Take me to Church

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Capítulo 6

Era uma casa engraçada, com musgo cobrindo toda a fachada. As janelas eram grandes e desproporcionais, assim como a enorme porta de madeira com maçanetas de ferro. Havia um grande ipê de flores douradas que fazia sombra ao pequeno jardim cheio de flores e estatuas de animais em miniaturas. Um caminho de tijolos amarelos levava a entrada. Taehyung gostava daquela casa, era simples, mas aconchegante como um abraço.

Os Park não eram nem de longe tão ricos quanto os Kim. Jisung, o pai,era professor de matemática na mesma escola que Taehyung e os gêmeos frequentavam e Yerin, a mãe, braço direito de um importante empresário da região. O que na teoria, era um cargo um pouco mais alto do que secretária. Mas apesar disso tudo, os gêmeos sempre foram invejados por Taehyung: eles não substituíam ninguém. Eram amados por serem eles mesmos. E como eram amados.

Jimin abriu a porta antes mesmo que ele batesse. Usava jeans e um moletom cinza com capuz, e sorrindo maroto, confessou:

- Vi você chegando pela janela. Meu pai vai nos levar pra escola daqui a pouco, se você quiser uma carona.

- Não seria nada mau.

A sala era pintada com um tom caramelo-escuro, mas haviam sofás brancos como a neve e um tapete vermelho felpudo embaixo de uma pequena mesa de centro de madeira. Havia fotos da família por todos os lados, e um pequeno lustre dourado no teto, uma herança de família, segundo Dahyun. Uma grande estante repleta de livros, exceto pelo espaço que uma TV simples ocupava, completava o lugar.

Tae poderia passar horas ali, ouvindo as histórias de Jisung e tomando o chocolate quente de Yerin. Quando criança chorava em seu quarto, desejando ter sido adotado por eles também. Agora conformara-se com os Kim. Não eram tão ruins, afinal.

Largou a mochila em qualquer lugar do chão, acomodando-se no sofá maior para que Jimin pudesse se deitar em seu colo. Os olhinhos do garoto o observavam distraidamente enquanto Taehyung passava as mãos por seus cabelos loiros. Às vezes Jimin parecia o mesmo menininho que ofereceu um urso de pelúcia a ele em seu primeiro dia no orfanato. Tae chorava tanto por ter que ir parar naquele lugar. Por mais terrível que fosse o relacionamento com os pais biológicos, viciados em cocaína e álcool que batiam no garoto quando estavam chapados demais, pelo menos antes ele tinha um lar. Quando chegou ao orfanato, viu seu mundo desabar mais ainda. E Jimin fora gentil com ele. Um menininho de cinco anos lhe dera mais carinho do que os pais lhe deram a vida toda. Taehyung sempre o amou mais, apesar do carinho gigante por Dahyun. Jimin era seu porto seguro, seu irmão, seu ursinho de pelúcia.

- Então, taetae – ele começou enquanto fechava os olhos para aproveitar o carinho – como foi com o Jeon ontem?

- Não durma – Tae sussurrou – você vai querer ouvir essa história.

E então contou-lhe. Sobre a outra face de Jeongguk, sobre o bar, sobre as cantadas disfarçadas, sobre Hyungsik e o pesadelo. Desabafou, expôs todos seus pensamentos conflituosos, suas dúvidas dolorosas. Sentia-se leve como uma pluma. Jimin somente ouvia, os olhos fixos em algum lugar na estante, os lábios contraídos. Ao fim do longo discurso de Taehyung, ele sentou-se, mãos juntas, cabeça baixa. Virou-se lentamente para o garoto, olhando-o nos olhos, afastando uma mecha de seu cabelo castanho para longe.

- Tae, eu não quero que você encontre esse cara de novo. Eu troco com você, faço o aconselhamento. Mas eu não quero mais vê-lo com ele.

- Por quê?

- Por que – ele suspirou – Eu me preocupo com você. Você não acha que já machucou seu coração muitas vezes para destroçá-lo mais uma vez?

STIGMAOnde histórias criam vida. Descubra agora