Tive problemas ontem. Dei uma ordem para o meu servo e ele entendeu ao pé da letra: não tinha mais ninguém na região. Quando subi, achei vários instrumentos de tratamento de madeira: serras longas, correntes, ganchos e tudo mais. Fiquei meio curioso de pensar que as pessoas largavam isso assim, sem ninguém para vigiar, até que escutei um pio. Era um falcão. Ele mergulhou em minha direção e por pouco eu não perdi um olho. Lembrei na hora dos grifos de que eu fugi semana passada...
Depois de mais dois pios, eu ouvi o som de cães. Foi aí que desisti de andar: Passei a mão na varinha de montaria, conjurei a magia e saí a galope... O que não era muita coisa, já que conjurei um pônei de novo. Se ao menos eu conjurasse um trobo, ou mesmo um warg, seria mais útil.
Corri na mesma direção que eu já estava indo, torcendo para sair logo daquele sítio de serralheria. Qual não foi minha alegria quando os animais pararam de me seguir. Daí é que fui reparar que várias árvores tinham pinturas e marcas a umas duas varas de altura, como se elas marcassem o limite entre dois territórios. Ali eu não via nenhuma árvore cortada e elas estavam cada vez mais perto uma da outra, cada vez mais grossas e mais altas.
"De todo jeito, pensei: não pode ser pior do que os humanos e seus animais."
Como eu estava errado! Continuei avançando até que ouvi estalos na mata ao meu lado: parecia que tinha alguém montado a cavalo correndo perto de mim.
Tentei desviar para o outro lado, tentei enxergar o que era, mas ele continuava me seguindo de perto, mas no escuro. As copas das árvores já bloqueavam a pouca luz da tarde.
Bem à minha frente, escutei o som de um berrante: eu conhecia aquele som das tropas da Aliança negra, mas era um tom diferente, menos assustador, mesmo que não menos duro.
Conjurei globo de luz, mas era tanta coisa para prestar atenção que a magia falhou umas três vezes. Mesmo assim, quando conjurei, consegui ver o mesmo que antes: apenas vultos e sombras, acompanhados dos sons de galopes e trombetas.
Vi uma árvore pintada com um rosto à minha frente e não quis me aproximar: dei uma guinada para o lado que parecia livre e continuei a galope. Lembrei-me de conjurar minha Armadura Arcana e por sorte ela funcionou! Agora, além da bola de luz brilhando e voando ao meu redor, minha roupa emitia um brilho fraco por causa da magia. Eu não sabia o que era pior: ser um alvo fácil ou não ter proteção nenhuma. Passei a conjurar os globos e atirar em várias direções, só para tentar ver algum dos vultos. Pensei em fantasmas e Bugbeares. Mas nada disso se encaixava com o som dos cascos. Uma hora, eu pude jurar que vi um vulto de humano montado em um cavalo. Ele era barbudo, estava sem camisa e trazia uma lança na mão; não sei se imaginei ou se era real, mas ele estava meio longe. Devo ter corrido assim, com medo e sendo seguido por quase umas três horas, porque quando eu saí daquele bosque fechado e não ouvi mais o som deles, Tenebra ia alta.
Parece que eles só me seguiram para eu não me enfiar mais nas terras deles. Parei para descansar na beira de um riacho, tomei água e tirei mais uma hora para descansar. Ao menos, não dei de cara com nenhum deles.
Segui o riacho até um ponto que dava para atravessar com o pônei e topei com um monte de bananeira. Aproveitei para procurar alguma madura, mas não achei. Cortei umas verdes mesmo, comi e guardei as outras para amanhã.
Andei até amanhecer. Não achei gruta, mas também não vi mais árvores cortadas. Subi numa árvore tão grossa quanto uma carroça e arrumei um canto para dormir. Amarrei meu saco de dormir em dois galhos grossos e fiz uma cama. Devo estar a um tiro do chão, mas a copa da árvore está tão acima de mim que acho que nem vai esquentar tanto quando o sol estiver a pino.
Dia 92
Acho que a melhor coisa que eu fiz foi andar à noite e dormir de dia. Assim, acaba que eu evito encontros indesejados... Além de ter mais silêncio na floresta, já que fico com os grilos, corujas e quando estou perto de riachos e brejos, o coaxar dos sapos.
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Diário de viagem
FantasyPrimeiro, muito obrigado! Obrigado à @_valentart pela arte da capa! Obrigado, Paulo Alberto, por ler enquanto eu escrevia! Obrigado à você, que leu, criticou, me ajudou a melhorar e continuar escrevendo! Obrigado ao Wattpad, pois aqui tenho col...