Eu teria que enfrentar horas de pura tristeza. Nunca havia perdido alguém da minha família, e sinceramente logo agora que eu estava começando a gosta pra valer da minha avó ele resolve que é hora de dizer adeus.
Eu, Daniela Cassiano estava decididamente de mal com a vida. Namorado me traindo, minha mãe sem falar comigo devido minhas ultimas transformações, meu avô chorando por todos os cantos, agora enterrar minha avó e para finalizar a única pessoa que eu mais queria ali, meu pai, estava bem longe.Precisava de um milagre. Quando é que eu começaria a viver minha vida realmente como eu queria que ela fosse...
Depois do velório da minha avó, o qual eu prefiro não dar muito detalhes, eu estava disposta a mudar novamente minha vida.
Precisava acreditar em mim mesma, eu tinha que encontrar meu sentido. Descobrir o meu propósito e seguir em frente da melhor maneira possível exatamente como eu havia prometido a minha avó.
Uns dias antes de eu voltar para a republica e prosseguir com o curso que eu detestava, encarar meu namorado traidor e que me mandava mensagem todos os dias querendo saber o porque eu só o ignorava, e pra ser sincera eu nem sei de onde foi que eu encontrei força o suficiente para ignorar realmente ele, eu chamei minha mãe para conversar.
— Mãe, eu preciso muito conversar com a senhora. — Parei ao lado dela enquanto lava a louça do café da manhã.
Seu olhar frio para mim me fez ter a certeza que ela não queria conversar comigo, e naquele mesmo momento eu entendi que eu precisava mesmo daquele desfecho. Já não era nenhuma menininha, e saberia lidar com a minha própria vida sem a ajuda dela, então continuei falando sem me importar com a conseqüência.
— Eu detesto o curso de odontologia, e assim que eu voltar para a república eu vou até a faculdade e trancarei a matricula. Eu vou tentar descobrir o meu propósito no mundo. Preciso me encontrar. E se mesmo assim eu não conseguir me encontrar eu terei um período consideravelmente grande para retomar o curso.
Ela parou de lavar as louças, enxugou sua mão e pela primeira vez em muitos dias me encarou nos olhos, dando toda sua atenção para o que eu estava falando, com muito medo dessa reação eu continuei:
— Eu peço perdão a senhora por todos os meus erros. Se te envergonhei, eu juro que não foi a minha intenção. Eu queria ser eu apenas. Não sei em que acredito exatamente e preciso descobrir. Talvez eu pudesse ter feito tudo diferente, mas não fiz e não posso mudar o passado.
— Não é a mim que precisa pedir perdão...
Seu tom foi rude e então eu percebi uma lágrima robusta se formar em meus olhos, eu acreditei muito que minha mãe mudaria depois de ter perdido sua mãe e de ter ouvido tudo o que ela falou pra mim antes de morrer, mas ao que me consta ela era mais dura na queda do que eu jamais imaginei.
— Tudo bem mãe... Me perdoe... Eu juro que sumirei de sua vida e tentarei não te envergonhar mesmo sem que a senhora saiba.
Meu avô se intrometeu nesse exato momento.
— Daniela, eu entendo você e acredito que já deixei isso claro a você. Se sua mãe não quer te escutar não fale mais nada. Eu não vou compreender jamais o porque ela se tornou essa pedra de gelo.
Minha mãe surtou; agarrou um copo que estava todo ensaboado sob a pia e atirou contra a parede gritando. Seus olhos minavam lágrimas também. Com isso ela ganhou nossa total atenção.
— Eu não vou aceitar vocês falando isso... Eu é que estou cansada. Me transformei nesse robô que vocês queriam. Você pai e minha mãe me transformaram nisso, com seus comentários e acusações. Quando o pai dela me abandonou jogaram a culpa em mim, me acusando de não ser mulher o suficiente. As pessoas da igreja me apontaram. Tudo virou de cabeça para baixo e a troco de que? Depois a Daniela cresceu e eu fiz o mesmo com ela. Afastei minha filha de mim por conta de uma crença que eu nem sei se um dia foi mesmo a minha. E agora depois de velhos vocês vem com esse papo de que entende ela... E eu? Quando é que eu poderei viver todo o tempo que perdi vivendo nessa bolha mentirosa? O que eu ganhei com isso? Eu nem sei mais como eu era antes de me tornar isso... — Ela apontava a si mesma com desprezo.
Meu coração estava disparado, apertado. Eu nunca havia pensando nos sentimentos da minha mãe. Eu nunca havia compreendido o porque dela ser daquele jeito e nunca questionei seus motivos.
Ela não gostava de tocar no nome do meu pai. Não queria saber nada sobre ele quando conversávamos e simplesmente mudava de assunto quando alguém questionava sua solteirice. Agora pela primeira vez em dezenove anos eu estava vendo fragmentos de uma mulher totalmente despedaçada que implorava por liberdade ainda mais que eu. Eu não podia crer que nunca havia percebido.
Com a respiração acelerada e sem forças minha mãe caiu sentada no chão da cozinha e minha reação foi abraçá-la.
— Eu sinto muito mãe. Eu deveria ter percebido, eu deveria ter te ajudado. Tudo o que a senhora fez para que eu estudasse, que eu chegasse em algum lugar... Me perdoe...
— Eu não aguento mais Daniela. Eu deveria ter morrido no lugar da sua avó. Eu preciso sumir desse mundo. Eu preciso acabar com isso...
— Mãe não fale assim... Vamos superar tudo isso juntas.
— Eu não sei se consigo. Esta sempre tão presente. Eu não consigo esquecer seu pai. Eu não consigo aceitar que ele me trocou por um homem. Eu não consigo entender onde foi que eu errei. Eu não aceito que eu tenha perdido muitos anos da minha vida em quanto ele aproveitou a dele.
Ela não conseguia parar de chorar.
— Ainda há tempo de aproveitar. Filha eu entendo que errei muito e sua mãe também entendeu. No fim de sua vida, mas compreendeu. Me perdoe.
Meu avô mesmo com uma dificuldade imensa se abaixou e estava com a mão sobre o ombro dela.
Com ainda mais força minha mãe se despedaçou em lágrimas. Ele a puxou para seu peito e fazendo carinho em sua cabeça prosseguiu:
— Me perdoe filha. Não se pode voltar ao tempo. E eu sei que todas as vezes que falamos coisas a você que te ofendeu não será apagado da sua mente, mas tudo o que eu posso fazer nesse momento é te pedir perdão. Por favor, me perdoe.
Nesse momento parece que um raio do sol foi projetado na janela da cozinha e o cômodo ficou mais claro que eu normal. Eu senti um arrepio de cima a baixo e pude escutar o suspiro de alívio que minha mãe soltou. Ela provavelmente havia perdoado meu avô, ou ao menos compreendido o que ele estava tentando fazer.
Juntos nos levantamos e nos abraçamos por longos minutos.
Em seguida minha mãe prosseguiu;
— Tudo bem você trancar a sua faculdade. Tudo bem você estar assim. Tudo bem você ter se libertado da religiosidade e tudo bem você ter perdido sua virgindade. Tudo bem... Me perdoe você também. Eu deveria estar ali, poderia ter feito tudo de outra forma. Poderia ser a melhor mãe do mundo, mas não fui. Me deixa tentar ser?
— Claro que sim... — Enxuguei a lágrima que escorria e a abracei. Não sei descrever como eu me senti. Aquilo tudo foi libertador. Eu entendi um pouquinho de qual era o meu papel naquela família e para que eu estava sendo usada.
Eu havia nascido para arrumar tudo o que havia ficado bagunçado do passado dentro dos sentimentos dos meus familiares. E agora estávamos um passo a frente de uma plena relação afetiva, diferente de tudo o que já havíamos vivido.
No dia seguinte minha mãe me convidou para irmos dar uma volta juntas e eu aceitei com o coração aquecido de felicidade.
Ela me levou a algumas lojas onde ela experimentou algumas roupas diferentes para ela mesma. Depois fomos ao salão de beleza e ela deu uma repaginada em todo o seu visual. Caramba, ela resgatou uma mulher maravilhosa. Bela e muito elegante.
Quando voltamos para casa, ela telefonou para meu pai e para completar todas as surpresas do meu dia o fez um convite.
— Quero que você e seu marido venham jantar em casa. Quero conhecer o padrasto da minha filha.
Eu sei, foi chocante a transformação não foi? Isso me apontou outro ponto da minha descoberta pessoal, o profissional.
Como a culpa pode transformar as pessoas e o perdão ainda mais. Conflitos internos nunca deveriam ficar reprimidos dentro da gente, e sim serem libertos. Resolvidos. Eu queria ajudar as pessoas a resolverem os seus conflitos e isso é uma profissão...
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Liberdade Divergente.
SpiritualDaniela acaba de completar dezoito anos e vai iniciar seu primeiro semestre na universidade. Isso seria completamente maravilhoso se não existisse todo o resto de sua vida. Nunca antes beijada, com uma insegurança sem fim, uma m...