Capítulo Seis

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CERSEI LANNISTER I

- As tropas inimigas cercaram as muralhas. - Qyburn disse a Cersei que servia uma taça de vinho. - O dragão foi visto há pouco indo em direção a Baía da Água Negra, dizem que a garota dragão usa uma armadura negra, como a de Rhaegar Targaeryn.

- A armadura de Rhaegar não parou o martelo de batalha de Robert, e a armadura dela não irá parar um tiro de balestra quando a acertarem no peito.

Qyburn concordou com um aceno de cabeça, e a seguiu com o olhar, enquanto Cersei sentava-se em uma cadeira. Não parecia preocupada por saber que um dragão vinha de encontro a eles, muito pelo contrário. Tinham balestras o suficiente para derrubar um dragão, e um único tiro certeiro poderia ser o suficiente para o matar, e era nisso que ela se apegava.

Havia passado por muita coisa para chegar até ali, para se tornar rainha, desde seu terrível casamento com Robert Baratheon, até a morte de seus filhos, assim como o abandono de Jaime. Não havia passado por aquilo que passou, superado tudo o que superou, para que fosse a filha do Rei Louco aquela que a destronaria.

Margeary era a rainha da profecia que lhe fora feita na adolescência, e Tyrion o valonqar, mas assim como a Tyrell estava morta, o anão estaria no final daquele dia. Não o deixaria escapar daquela vez, sempre soube que devia ter o sufocado no berço. Fora piedosa o bastante para deixar o brinquedinho de Jaime viver e agora ele desonrava sua família se aliando a uma Targaryen.

- Os sussuros dizem que Lord Tyrion foi preso pelos Imaculados de Daenerys. - Qyburn contou, a fazendo gargalhar.

- Achei que Tyrion fosse a Mão dela. - Cersei riu. - É mesmo filha de Aerys... Quem é a nova Mão dela ? O filho da estúpida Lysa Arryn ? Edmure Tully ? Não... Sansa Stark ! O que Tyrion fez ? Se recusou a assistir a execução de Jaime ?

- Sor Jaime foi libertado contra a vontade de Daenerys, talvez esteja em King's Landing. Já Sansa Stark cavalga ao lado do irmão bastardo que se intitula rei, usando o broche de Mão de Daenerys.

Bem poderia ser o vinho, mas ela sentiu um gosto doce nos lábios ao saber que Jaime estava próximo, a união que possuíam era grande demais para até eles mesmos tentar separar. Vieram ao mundo juntos, o conheceram juntos, e um dia - não aquele - eles partiriam juntos. Não importava quantas vezes teriam que se separar, não importava se ele havia a abandonado, por mais que ainda doesse, ele estava lá, voltando por ela.

Westeros fora obrigada a aceitar os Targaryen, seus incestos, dragões e loucura. Cersei os faria aceita-los também, afinal era a rainha, e o povo não tinha direito a escolha.

Não podia negar que Daenerys era uma garota de coragem, poderia ter se casado com Edmure Tully ou Robin Arryn, poderia ter tentado oferecer um casamento político aos Tarly ou até mesmo a Tyrion, mas ela ignorara todas as alianças políticas que poderia ter feito para se casar com um bastardo. Sansa Stark teria dobrado o joelho com ou sem casamento, assim como os outros Lords nortenhos, mas ela se casara por amor após dar "legitimidade" ao bastardo.

Cersei admirava isso, teria feito o mesmo por Jaime, negaria qualquer aliança política pelo seu irmão, esse tempo já havia passado.

Mas era certo para si, que a garota Targaryen morreria por isso, Sansa julgava ser mais inteligente que os demais, e ouvira o que Bolton fizera com ela, mas ainda não passava de um passarinho. Sempre seria um passarinho tolo, achando que poderia jogar o jogo dos tronos. Se Daenerys tivesse dobrado o joelho quando chegou em Westeros, talvez Cersei tivesse a deixado viver em Dragonstone caso tivesse se livrado daquelas feras que chamava de filhos. Ou não, era verdade que os Targaryen não eram mais amados do que os Lannister, mas a garota poderia ser um perigo de qualquer jeito.

Um dos servos chamou Qyburn, que se afastou, a deixando sozinha com Montanha por um momento. Cersei pensou que quando Daenerys morresse, pudesse o mandar atrás da cabeça de Sansa, para a colocar onde Joffrey um dia colocara a de Ned Stark. Não concordara com isso naquela época, mas a verdade era que Joffrey estava certo, e deveriam espetar a cabeça de cada um dos nortenhos em um estaca. Daria tudo para fazer Robert ver isso, mas a cabeça de Lyanna também deveria estar lá, assim como a de Ned, somente assim seria o suficiente.

Às vezes desejava que Rhaegar tivesse vencido no Tridente, nunca teria sido rainha, mas teria dado um jeito de ter ficado em Casterly Rock com Jaime e seus filhos, que ainda poderiam estar vivos. Talvez os Targaryen fossem mortos do mesmo jeito, o pai poderia ter subido ao trono, e ela o convenceria, não precisariam se aliar a mais nenhuma família.

- Vossa Graça ? - Qyburn a chamou. - A garota Targaryen destruiu a frota Greyjoy e está a caminho da cidade.

Cersei se levantou para servir mais vinho, não estava surpresa que a frota de Euron tivesse sido tão inútil como ele fora. Ele derrubara um dos dragões antes de morrer, era verdade, e não é como se ela não tivesse gostado de se ver livre de um daqueles monstros, mas soube que o dragão já estava ferido da batalha em Winterfell, o que certamente havia tornado sua morte mais fácil. Tudo o que precisava era de um tiro certeiro, e ela havia combinado um preço justo por isso, um preço justo para protegerem a Baía contra o dragão negro e as embarcações de Yara Greyjoy e Arianne Martell.

Talvez devesse agradecer a Daenerys, agora não teria que os pagar e quando as outras duas chegassem a capital, a guerra já teria acabado e ambas pagariam pela traição a coroa.

Ela se aproximou da janela, podia ver as muralhas ao longe, onde haviam mais de quatrocentos arqueiros e cinquenta balestras, a frente dos muros estavam os vinte mil homens da Companhia Dourada, e o exército Lannister do lado de dentro dos muros. Também pode ver ao longe, um grande lençol negro que seria o exército de Daenerys Targaryen. Abaixo de si, o povo corria para dentro dos portões da Fortaleza Vermelha, felizes pela proteção de sua rainha.

- Mandem fechar os portões. - Ela disse para Qyburn. - Assim como homens para procurar por Jaime, se ele estiver na cidade eu quero que seja encontrado.

O servo correu para obedecer ao receber um olhar de Qyburn, que se aproximou de Cersei a olhando com cumplicidade.

- Ela não atacará as muralhas. - A Lannister disse. - O povo inocente que ela tanto preza morrerá se o fizer.

- Em todo o caso, cuidei para que o fogovivo fosse colocado nos lugares estratégicos, como pediu. - Qyburn disse. - Se o exército dela ultrapassar os portões...

- Eu o mandei colocar por toda a cidade. - Cersei o interrompeu. - A garota não terá a capital de maneira alguma.

- Ela não terá, Vossa Graça.

Cersei assentiu, segurando o pequeno frasco que havia em seu colar com um pouco de força. Se todos os planos falhassem, se os deuses favorecessem a garota Dragão, não daria a Sansa Stark a oportunidade de a executar. Nunca.

Os portões foram fechados abaixo de si, e ela franziu a testa enojada ao ouvir os gritos do que haviam ficado do lado de fora, mais do que metade da população, certamente muito mais. Deveriam agradecer pela bondade dela em abrir os portões, mas pareciam carniceiros, amontoados um sobre os outros, gritando, xingando, empurrando, prontos para colocar a Fortaleza Vermelha abaixo.

Os mais espertos corriam, procurando um lugar para se esconderem, tão aterrorizados que a fazia ter vontade de rir.

Ela se perguntou como o exército de Daenerys faria para passar pelos portões da cidade, e sorriu de canto enquanto tomava mais um gole de vinho. Assim como Sansa Stark, a garota dragão não estava pronta para jogar o jogo dos tronos, e como não poderia vencer, ela morreria. Ambas menininhas tolas cheias de sonhos de verão.

Viu um pássaro descendo das nuvens, quase tão distante quanto os dias em que ela mesma fora uma garota tola. Então o pássaro foi crescendo, se tornando cada vez maior, e somente os gritos, que chegavam quase inaudíveis em seus ouvidos, a fizeram perceber que não era um pássaro. Os homens nas balestras as viraram em direção a e ele, e Cersei sorriu, a garota dragão cometera um erro ao ir até ali, mas para a surpresa dela, o que vira não fora exatamente o que esperava.

Tiros foram disparados, o dragão desviou, e então queimou tudo abaixo de si, homens, balestras, o que quer que estivesse no caminho. Daenerys fez o dragão dar a volta majestosamente, desviou de mais uma chuva de arpões, e o fogo que saiu de sua boca fez o portão da cidade desaparecer.

Fire and bloodOnde histórias criam vida. Descubra agora