Capítulo 2

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Cinco dias depois a minha vida ta um caos, é uma correria pra lá e pra cá, o famoso tira casaco bota casaco. Minha mãe inventa de me ajudar a arrumar as malas e coloca as minhas coisas tudo de qualquer jeito, me impossibilitando de encontra-las depois.

– Será que por favor a senhora poderia retirar suas belas mãos da minhas coisas? – eu pergunto educadamente.

– Não – ela responde minimamente e volta a  mexer nas minhas roupas, bufo.

Às horas passam rapidamente, e antes de ir faço uma última refeição com ela, mesmo sabendo que quando estou fora ela sai e se diverti, provavelmente ficando bêbada e coisa pior, mas enfim ela está certa.

O ônibus nos deixa em frente ao aeroporto internacional, e eu e minha mãe adentramos calmamente embora eu esteja ansiosa. Paramos de andar quando chegamos ao portão de embarque, ela pega nas minhas mãos e depois me acaricia no rosto.

Se ela chorar eu choro, apenas isto.

– Liv aproveita, faça de tudo, apenas não morra e se fizer algo errado não seja pega – ela pisca e eu abraço.

– Bom mãe digo o mesmo para você – rimos, às vezes tenho medo das coisas que ela fala.

•••

Tento não olhar para a janela, mas sinto que é impossível ficar olhando apenas para frente. Minha cabeça dói e minha barriga também, quando o avião finalmente está no seu mais alto voar eu olho, nuvens e céu.

Sentado ao meu lado tem um moço asiático, e por algum motivo sinto que está incomodado comigo, eu decido abrir um livro e fingir lê-lo pois não consigo ter atenção o suficiente.

Às aeromoça passam pra lá e pra cá servindo água e comida, sinto sede mas sei que não vou pedir por falta de coragem por mais idiota que seja.

– A senhora gostaria de uma água? – uma delas pergunta diretamente para mim.

– Sim por favor – indaguei e ela me entregou, sorri agradecida.

Botei meus fones de ouvido, e antes de pegar no sono só conseguia pensar em como o mundo era tão grande e a vida tão curta, e o que eu desfrutava disso. Olhei para cada pessoa naquela avião, inclusive para o homem carrancudo ao meu lado, e me perguntei quantos deles tiveram noites intensas e um coração partido depois.

Eu sempre soube que a vida não era só os romances que eu lia, acho que foi assim que encontrei minha maior sensibilidade, pois os personagens sentiam tanto amor, e eu quase nada. Na minha vida toda eu nunca tentei encontrar esse alguém, porque de certa forma eu sempre me vi sozinha.

Meus olhos pesaram e eu acabei dormindo.

Ao acordar, me dei conta de onde estava e em seguida uma voz soou pelo alto falante. Íamos pousar, olho no relógio e me pergunto quanto dormir visto que já estou em Londres.

Depois de alguns contratempos, eu pego meu cartão e me enfio num metrô qualquer, a diferença do metrô daqui para o do Brasil é mínima, acho que só tem menos muvuca. Sento-me em paz,  encosto minha cabeça no banco relaxando.

A porta abre e fecha de dez em dez minutos, uma garota fedendo a álcool entra e senta ao meu lado e eu meio que me encolho receosa, no mínimo é uma universitária farreando.

Ela me encara, olhando-me nos olhos e eu fico sem saber pra onde olhar até ver sua boca abrir, e fechar logo em seguida como se tivesse mudado de ideia, eu suspiro desejando chegar em casa logo.

– Demais – eu digo quando sua cabeça encosta no meu ombro, ela adormeceu.

Faço movimentos com os ombros, e finjo espirrar para desperta-lá mas nada acontece, apenas um leve movimento de sua perna esquerda e um resmungo.

Algumas pessoas começam a ocupar o vagão, e ficam olhando para nossa direção e principalmente para dela. Viro-me para a mesma e me permito observa-lá rapidamente para não ficar estranho.

Tem um cabelo pintado de branco e é comprido a tornando mais pálida, em sua pele está os resíduos da maquilhagem preta que fora saindo aos poucos, as roupas são pretas e coladas, talvez ela seja punk ou goste de inovar mesmo, enfim ela é linda.

– Obrigada – ela solta do nada, e eu tomo um susto pois é provável que eu tenha falado além de ter pensado – Você também é uma gracinha – ela disse e se levantou me deixando com vergonha, olho para a janela e quando a porta abre, ela sai, viro minha cabeça e ela pisca para mim.

Quando finalmente chego ao meu destino, meu coração volta a bater calmamente e eu sinto que posso respirar. Pois não existe coisa pior do que ficar em um lugar que não te pertence.

Tudo o que o meu coração queria ter dito a você ( Lésbico ) Onde histórias criam vida. Descubra agora