Quattuor: Solitudinem

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Jimin estava extremamente cansado e as bolsas abaixo dos olhos demonstravam aquilo com clareza. Mal conseguia dormir nas últimas noites com a febre alta do cavalheiro — ou melhor dizendo, suposto ladrão — para quem dava casa e comida a algumas semanas. Dormir no chão não era de todo o mal, quando chegara aquele casebre esse tinha sido seu destino, se amontoar no chão junto das poucas peles com o que fora deixado.

Observava a ventania forte e as gotas finas de água se prendendo aos próprios cílios curtos e retos enquanto limpava a última pele da matilha. O fato de o estranho ter chego nos campos abandonados de trigo o ajudou muito, por semanas teve alimento sem precisar caçar mais do que ervas e frutas e por mais contrariado que fosse, aceitaria que a presença do moreno o tinha trago peles novas para uso, por mais que o rapaz o tirasse dos nervos.

Durante toda a febre e os dias fraco Jimin teve toda a paciência o possível para dar-lhe alimento e remédio, cuidou de seus ferimentos todas as noites e tratou de limpar uma das peles com rapidez para cobrir-lhe ainda mais nas últimas noites frias.

Não sabia se aquele visitante — que estava ainda mais para uma visita indesejada — merecia tamanho cuidado e interesse, mas sentia bem no fundo de seu âmago que tinha o dever de cura-lo.

Desde o estado febril do garoto maior, Jimin nunca mais escutou sua voz, sequer uma reclamação, o garoto estava ficando mais forte aos poucos, mas ainda assim estava fraco demais para sequer abrir os olhos grandes que tinha.

Park se sentia extremamente amargurado por todos os pensamentos estranhos que tinha com o desconhecido. O simples fato de ter outra pele quente próxima de seus dedos o deixava curioso, por vezes em meio aos cuidados acariciava os fios castanhos sentindo sua textura grossa, conhecia o rosto macio por entre os dedos e observava cada detalhe de um rosto desconhecido.

Não era como se tivesse se afeiçoado com o menino rabugento, mas parte de si se sentia aliviada em observar outras feições, em observar um rosto diferente do próprio que via nas margens do riacho próximo.

Em específico aquele dia estava frio, a própria ventania tinha feito seu capuz marrom voar para suas costas, molhando os fios laranja compridos demais, cobrindo os próprios órbes. Tinha de terminar o trabalho de limpeza daquelas peles para enfim entrar em sua própria cabana e se alimentar propriamente do outro.

As gotículas estavam mais grossas, junto do vento, quase não conseguiu ouvir os relinchos da égua presa na lateral do casebre. Se levantou e agarrou os tecidos do próprio capuz cobrindo com cuidado o próprio peito que estremecia forte com tamanho frio.

— Ei, ei. Se acalme. — Se aproximou com cuidado da égua irritadiça que balançava o focinho, estendeu uma das mãos pequenas e com cautela acariciou a cabeça do animal, sorrindo pequeno — Você não gosta de ficar aqui, não é? — A égua, apesar de levemente mais calma ainda respirava de forma rápida enquanto remexia as patas sobre o solo de maneira incomoda — Te levarei para a parte de trás, sim? Lá não ventará tanto.

Durante todos aqueles dias Jimin tinha alimentado a égua e a cuidado com estimo, não poderia negar que adorara cavalos desde sua estadia quando jovem em Yrasan, os respeitava como animais inteligentes e fortes, ágeis e ainda assim carinhosos.

Demorara a conseguir com que a égua se afeiçoasse ao menos um pouco a si, era arisca e parecia desconfortável com o ambiente ceco das terras do trigo, andara pelo local por dias até que enfim cedesse à comida deixada por Jimin bem à frente da cabana de pedras. Parecia se negar a se embrenhar na floresta sem algo.

Park achara ainda mais belo o fato de que a égua desconhecida não deixara seu cavaleiro para trás.

— Vamos, huh? — Segurou firme nas rédeas feitas de corda e a carregou com cuidado ao redor da habitação, tinha se certificado de deixar maçãs a disposição da égua junto de água.

As Terras do Trigo ✹ JikookWhere stories live. Discover now