Capítulo 17

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Dessa vez a despedida fora totalmente diferente. Eu abracei minha mãe, um abraço forte e longo, como nunca havia feito antes. Havia entendido que esse mês que passei com ela fora de uma significância gigante. Algo tinha mudado dentro dela, e era para o melhor. Ela já não era a mesma careta religiosa e fanática que deixei uma vez desesperadamente. Agora ela era ela outra vez.

Meu avô também estava diferente. Um olhar leve e tranquilo o acompanhavam. O sorriso bobo que eu desconhecia encheu meu coração de vontade de colocá-lo em um potinho e levá-lo comigo.

Faltava a minha avó, mas eu sabia que ela estava bem. Que ela tinha uma grande parcela de culpa em toda essa reviravolta dentro daquela casa. Antes de entrar no carro eu dei uma última olhada para o prédio onde eu havia crescido, e era como se eu estivesse vendo minha avó em sua janela favorita, observando eu partir. Dei um sorriso de felicidade e saudoso e entrei no banco de trás do carro do meu pai.

— Bora, que eu ainda tenho que encarar um grande problema hoje.

— Do que você está falando filha?

— Depois que estiver tudo resolvido eu te contarei. — Não queria falar nada que eu pudesse me arrepender depois, então preferi não explanar o assunto com ele.

Augusto estava sentado ao lado do meu pai e eu percebi que um sorriso largo não desaparecia de seu rosto. Comecei a ficar intrigada imaginando qual seria o motivo. Pensei que a noite deles deveria ter sido muito boa, mas essa minha imaginação me deu uma reviravolta no estomago, não era uma cena muito boa para se imaginar de seu próprio pai... Olhei pro lado e comecei a prestar atenção na estrada.

Queria pensar em outra coisa, e então Fernando povoou cada espaço da minha mente. O que será que ele teria pra me dizer? Qual seria sua explicação. Isso tudo me fez ficar angustiada e eu não queria pensar que tudo teria sido em vão... Ele teria que ter uma boa justificativa para aquilo...

Meu coração começou a ficar acelerado e meus olhos cheios de lágrimas. Lembrei de um dia muito especial que tivemos...

Era período de provas e eu estava muito ruim em tudo o que estava estudando aquele semestre. Não conseguia estudar e o desespero já estava me pegando de calças curtas. O Fernando percebeu que eu estava estranha, diferente, infeliz. Então me levou para um lugar muito bonito, afastado da cidade. Era uma espécie de hotel fazenda onde os quartos todos eram um pequeno chalé, e tinham uma pequena cozinha acoplada.

No caminho eu tentava descobrir onde estávamos indo e ele nada respondia, apenas sorria de canto. Seus lábios enormes ficavam ainda mais sensuais quando ele estava aprontando alguma coisa.

— Não se preocupe Dani, eu te garanto que será o melhor passeio de sua vida;

Sua segurança me tranqüilizava. Se ele estava dizendo isso eu acreditava mesmo.
Então como prova de que eu acreditava em suas palavras coloquei minha mão sobre sua perna e apertei levemente causando-o um arrepio.

— Eu acredito em você...

— Não faça isso... Eu estou dirigindo... — O sorriso maroto ainda maior.

Então para o provocar eu apertei outra vez sua perna. Ele deu seta, entrou no acostamento e parou o carro ligando o pisca alertas, desprendeu-se do sinto de segurança e me agarrou. Aquele fora o beijo mais romântico e selvagem, que recebi dele. Meus amigos, essa recordação me fez perder o controle da minha própria respiração e tudo o que eu queria era sentir seu toque outra vez. Seus lábios contra os meus de uma forma pura, sem culpas ou tristezas como sempre fora.

Minha mente se recusava a parar de recordar o restante daquele passeio...

Quando chegamos ao hotel ele vendou meus olhos com sua camisa e me guiou até o quarto. Antes de entrarmos ele fez exatamente como aquelas cenas de filme de romance; Me carregou e só me devolveu ao chão quando estávamos seguros lá dentro.

Me beijou no pescoço deixando eu louca por mais e só então desamarrou a camisa me revelando a beleza do quarto.

Ele tinha mandado os funcionários do hotel arrumar tudo com flores, velas, chocolates e champanhe. Era o pacote completo de comercial de televisão para o dia dos namorados.

Eu não sabia o quanto eu queria que alguém fizesse algo desse tipo a mim até que ele o fez. Meu coração se encheu de felicidade e meus olhos marejaram. Girei sobre meus pés e o agarrei.

Eu com certeza preciso para de narrar as próximas cenas, porque bem na hora que eu ia chegar na melhor parte em minha memória meu celular apitou e eu voltei para o mundo real.

Era o Fernando. Parecia que ele havia adivinhado que eu estava pensando nele. Ele tinha me mandando uma mensagem de texto que dizia:

"Amor, eu não vejo a hora de te ver. Não aguento de tanta saudade. Quero muito que você não brigue comigo, e que compreenda tudo o que aconteceu. Meus dias sem você são escuros, nebulosos e sem alegria. Chega logo. Te amo."

Foi impossível não chorar. Tudo o que ele havia falado nessa mensagem era o que eu estava sentindo. Exatamente tudo...

O Fernando havia se tornado a melhor parte dos meus dias.

Quando eu estava infeliz com o curso lá estava ele falando coisas boas para que eu me animasse e visualizasse um futuro onde meus dias seriam melhores.

Quando eu sentia tristeza por pensar em minha mãe e em como ela me tratava, lá estava ele outra vez a entendendo e me mostrando que deveria existir uma razão para aquilo tudo e que um dia eu entenderia e conseguiríamos nos perdoar e recuperar o respeito uma pela outra. Ele nunca desistia de enxergar o bem nos outros, mesmo quando para todo mundo parecia impossível...

Em todos os meus dias de TPM ele vinha com um entusiasmo dobrado e me enchia de mimos que faziam a diferença. Conseguia sobreviver mais um mês. Ele não brigava comigo nunca. Sempre me deixava falar tudo o que eu queria e depois com muita calma tentava mostrar sua opinião, e isso não era apenas nos dias do monstro que atormenta as mulheres, era sempre.

Ele havia me mostrado o lado bom da vida. Foi com ele que eu tive o primeiro orgasmo verdadeiro. Fora com ele que eu aprendi o que era o amor. Eu tinha me desenvolvido e era com a ajuda dele. Meu pai havia nos apresentado, e ele já o conhecia. Acho que nunca agradeci ele por isso...

Ele era safadinho antes de estarmos oficialmente juntos, isso é um fato, mas maior fato era que ele nunca havia me desrespeitado. Era isso que eu queria acreditar, até que alguém me mandou aquela foto. O por que ele teria feito aquilo comigo? Será que era mesmo verdade que ele havia me traído? Não era possível.

Eu tinha tentado manter isso tudo longe da minha cabeça, com tudo o que estava acontecendo em casa, mas agora eu não conseguia parar de pensar. De sentir. De repente eu comecei a tremer e ter vontade de morrer... Eu não queria que meu castelo perfeito desmoronasse...

Ele teria uma bela explicação para aquilo. Ele era obrigado a ter...

Eu não percebi, mas estava chorando de soluçar e meus pais perceberam. Me dei conta que estava nessa situação quando Augusto fez carinho no meu joelho e disse:

— Tudo vai ficar bem. Eu tenho certeza...

Eu o encarei profundamente e me agarrei em suas palavras... Tudo tinha que ficar bem. Seria muita sacanagem da vida se agora que eu estava livre e havia alcançado uma boa relação com minha mãe eu perdesse meu amado...

Então enxuguei as lágrimas e tomei uma decisão.

Liguei para o Fernando. Não dava para esperar pessoalmente. Eu precisava acabar com aquela angústia toda e era exatamente isso que eu ia fazer.

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