Come as you are

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Capítulo 2 

As paredes do grande banheiro eram recobertas por ladrinhos azuis anil, contrastando com a banheira e o vaso sanitário, ambos brancos como neve. A grande bancada que sustentava a pia era feita de mármore, e lotada por perfumes caros e outras coisas de marca, tudo escolhido caprichosamente por Sunhee. Mas era para o grande espelho brilhante que Taehyung olhava. Observava a si mesmo naquela peça tão delicada,as bordas douradas que ostentavam a riqueza dos Kim. Ele não combinava com aquilo. 

O garoto refletido ali, com os cabelos molhados, vestindo uma camiseta branca que deixava uma parte pequena da sua cueca vermelha aparecer com os jeans soltos no quadril não era o filho dos sonhos de Sunhee e Chung. Não era o substituto ideal para a garotinha que eles haviam perdido num acidente de carro.

Ele não gostava de lembrar dessa história. Odiava pensar que não passava de um intruso naquela casa. Um intruso naquela vida, naquele mundo medíocre. Amaldiçoava a mulher que o havia dado a luz e depois o jogado na sarjeta. A imbecil deveria ter fechado as pernas e evitado todo o sofrimento desnecessário. 

Enquanto passava as mãos pelo cabelo numa tentativa falhada de penteá-los,pensou nas tantas vezes que desejara morrer, mas não tivera a coragem suficiente para ir as vias de fato. Além de tudo, era um covarde. Um falso idiota covarde. Riu sozinho: Será que iria para o inferno? Essa era uma pergunta que deveria fazer ao Jeon quando ele chegasse. 

Era por causa dele que estava ali, fazendo toda aquela avaliação da sua vida imprestável. Queria parecer o mais assustador possível, queria por medo naqueles olhos de jabuticaba, queria ouvir aquela voz tão sexy gaguejar. Aqueles dois itens tão desejáveis, tão sensuais, no corpo errado: o corpo de um coroinha de missas dominicais. Riu mais ainda ao imaginar como seria o corpo nu do garoto, por baixo das roupas tão sérias. Provavelmente algo que ele não gostaria de ver. Mas estava pronto para guerra ao piscar para o espelho. 

Seu quarto era uma confusão proposital: a cama de casal de ferro negro com lençóis cor de creme que combinavam perfeitamente com as cortinas, mas não com o criado-mudo pintado de preto e com estrelas que brilham no escuro coladas descoordenadamente por sua extensão. Havia um grande sofá de couro próximo a única e gigantesca janela do quarto, e um tapete rústico estava corrompido por manchas de café e roupas espalhadas por todos os lados. As paredes eram de um azul claro desbotado pela fita adesiva de milhares de posters que cobriam todas as paredes e portas, desde o armário embutido até a de entrada principal. 

O garoto se jogou em sua cama, ouvindo Nirvana no último volume em seus fones de ouvido. Voltou a pensar em Jeongguk, um tanto intrigado. Ele seria o tipo de cara pelo qual Taehyung se sentiria atraído se não fosse por toda a história de sua vida. O fato do garoto ser filho do pastor da cidade, que por acaso também era a pessoa para a qual Sunhee chorava suas mágoas todo o sábado de manhã, o broxava totalmente. Tae nunca perdeu muito o seu tempo pensando sobre sua sexualidade, para ele o que importava mesmo era a atração. O garoto não ligava para gênero, apenas gostava de pessoas, ou melhor... nem todas. 

O som estridente da campainha o fez pular da cama, saindo de seu transe temporário. Desligou o IPod, a fim de escutar a curta conversa entre Sunhee e Jeongguk. Ela foi extremamente simpática, falando sobre o tempo, a escola, a admiração que ela tinha por seu pai. Ele, como esperado, foi o mais educado possível. Um gentleman nojento.

Taehyung ainda estava confuso sobre como o garotinho de ouro havia conseguido seu endereço, mas toda a confusão fora explicada quando se lembrou de que ele era o amiguinho numero um da diretora do colégio, e é obvio que foi aquela velha maldita o ajudou com isso. Seus passos firmes faziam a escada de madeira rangir, a respiração longa era identificável pela paredes finas. Em um minuto, ele estava encostado a soleira da porta pintada de branco, os olhos escuros percorrendo o quarto e voltando-se para o dono dele, largado na beirada da cama. Sorriu-lhe gentilmente, como se pedisse permissão pra entrar. Tae revirou os olhos, jogando a cabeça para trás, balançando os cabelos castanhos. 

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