Cherrybomb

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Capítulo 1 

Os cabelos escondidos pelo capuz do moletom preto e a jaqueta de couro junto com os All Stars detonados passavam uma clara mensagem: encrenqueiro. Caminhando pelos corredores com seus fones de ouvidos e pose de rei, Taehyung não era nada do que as pessoas costumavam rotular. Encrenqueiro, viciado, e má companhia. Taehyung era somente o reflexo de anos difíceis escondidos sobre quilos de roupas escuras.

 Sua história, na verdade, era muito simples, muito clichê. O garoto que perdeu os pais aos 5 anos, foi adotado aos 8 e era incompreendido aos 17.Uma história que você consegue encontrar em qualquer lugar. Mas, naquela pequena, gelada e conservadora cidade, ele era apenas um rebelde. Um rebelde sem drogas, com boatos sobre sexo e muito rock'n'roll. E quando estava em seu quarto pulando ao som do Led Zeppelin, ele só conseguia rir. Como eram idiotas! Se a maior ambição de sua vida não fosse ser pintor, ele provavelmente seria um excelente ator. Por que Tae era um sonhador. Um ótimo aluno, um virgem de carteirinha, quase um santo. Não fosse o fato de não acreditar em Deus.

Quando ele deixou de crer, de rezar todas as noites, ele não sabia ao certo. Talvez quando se deu conta de que estava sozinho no mundo, de que não tinha nada para se apoiar. Ele precisava de coisas concretas, estáveis, e algo que ele não podia tocar, que devia "sentir com o coração" como as freiras do Lar Redenção geralmente diziam, não era de grande ajuda. O garoto sempre pensara que tentar achar o sentido de tudo, ou a culpa de tudo, em algo que nem sequer era provado que existia, só o tornava mais fraco e infantil. E tudo que ele precisava naquela nova vida era força e uma cabeça no lugar.

Taehyung estudava em uma grande escola pública que ficava alguns quarteirões longe da casa de seus pais adotivos, a qual ele nunca chamava de"minha casa". Era sempre "casa deles". Dentre todas aquelas pessoas que passavam diariamente pelas salas de aula, em somente duas ele confiava: Jimin e Dahyun, um casal de gêmeos que frequentaram o mesmo orfanato que ele e que agora viviam com a família Park. Somente os dois conheciam a verdadeira personalidade de Taehyung por trás do personagem que assombrava os clubes de mães conservadores daquele lugar.

E num dia qualquer de outono, ele os procurava pelos corredores, enquanto intimidava primeiranistas com seu olhar cruel de dono do mundo. Os fones de ouvido berravam músicas de Joan Jett, os passos rápidos indicavam que ele só queria sair dali, o mais rápido possível. Jimin, com seus cabelos loiros que brilhavam sob o sol fraco da manhã, estava encostado a um pobre salgueiro nos jardins da escola, lendo um livro qualquer. O garoto tinha grandes olhos castanhos e hipnotizantes e o sorriso mais bonito que Taehyung já havia visto em toda Coréia, o que certamente compensava a magreza escondida por roupas de segunda mão. Sua irmã estava sentada ao seu lado olhando para o celular, provavelmente esperando receber uma mensagem que não fosse da sua companhia telefônica. Taehyung sorriu, apesar de serem gêmeos os dois eram completamente diferentes um do outro. Jimin era mais do tipo que preferia livros antigos e empoeirados, já Dahyun era uma escrava da tecnologia que não conseguia largar seu celular por nada. E ali, os dois se encontravam isolados do resto do mundo por andarem com Taehyung, ou por serem malucos o suficiente para que só ele os aguentasse.

- Chegaram cedo – o garoto se aproximou  – o que estão aprontando? 

- Dá pra acreditar que eles tomavam um remédio para nunca mais ficarem tristes? Isso é loucura, Aldous Huxley é é genial! 

 - "Você usou 100% da internet e a navegação foi interrompida." Que droga! - Dahyun guardou o celular frustada  - Agora não to fazendo mais nada, e você? 

- Tentando fugir de Sunhee e Chung – Taehyung bufou – Eles estão aqui para uma "reunião de pais". 

- Você devia pegar mais leve com eles, Tae. Afinal, eles te sustentam. –Jimin cantarolou.

STIGMAOnde histórias criam vida. Descubra agora