|• Capítulo 1•|

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Quando lhe disserem que suas esperanças podem se extinguir em um dia, acredite. Aconteceu comigo.

A vida não vem com manual de instrução, então você precisa aprender como se funciona a duras penas. Aos quinze anos eu tive minha primeira lição: A dor de perder alguém.

Minha mãe foi diagnosticada e agora fazia parte de uma grande porcentagem de doentes terminais. E a pessoa que deveria apoiar e nos dar forças, estava ocupado sendo covarde. Restou para a garota vulgo eu, lidar com as consultas, os exames, a perca dos cabelos e seu último suspiro.

Mal enterrei minha mãe e precisei dar Adeus a tudo que conhecia em prol no novo casamento do meu pai, não preciso dizer em que momento todo esse romance começou certo?

Não é como se eu não soubesse o quão filho da puta ele poderia ser, mas desde que família não se escolhe simplesmente fechava os olhos para as tantas falhas cometidas.

Entretanto, existe um limite para tudo que podemos suportar e eu senti que aquela linha, ele havia cruzado em demasia.

Alguns anos se passaram e como uma reencarnação a mesma história se repetiu, com a diferença de quê dessa vez eu estaria sozinha, literalmente.

O casamento perfeito estava em ruínas, por meses assisti a isso pelos bastidores. Esqueceram que não se constrói uma família destruindo outra. Piorou muito com a descoberta do primeiro filho do casal, as brigas intensificaram e logo todos os sinais de instabilidade estavam de volta naquele homem que um dia foi meu herói.

Minha madrasta havia acabado de chegar da maternidade para descobrir que seu marido havia pulado fora do barco.

Nos dias consecutivos eu precisei carregar nos ombros a responsabilidade de estudar, cuidar de uma criança recém nascida e da respectiva mãe dela que acabou apresentando indícios de depressão pós parto.

Dizer-lhes que estava no auge do esgotamento seria eufemismo, me assemelhava a cacos, todo meu corpo doía e sentia como se meu cérebro fosse se desligar a qualquer momento. É o que acontece quando se passa mais de 24 horas acordada.

A pequena Anne chorava a noite inteira e dormia durante o dia, então eu agradecia porque apesar do meu cansaço, eu poderia estudar sabendo que nada aconteceria desde que ela ficasse quietinha dormindo em seu berço.

As vezes eu me pegava sentindo raiva do meu pai, e mesmo sabendo o quão ruim isso vai soar, eu também me sentia de uma certa forma vingada.

Pois, enquanto minha mãe sofria em seus últimos suspiros, meu progenitor se agarrava com a minha vulgo madrasta. Ela deveria saber quê: quem traí uma vez, traíra novamente. Ontém ela foi o motivo de declínio do casamento alheio, hoje ela estava sentindo na pele a devolução de suas ações.

[•••]

É sexta-feira e eu não consegui ir a aula. Anne chorava sem parar e quase me juntei a ela em posição fetal. A dispensa estava vazia e meu estômago clamava por algum alimento, pensei em procurar um emprego de meio período, mas lembrei que não havia quem tomasse conta da minha meia irmã.

O barulho de choro despertou minha madrasta. Me encolho quando ouço seus passos ecoarem na madeira do piso. Bruscamente a vejo pelo canto dos olhos destampar um pote e retirar um pouco de dinheiro que jazia ali.

Por longos segundos ela me observa, eu faço o mesmo tentando decifrar sua expressão. Não é como se fôssemos as melhores amigas do mundo, mas em toda minha estadia nessa casa não houve um dia em que a desrespeitei, ela só... não existia para mim.

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