Capítulo 8 - Salva pelo gongo

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(990 palavras)

- Espere! - falo rapidamente - Eu posso explicar!

- Muito bem, explique-se então. - o primeiro fala, cruzando os braços.

- Eu... Bem... Eu...

O que vou inventar? Pensa, Felicity, pensa.

- Ela estava sob minhas ordens.

   Ouço uma voz familiar e rouca proferir as últimas palavras e arregalo os olhos quando vejo o rei se aproximar em sua forma imponente. Bem na hora certa!

- Vossa Majestade!

    Os guardas curvam-se em reverência, assustados.

- Vocês estão dispensados. - o rei manda.

- Mas majestade, as ordens são... - um dos guardas começa a falar mas é interrompido.

- Eu disse que estão dispensados! - a voz do rei se eleva e eu teria me encolhido toda se ele estivesse falando comigo dessa forma.

- Sim, vossa majestade. - os guardas concordam e fazem uma reverência antes de irem embora.

   O rei apenas me olha por um instante antes de virar as costas e começar a nadar em direção ao castelo. Isso significa que eu devo segui-lo, certo?

Alcanço-o e começo a nadar ao seu lado, observando se há sinais de irritação ou de raiva extrema em seu semblante, no entanto, não vejo nada, apenas o mesmo olhar vazio e sem emoções que ele insiste em manter em seu rosto.

- Hum... Rei? - chamo com um sorriso.

   Ele não me responde, apenas continua nadando, o que me faz sugestivamente pensar que ele está contendo a raiva.

- Eu juro que tentei chegar antes, mas a hora passou tão rápido que...
- Agora não, Felicity. - ele me corta.
- Mas é que...

    Ele se vira em minha direção rapidamente, assustando-me.

- Aqui não, Felicity. - ele fala olhando para os lados - Alguém pode nos ouvir e não será nada bom. Então, por favor, pode ficar quieta até chegarmos? - ele pede quase em um sussurro.

    Balanço a cabeça em afirmação e, logo em seguida, também começo a analisar ao meu redor pensando que, talvez, o assassino esteja por perto observando cada passo e movimento do rei. Com isto em mente, abraço ainda mais forte o livro contra meu peito, como se eu fosse capaz de fazê-lo se moldar ao meu corpo. Como já diziam os antigos, as paredes têm ouvidos, e se isso se aplica aqui, então os corais ao nosso redor também devem ter.
   
   Assim que estamos dentro do castelo, o rei continua nadando em frente até estarmos na porta da biblioteca. Então, ele a abre e faz sinal com a mão para que eu entre e eu fico feliz em mais do que depressa, obedecê-lo.  No momento em que ele fecha a porta, não me contenho e começo a falar animada.

- Você não adivinha o que eu tenho! - sorrio.

     Eu estava tão feliz que se tivesse pernas, estaria dando pulinhos neste instante.

- Que tal o péssimo hábito de fazer exatamente aquilo que eu disse para não fazer? - ele pergunta contendo a irritação.

   Oh... Okay. E eu pensando que ele não ia me dar bronca pelo atraso, mas vejam só, ele só estava se segurando para "soltar os cachorros".

- Se me permite, eu posso explicar. - falo com um sorriso amarelo.

- Explicar o quê Felicity? A única coisa que te pedi foi para voltar antes do toque de recolher e você não me deu ouvidos! - ele fala exasperado.

- Eu sinto muito! Mas acontece que perdi a noção do tempo com as descobertas que fiz.

- Isso não importa, Felicity. Já parou para pensar o que teria acontecido se eu não tivesse chegado na hora em que os guardas te encontraram? Poderia estar sendo torturada para falar coisas que você nem tem envolvimento!

   A voz dele adquire um tom diferente em detrimento das outras vezes, como se ele realmente se importasse com o que acontece comigo, mas, nós sabemos que não.

- Vossa Majestade, será que posso explicar-me? - tento mais uma vez.

    Ele me encara como se eu fosse uma criatura estranha e tivesse vindo de outro mundo. Bem, tecnicamente vim.

- Acha mesmo que tem uma explicação plausível? - ele pergunta.

- Eu tenho certeza! - confirmo com a voz levemente subindo um tom.

     O rei solta um longo suspiro, como se não acreditasse no que ia dizer e fala:

- Está bem, Felicity. Vamos ouvir o que você tem a dizer. - ele fala cruzando os braços.

- Muito bem, se prepara para a bomba que vai sacudir o fundo desse mar! - dou uma risadinha de mim mesma.

- O que você quer dizer? - ele pergunta com a sobrancelha erguida em dúvida.

- É difícil de explicar, você precisa ver com os próprios olhos! - falo caminhando em direção à mesa.

        Eu abro o livro na página correta e faço um sinal para o rei se aproximar e ler o que está escrito. Ele se concentra em cada palavra e frase descrita e quando finalmente termina, percebo a expressão de preocupação tomar conta de seu semblante. 

- Se o que estiver aqui for verdade... E se o assassinato realmente estiver tentando cumprir estes passos... Então...

- Sim. - concordo - Isso significa que todos os integrantes da nobreza estão correndo risco de vida.

       O rei passa a mão pelo rosto, pela primeira vez parecendo um garotinho indefeso e sem saber o que fazer.

- Onde você conseguiu esse livro? - ele pergunta.

- Com meu amigo Darvin, você precisa conhecer ele, vai adorá-lo! Ele é muito divertido e muito inteligente também...

- Felicity... - ele me corta hesitante - Confia nele? Acha que este livro é verdadeiro?

      Ele me encara como se tivesse medo de minha resposta e posso ver a tristeza percorrer seus lindos olhos verdes que, pude perceber, por vezes adquire um tom azulado. O que eu vou dizer? Eu confio em Darvin? 

- Bem... Eu nunca tive motivos para desconfiar de Darvin... Além do mais, o que está escrito neste livro não parece ser mera coincidência com a realidade e com a morte de Sr. Thomas. - dou de ombros.

     Ele fica em silêncio por uns instantes, seu olhar aparentemente muito distante de onde realmente estávamos.

- O que você pretende fazer? - pergunto com medo da resposta.

- Eu... - ele suspira - Eu não sei, Felicity, eu realmente não sei. - admite.

Por água abaixoOnde histórias criam vida. Descubra agora