Depois desse episódio horrível da minha vida, que tal eu contar coisas boas? Bom né, espero que sejam realmente bons, mas se tratando de mim não estou muito segura disso, me perdoem...
Eu sai outra vez com meu pai e ele estava outra vez com o Pedro, mas não se agarraram na minha frente, e eu encontrei nesse role o Fernando, resultado nos beijamos algumas outras centenas de vezes, quase perdi minha virgindade com ele, mas eu não o fiz. E também não era hora para isso e nem sei por que toquei nesse assunto ainda.
Voltando ao dia que sai com meu pai. Além do Fernando eu beijei outra pessoa. Minha segunda boca. E adivinhem só. Eu dei mais um passo na minha loucura de desvirtuada (como minha mãe acreditava que eu estava agora, desvirtuada).
O Fernando grudou uma ruiva que estava dançando com a gente e beijamos a três. Confesso que eu estava um pouquinho alterada por conta das doses de Jurupinga que eu havia tomado, mas mesmo assim me lembro perfeitamente de tudo o que senti.
A língua da ruiva contra a minha, causou uns arrepios doidos e que me enlouqueceram, mas logo eu tive que parar de beijá-la, pois agora eu não estava escutando os insultos de minha mãe como se ela fosse um fantasma grudado em minhas costas o tempo todo. Eu estava me escutando triste e repetindo sem parar:
— Não vá por esse caminho Daniela. Não tem volta. Não seja assim, você é mais forte que essa promiscuidade toda...
Não tive escolha, me rendi. Me afastei. Comecei a beber água e deixei o Fernando sozinho com a ruiva. Eu acho que ele estava se divertindo tanto com ela que nem notou que eu vazei. Chamei meu pai, ou melhor avisei ele que estava indo embora. Ele e o Pedro me colocaram em um taxi e voltaram curtir a festa.
Depois que eu cheguei em casa, encontrei Manú dormindo. Ela estava tão linda deitada em sua cama. Fiquei observando ela por alguns minutos. Eu não sei se por ainda estar um pouco alterada ou simplesmente por desejar muito ser ela. Não falo isso com inveja, juro que não, eu só queria me sentir livre de toda aquela bagunça que me aprisionava me impedindo de fazer o que eu queria sem sentir culpa.
Minha mãe estava muito presente em minha mente. Suas explicações simples e preconceituosas sobre todos os assuntos que saíssem da normalidade de um casamento com um homem perfeito e religioso estavam encalacradas no meu intimo.
Não teve como não chorar. Eu amei o beijo da ruiva que eu nem sei o nome. Amei estar com ela e com o Fernando ao mesmo tempo. Eu não fazia idéia de que eu iria gostar de alguma coisa assim, mas eu gostei e qual o problema? Por que eu não podia só ser feliz?
A Manú acordou com meu choro baixinho e veio ao meu lado.
— Oi linda, o que está acontecendo?
— Eu... — Eu não consegui falar, apenas me virei e a abracei deixando que todas as lágrimas que quisessem caíssem sem dó.
— Eu não sei exatamente o que está acontecendo com você, mas eu tenho certeza que tem haver com o que a sua mãe pensa sobre você nesse momento. Não deixe que ela tenha esse poder sobre você.
Ela esta certa outra vez, todos os meus problemas tinham a mesma origem. Dona Flávia.
Eu me afastei um pouquinho de seu abraço, e comecei a olhar sua boca. Ela é linda. Eu senti um arrepio que eu não sei ao certo o que foi que causou, mas uma coisa eu posso afirmar sobre aquele momento, eu fui dominada por um desejo maluco de beijá-la.
Ela percebeu que eu a estava encarando demais, e parou de falar. Eu queria muito saber o que é que estava passando na mente dela naquele momento.
— Manú, eu não aguento mais, eu preciso desligar o passado. Preciso viver o presente, me descobrir. Preciso saber quem eu sou, o que eu quero ser. Entende?
— Claro que entendo. Todo mundo busca a mesma coisa. Nem sempre o que acreditamos é o que desejamos. Nem sempre as coisas são fáceis, ou melhor elas nunca são fáceis.
— Me ajuda a me encontrar?
— E como você espera que eu faça isso?
Eu não sabia o que responder, então eu falei em um sussurro:
— Assim... — Me aproximei lentamente dela, olhando dentro de seus olhos para ter certeza se ela não iria se afastar.
Eu encostei meus lábios nos dela. Fechei meus olhos e senti suas mãos me abraçarem, e sua boca corresponder a minha. O beijo foi diferente. Eu senti que ela estava em sintonia comigo. Eu comecei a escutar todas as frases preconceituosas que sempre escutava: "Você vai para o inferno." "Minha filha é uma pecadora." "Não acredito que você está fazendo isso!" "Pare com essa pouca vergonha."
Não consegui não chorar. A guerra interior estava em outro patamar. Para cada coisa negativa um pensamento positivo vinha em resposta. Eu não iria pro inferno por gostar de alguém. Eu não estava pecando em beijar ela. Eu não estava acreditando que finalmente estava a beijando. Não era uma pouca vergonha, era um ato de afeto. Um sentimento maravilhoso.
Eu abri os olhos na tentativa de me convencer a parar o beijo por um instante e amenizar essa guerra, mas não consegui. Eu queria estar ali. Queria estar nos braços dela.
Com a Manú estava diferente tudo. Eu sentia quase a mesma coisa de quando eu ficava com o Fernando. Disse quase a mesma coisa, porque com ela era mais forte. Mais intenso. Talvez fosse por ela ter presenciado a maior vergonha que passei na vida, aquela sena que lhes contei protagonizada por minha mãe. Talvez fosse por eu desde o dia em que a vi pela primeira vez a admirei, eu não sei explicar só sei que senti.
Manú também não se afastou. Continuamos a nos beijar e os beijos levaram a outra coisa. Não vou descrever como foi minha primeira vez, mas vou lhes dizer que foi bom. Não foi colorido como imaginava, e nem muito incrível. Mas foi no mínimo libertador.
Durante todos os segundos eu estive em guerra. Cada toque era uma luta contra o bem e o mal dentro de mim. Meu corpo pedia por mais e minha mente pedia para eu parar.
Não teve fogos de artifícios...
Eu acabei chorando por muito tempo. Ela chorou junto comigo, eu nem sei o porque exatamente as lágrimas dela caiam, mas lá estávamos nós. Deitadas ao lado uma da outra, com os rostos encostados e as lágrimas se misturando.
— Quero ser livre, Manú. Eu preciso me reconstruir. Não aguento essa culpa. Essa guerra que se trava em meu consciente todas as vezes que eu faço algo diferente do que eu sempre aprendi que era o correto. Se é errado eu ficar com você, por que meu corpo não sente isso?
— Xiiu. Não fala nada, apenas feche os olhos e me sinta. Desligue seus pensamentos, apenas sinta. Eu sei que não vai ser fácil, mas me deixa te ajudar a ser livre. Viva esse momento sem culpa. Somos duas pessoas que se gostam, se tiver que pensar em alguma coisa que seja apenas nisso. Nós nos gostamos e está tudo bem.
Ela falou em praticamente um sussurro. Então se levantou e começou a me beijar. Depois de tudo o que já havia acontecido, eu comecei a apenas sentir.
Consegui sentir o sabor de seus lábios. O toque de sua pele. Seu perfume. Comecei a sentir sem culpas. Alguma coisa estava finalmente mudando dentro de mim e eu nem precisei de álcool em minha corrente sanguínea para que isso acontecesse. Acho que o sentimento dela por mim, ou o desejo, sei lá, me fez perceber que eu poderia sentir sem pensar. Que eu finalmente conseguiria bloquear todo o passado, não sabia por quanto tempo, mas eu iria conseguir.Depois de quase a madrugada toda de intimidades, adormecemos.
E quando eu abri meus olhos no dia seguinte, eu sorri ao ver ela ao meu lado. Eu estava começando a mudar, a ser livre de verdade e isso graças a ela.
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Liberdade Divergente.
SpiritualDaniela acaba de completar dezoito anos e vai iniciar seu primeiro semestre na universidade. Isso seria completamente maravilhoso se não existisse todo o resto de sua vida. Nunca antes beijada, com uma insegurança sem fim, uma m...