Capítulo 20

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O ar falta em meus pulmões, mas eu não quero desgrudar daquele beijo perfeito. Eu definitivamente não estava pronta para o que ele poderia me dizer sobre a foto. Sobre nós. Sobre todo o resto...

Fernando me correspondia o beijo e para se tornar o "Final feliz" só faltava a chuva sobre nós.

Em algum momento dentro dos próximos minutos, paramos de nos beijar e nos afastamos um pouquinho. Então ele olhou dentro dos meus olhos e disse:

— Daniela, eu amo você!

Eu sorri, e meus olhos se encheram outra vez. Eu também o amo. Eu também o amo... Eu repeti várias vezes, mas o que saiu da minha boca fora involuntário...

— E mesmo assim me traiu... — Então abaixei minha cabeça e busquei em meu celular a foto. Abri, e apontei o aparelho a ele, para que pudesse ver o que roubou a minha alegria por muitos dias...

Sua reação foi a que eu esperava. Ele fechou os olhos, suspirou e ficou em silêncio. Então eu comecei a falar, minha voz era mansa.

— Eu entendo, ela foi a sua primeira. Vocês viveram muitas coisas juntos e o peso da história de duas pessoas que viveram por tantas coisas como vocês, pode mexer um pouco com a cabeça... Vocês estão juntos? Pretende voltar com ela? Quer ela?

— Dani, por que não vamos para algum lugar mais confortável para conversarmos sobre isso?

O convite me pareceu justo, mas eu já havia esperado tempo demais para ter aquela conversa, então eu recusei.

— Não precisamos estar em nenhum outro lugar. Quero conversar agora e aqui mesmo. Acho que já esperei demais para isso.

— Tudo bem. Então eu vou te falar tudo aqui mesmo.

— Eu não sabia que você já conhecia ela. Ou que já sabia que ela foi a minha primeira namorada...

— Eu não sabia, só me dei conta quando estava voltando pra cá. Lembrei que me contou naquele dia que bebemos vinho branco... Ai foi fácil, liguei as coisas e me dei conta de que a menina nessa foto era a sua primeira namorada...

— Então, me desculpe por tudo isso. Ela voltou do Canadá nessas férias, mas ela só veio visitar os pais, que por acaso se tornaram amigos dos meus pais, e em um dos dias que estavam todos reunidos, a gente bebeu um pouco e acabei a beijando, então alguém tirou essa foto, e te mandou. Eu nunca quis te magoar. Eu nunca quis magoar ninguém...

A voz de Fernando era triste. Carregada de amargura, angustia e tinha uma pitada de desespero. Eu estava comovida e acreditando em toda a sua explicação. Eu juro que tentei entender tudo o que estava acontecendo dentro da cabeça dele. E entendi...

— Você a ama?

— Sim... — Ele chorou. E essa resposta me machucou. Foi como se me faltasse todo o ar. Como se alguém tivesse me roubado meus batimentos cardíacos e eu fosse cair dura ali mesmo. Ele então continuou: — Mas, eu também amo você, e te juro que não tenho mais nada com ela. Eu sou teu. Teu namorado. Quero ser seu... Me entende?

— Eu não entendo, mas eu prometo que tentarei... — Eu me aproximei dele, e o abracei.

Choramos abraçados por alguns minutos, e em seguida eu sai.

— Fernando, não estamos terminando. Não é o fim. Eu precisava que você fosse sincero, e foi. Ganhou pontos por isso. Mas eu preciso ir. Preciso ficar sozinha. Pensar em como me sinto em relação a tudo isso que me disse e ver o que eu posso fazer a respeito. Eu te amo também...

Sai correndo, como uma cena super dramática manda. Tudo o que eu queria era que fosse apenas uma cena e que alguém gritasse "corta" e eu pudesse voltar até ele e o encher de beijos, mas isso não iria acontecer. Continuei correndo. Corri mais um pouquinho, e só quando já não aguentava mais, eu parei tomei um pouco de ar e segui o resto do caminho que faltava até a casa dos meus pais andando.

Cada palavra passava uma e outra vez em minha mente.

Assim que cheguei abri a porta e fui até o piano que meus pais tinha em uma de suas salas, grata por eles serem gays e gostarem de coisas finas, já que eu tenho certeza que nenhum deles nunca aprendera de fato a tocar aquele instrumento.

Abri a tampa, e comecei a tocar.

Meus dedos corriam por cada tecla e o som me preenchia. Cada nota fazia parte da minha dor. Davam sentido a minha confusão. Me mostravam um caminho que eu nunca havia percorrido.

Junto com a melodia que saia do piano comecei a cantar as letras que havia escrito em meu bloco de notas sentada na mesa do Starbucks...

"Quando te vi achei que não ia dar em nada...
Então você veio e com seu jeito me encheu de sonhos...
Num piscar de olhos lá eu estava
Agarrada em seus braços implorando para ser tocada.

De revoltada a atrevida.
De recatada a libertina.
Me moldaste à sua moldura

E colocaste fogo a minha medida.

Sentir teus lábios parecia pouco
Eu queria mais daquele esboço
Nunca seria o suficiente
E sempre não seria o bastante...

Vem e me enche com o seu amor,
me toma em seu braços e me faz sua.
Sua por agora, sua por agora...
E que o agora seja sempre e que o sempre seja nunca
E que o nunca, nunca termine...

Me beije e me liberte..."

Eu continuei tocando e cantando, até que aquilo me fizesse sentido. Até que toda dor se transformasse em alegria. Eu toquei e cantei, e chorei...

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