir que ainda estou dormindo/morta até ouvir as verdadeiras intenções deles comigo. Vai que realmente é uma vingança planejada?Quando percebo que a lagosta está virando em minha direção, fecho os olhos rapidamente. Eu nunca fui boa em fingir soneca porque eu sempre começava a rir, mas nunca estive em uma situação dessas antes então torço para não ter uma crise de risos neste momento tão inoportuno.
- Talvez se eu pegar uma alga e enfiar dentro da boca dela, ative algum reflexo de sobrevivência. -a lagosta comenta.
Ah pronto! Agora além de falar, lagosta também quer dar ideia. Ideia muito mal elaborada devo ressaltar. Permaneço com os olhos fechados esperando a resposta do Tritão.
- Que ideia péssima! -Ele responde.
Pelo menos alguém tem bom senso, penso.
- Se quer mesmo ativar um reflexo de sobrevivência deveria tentar cortar um dos braços. -termina o Tritão.
Como é que é Senhor cauda verde?
- Ficou maluco? -grito sem perceber e acabo assustando os dois... seres.
- Você estava bisbilhotando a nossa conversa? -o Tritão pergunta.
- Sim, e graças a Deus! Vocês iam cortar o meu braço?
- É claro que não, eu estava brincando. - ele ri.
- Eu não estava. -a lagosta fala- Ela bem que merece.
- E você fica bem mais bonito no meu prato, de boca fechada. -falo brava.
- Agora você vai ver!
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Por água abaixo
FantasyExistem momentos na vida em que a sensação de estar indo por água abaixo é tão intensa que é possível sentir o nível de oxigênio cair drasticamente. Felicity Burnett pensava conhecer bem essa sensação até o dia em que, literalmente, desceu por á...