03☕ Café e confusão

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etado por ephemerar



Por mais que já tivesse passado por aquele bairro duas ou três vezes, Haeyon sentia que jamais iria se acostumar com as ruas perturbadoramente movimentadas de Hongdae.

E a última parte não era uma opinião, estava mais para um fato claro e confirmado. Bastava observar os aglomerados de pessoas que se formavam  aqui e ali e a cacofonia constante de carros, motocicletas, ônibus, entre outros fatores, para que qualquer um pensasse o mesmo que ela.

A Kang gostava mais da quietude da cidadezinha interiorana onde nasceu e foi criada até os onze anos, da paz que emanava em cada parte dela. Seu pai foi quem sugeriu a mudança, visto que oportunidades de emprego e estudos eram extremamente escassas em Gunmyeon, mas se pudesse ela teria ficado lá por mais tempo. Seul, por outro lado, pareceu tragar a calmaria que ela tanto apreciava com seus numerosos edifícios espelhados, pontos turísticos famosos e um trânsito caótico que lhe dava dor de cabeça sempre que pensava em sair de casa.

Haeyon sabia que não voltaria para Gunmyeon tão cedo, levando em conta a situação que sua família estava atualmente. A ideia era tentadora, mas meramente utópica.

"Sonhar não arranca pedaço", pensou com amargura.

Haeyon piscou forte e contou até três mentalmente em seu percurso a pé até o Burket's, felizmente o clima estava ameno naquele horário. Apertou as alças da bolsa lateral entre seus dedos de unhas cobertas por esmalte vermelho.

Agradecia aos céus o fato de que sua casa estava vazia no momento em que saiu, caso contrário teria passado por um intenso questionário por conta de sua vestimenta.

A saia preta em corte lápis ajustava-se às curvas discretas de seu corpo, contrastando perfeitamente com a blusa social branca de decote em "V". Seu cabelo castanho estava amarrado em um rabo de cavalo elegante e os únicos vestígios de maquiagem em seu rosto eram o gloss labial e a máscara de cílios incolor. Os óculos e a mini bolsa bege que tanto amava também ofereciam a ela um ar intelectual.

Haeyon estava confiante, nada naquela manhã poderia tirar a sua tranquilidade.

Nada mesmo. Nem o fato de ter tropeçado assim que pôs os pés na calçada, nem que tivesse perdido quase quinze minutos à espera de um carro que acabou tendo a corrida cancelada por erro nos dados móveis de sua operadora e o táxi que chamou às pressas a tenha deixado em um ponto desconhecido de Hongdae. Mesmo caminhando cerca de oito minutos até encontrar a cafeteria — com o tecido da saia subindo levemente e tendo que ignorar os burburinhos repudiosos de homens à sua volta —, ela continuou acreditando que nada a faria se arrepender da decisão que tomara.

Cafeteria Burket's • JKOnde histórias criam vida. Descubra agora