Capítulo 6 - Os mortos flertam e shippam

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– É sério – insistia Bruno – Foi realmente incrível. Foi tipo, sabe, pular de paraquedas ou andar na montanha-russa depois de beber uma garrafa de vodca. Só que sem passar mal depois.

– É, porque já está morto. – comentou Sofia.

– Ah, qual é. Encara isso de outra forma. Estamos aqui, conversando, como se nada tivesse acontecido. Não é tão ruim. Na verdade, não é nada ruim. É tipo... a mesma merda de sempre. Só que com uma vantagem: podemos fazer coisas divertidas sem nos preocupar com a bronca dos pais ou qualquer autoridade.

– Hmm, eu estava pensando... – disse Marcos, repentinamente interessado na conversação. Os demais se voltaram para ele e Melissa notou que o vendedor de discos exercia aquele efeito nas pessoas. Quinhentos e oitenta e sete álbuns de vinil empoeirados numa loja cheirando a mofo e Marcos conseguia vender qualquer um deles ao primeiro que desse ouvidos ao seu acervo de conhecimento sobre a banda, o ano de gravação e curiosidades sobre o design da capa do disco. – Me diga, Bruno, o que você sente agora?

– Bem, pode parecer estranho, já que vocês estão todos meio deprimidos, mas... eu me sinto bem... animado! É como se a morte fosse só uma outra forma de encarar a vida. Quer dizer, deve ter muita coisa interessante pra curtir, sabe? Isso aqui pode ser divertido!

– E como se sentia quando morreu? – perguntou novamente Marcos.

– Bem – Bruno pareceu um pouco constrangido – sabe como é, um pouco de erva, bebida e garotas... deixam qualquer um bem eufórico.

Sofia fez uma careta de nojo e Marcos coçava o cavanhaque. Melissa olhava para ambos, esperando que aquele momento constrangedor fosse interrompido por alguma conclusão esperta do vendedor de discos.

– Entendo – disse Marcos.

– Então? – Melissa quis saber.

– Então o que?

– Qual era a coisa que você estava pensando?

– Hum... de repente achei que não é algo tão legal assim.

No mesmo ritmo que despencava o ânimo de Melissa em levar aquela conversa adiante, o ônibus desacelerou e fez uma curva lenta. Uma agitação começou no interior do veículo.

– Estamos parando?

– Já chegamos?

– Aqui é o Terminal?

– Ei, motorista!

Estava escuro. A única coisa que podiam ver graças aos faróis do ônibus era que se tratava de um lugar amplo. Após estacionar o veículo, o motorista abriu a porta da frente e a de trás, levantou-se desceu do ônibus.

– Finalmente! – exclamou Roberto – Posso esticar as pernas.

Roberto se apressou para ser o primeiro a descer. Os demais observaram, ainda em dúvida. Edna seguiu o marido, e logo atrás dela a vereadora Rebeca. Melissa e Sofia se entreolharam, enquanto Cristiane levantava-se desconfiada. Bruno deu alguns passos em direção à saída e Marcos parecia tenso.

– Será seguro sair?

– Não é uma armadilha?

– Armadilha pra que?

– Nos vender no mercado negro de almas.

– Só tem um jeito de saber.

– Não tô gostando disso.

– Acho melhor a gente...

– Eu vou descer.

– Não, espera!

Morte, o Intervalo da VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora