Thirty Eight.

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Consequences
(Consequências)

"Você atuou bem, Alexa."

É sério que ele tinha que usar as minhas palavras contra mim?

Eu entendo que falei para ele sobre a dança ser uma forma de interpretação da arte entre duas pessoas e que é um tipo de performance e atuação.

Mas não nesse caso.

Não entre eu e ele.

Eu não atuei com ele.

Eu senti cada centímetro de movimento daquela dança.
Sua respiração misturada com a minha, seus olhos presos aos meus, seus dedos percorrendo as extremidades do meu corpo... Tudo.

Eu senti.

E agora sinto que não deveria ter sentido tanto.
Porque no momento em que aquelas palavras foram proferidas por ele e seu corpo foi desgrudado do meu, eu voltei à realidade.

Meu corpo, antes formando uma barreira de calor junto ao dele, sentiu o frio da ausência de contato. E eu queria mais. Queria que ele voltasse para perto de mim e continuasse aquela dança comigo.

— Porque precisa levar tudo o que eu falo tão a sério? — Falei baixo quando ele já havia me dado as costas.

Então parou no meio do caminho ao me ouvir.

— O que está querendo dizer? — Virou-se para mim e voltou a se aproximar.

Meu coração acelerou.

Onde eu fui me meter?

— Achei que as danças fossem interpretações destinadas a transmitir sentimentos somente para os que assistem, Alexa.

— Em nenhum momento eu usei a palavra "somente". — Corrigi. — E eu disse que "nem sempre" o sentimento está presente.

Ele caminhou os passos que faltavam para encurtar nossa distância e eu já podia sentir de novo o calor que emanava de seu corpo.

— O sentimento estava presente com o Yashua? — Ele falou mais baixo e eu neguei com a cabeça. — ... E estava comigo?

Meu coração parou e saltou em menos de 1 segundo. Eu fechei os olhos, com medo da minha própria resposta, e suspirei.

Ele já sabia a resposta, mas queria me provocar, assim como eu faço com ele. No entanto, eu não responderia à pergunta, não iria entrar no jogo dele.

Ou talvez eu já estivesse no jogo há tempo demais para distinguir.

— Justamente porque nós sentimos um com o outro, que eu pensei que você também pudesse sentir com outra pessoa. — Ele concluiu assim que eu voltei a abrir meus olhos.

"Nós."

"Porque nós sentimos."

Eu não era a única que estava no jogo.

— Mas agora eu entendo. — Ele disse e eu apenas o encarei.

O Joel se aproximou mais ainda, ignorando completamente qualquer barreira de espaço pessoal que existisse, e colou nossas testas.
Eu fechei meus olhos, cansada de lutar para ver a cena, agora querendo apenas sentir.

E senti sua boca encostando em minha pele.

Não na bochecha, não na boca. Mas na extremidade do lábio que aponta para cima quando sorrimos. Bem na pontinha.

Esse simples gesto foi suficiente para me fazer amolecer e eu não sei como me sustentei em pé ao sentir tamanha intimidade sendo trocada por nós dois.

Feel Something | J.P.Onde histórias criam vida. Descubra agora