Secundus: Pythonissam

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— Hm... — Jeongguk remexia-se na cama dura e apertava as pálpebras com força para finalmente tentar despertar de um sono que parecia levar muito mais tempo do que o comum.

Escutava claramente o som alto e melodioso dos pássaros, coisa que não ouvia com facilidade de dentro de seu quarto, por isso logo de cara estranhou. Seu corpo estava moído, a cabeça doía consideravelmente e seu braço estava... preso?

Ao perceber que seu pulso estava amarrado em algum lugar deu um pulo e gemeu dolorido ao sentir seu ombro direito do braço livre repuxar de dor. O que diabos estava acontecendo consigo?

— Não acho que seria bom se movimentar com tanta brusquidão, cavalheiro.

Demorou-se a conseguir enxergar qualquer coisa naquela acomodação com clareza, seus olhos estavam embaçados. Conseguiu com muita calma olhar para o cômodo acizentado feito de pedras, a pequena mesa de cabeceira, a janela mal acabada aberta e a natureza no exterior. Piscou mais algumas vezes encontrando uma espécie de baú com vestimentas claras e uma pele amarronzada de algum animal acima desta, via com clareza as próprias pernas e conseguiu distinguir que deitava-se sobre lençóis limpos de uma cama não tão confortável como a sua própria. Conseguiu distinguir uma silhueta logo aos pés da cama e tentou pôr – por puro reflexo – a mão direita sobre o quadril a procura de sua espada mas não conseguindo mover o braço com perfeição devido a dor que sentira novamente no ombro.

— O que fizeste comigo?

— Salvei-te? — A silhueta desconhecida tinha novamente o respondido. Piscou mais algumas vezes e conseguiu finalmente focar-se na pessoa menor que si que vestia um capuz marrom sujo. Tinha soltado tais palavras com escarnio, apesar da voz doce.

— Eu não... Eu não sei aonde estou.

— Não sabes, cavalheiro? — A figura levantou levemente o rosto e Jeongguk conseguiu enxergar um pouco melhor as feições do rapaz que parecia jovem, de bochechas coradas e lábios cheios, os olhos afiados e finos, quase perdendo-se em meio a carne da própria face — Eu salvei-te de uma matilha inteira de lobos famintos.

— Você... Salvou-me? – A figura deu-lhe apenas um balançar com a cabeça, respondendo então positivo — E o que houve com meu ombro? — Jeongguk já tinha desgrudado os olhos da silhueta esguia e analisava o braço solto, sobre a própria barriga. Tinha o ombro enfaixado com um certo cuidado, resquícios da cor escarlate do sangue ainda estavam por lá, a dor ainda vívida, apesar de quase não senti-la quando não movimentava o braço direito.

Jeongguk conseguiu analisar com certo cuidado o próprio peito desnudo, porém, apesar disso não sentia dor, uma pele branca e feopuda de algum animal o cobria e esquentava com esmero.

— Não achas que deveria agradecer, então? — O homem misterioso a sua frente soltou novamente outra frase afiada, soltando um riso soprado logo em seguida. Jeongguk analisou toda a figura bem a sua frente, era ligeiramente pequena e apesar de ter consigo um arco e uma aljava não se sentiu tão ameaçado. O menino parecia novo, tinha feições joviais e o corpo esbelto. Observou que as mãos pequenas do garoto puseram com cuidado a arma recostada nos pés da cama de madeira e seguiram para o capuz mal cortado e delineado. Não esperava levar um choque tão drástico ao ver aquilo.

O garoto tinha os cabelos de fogo, e por céus, estremeceu da cabeça aos pés. O cabelo desarrumado caindo pelos olhos era de um laranja vivo. Era aquilo, tinha sido capturado por uma bruxa, seria morto sem piedade alguma. Talvez até aquela criatura maligna usasse de si para algum ritual que desconhecia.

Movimentou-se de maneira brusca sentando-se na cama mas o braço amarrado o prendeu o suficiente para que não conseguisse passar dali. Não conseguia movimentar o braço direito sem sentir a dor cortante que o acometia, mas tentou, sendo impedido pela parte enfaixada, gemendo logo em seguida.

As Terras do Trigo ✹ JikookWhere stories live. Discover now