Capítulo 9

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Loris me levou na mesma praça que tínhamos ido antes, mas dessa vez estava diferente. As luzes funcionavam como enfeites, estava bonito.

Sentamos na grama, e eu percebi que só faltava um baseadinho, fiquei com vontade de rir.

– O que foi? – Loris disse cutucando no meu ombro – Você ta com cara de quem aprontou.

– Impressão sua – falei e ela insistiu.

– Ai ta bom, na hora que sentamos na grama eu pensei só falta um baseadinho – ela começou a gargalhar alto, e o som da sua risada me fez rir também.

Loris pegou na minha mão, e entrelaçou na sua, e eu apertei, sua respiração foi voltando ao normal depois de ficar rindo sem parar, e a minha também. A noite estava bonita, com um céu estrelado e um  clima abafado.

– Como é se apaixonar Loris? – eu perguntei subitamente e me surpreendendo com a minha coragem, Loris me olhou e ficou pensativa.

Me pergunto se toquei na ferida, me sentindo uma tapada por ter perguntando isso do nada. Ela abre a boca e fecha, como fez naquele dia no metrô, como se estivesse mudado de ideia.

Com certeza ela deve estar se lembrando como foi, e com quem foi. Não acho que tenha sido muitas vezes. Mas deve ter sido bom, pode ser que não, mas eu espero que sim. Olho para Loris e ela está mordendo os lábios, e ela me olha.

– Eu não sei explicar, é um sentimento forte, mas você nem percebe quando ele aparece, e quando percebe seus dias mudam e você também, suas noites principalmente. Você nunca se apaixonou Liv? – ela pergunta e eu demoro um pouco para responder, geralmente quando essa pergunta me é feita, ela vem carregada de julgamento. Mas com Loris sempre é diferente.

– Nunca me apaixonei – eu respondo.

– Alguém já se apaixonou por você? – ela pergunta e dessa vez eu me forço a lembrar de alguma coisa, e concluo que não também.

– Não também – falei, e ela ficou surpresa? Foi o que pareceu.

– Estranho – ela diz meio distante, pensativa.

– Estranho por quê? – eu questiono.

– Porque você é uma pessoa apaixonante Liv – dessa vez ela que aperta minha mão, e sorri – Eu espero que quando você se apaixonar seja bom e não doa muito.

– Eu também espero.

Loris deita no gramado e eu deito também, nós duas ficamos olhando para o céu e acho que ambas pensativa também, ela vira para o lado e fica me observando, e eu deixo porquê de alguma maneira, quando seus olhos estão sobre mim eu me sinto indestrutível.

Como se entre muitas coisas e pessoas  para observar, ela escolhesse eu e eu.

Eu viro para o lado e nossas respirações se batem, e para mim isso já é algo íntimo. Loris tira o cabelo que cobria a metade do meu rosto, e eu observo suas tatuagens no braço.

– Você só tem tatuagens no braço? – eu pergunto baixo.

– Tenho um coração pequeno no meu peito também – ela sussurra – Espero te mostrar um dia.

– Eu também espero. – ela sorri para mim e fecha os olhos.

Loris tem uma flor, tem um sol, tem frases, e tem um gato, tudo tatuado nos braços. Vendo assim de perto realmente é muito lindo, sempre tive vontade de ter tatuagem e a minha mãe deixa essa é a melhor parte.

O problema sempre sou eu mesmo. Percebo que Loris dormiu quando sua respiração fica calma, lenta. Olho em volta do parque e tem algumas pessoas nos bancos, namorando.

Eu tiro o cabelo de seu rosto, e calmamente passo minha mão sobre sua pele, ela sorri sem mostra os dentes, me pegando desprevenida.

– Quando você vai voltar para o Brasil? – ela sussurra.

– Eu não sei ainda. – respondo.

Loris me lança um sorriso compreensivo. E eu lembro que prolonguei a viagem, e esqueci que um dia teria de ir embora. Sei que dessa vez será mais difícil, pois não deixarei uma pessoa para trás, mas sim duas.

Tento distrair meus pensamentos.

– Você faz faculdade do que? – eu pergunto curiosa.

– De filosofia e sociologia.

– Minhas matérias favoritas da escola.

– Eram as minhas também. Gata só não te dou o mundo porquê ele pertence aos proletários – ela joga e eu gargalho alto.

– Meu deus essa foi muito boa – eu digo ainda rindo,  e ela faz uma reverência, convencida.

– Mas e você? Pretende fazer? – ela pergunta e eu fico séria. 

– É complicado mas pretendo sim, acho que vou fazer Letras mesmo – eu respondo – Faculdade é um passo bem grande, e eu ainda me questiono se é isso mesmo que quero.

– Eu entendo Liv – ela diz e eu arqueio as sobrancelhas.

– Sério Loris? Olha para você, você é incrível e parece estar sempre preparada para tudo. – eu admito e ela ri.

– Fico lisonjeada com isso. Mas não é bem assim que as coisas funcionam e um dia você vai entender isso, o único conselho que eu posso te dar é, nunca deixe o medo afetar suas vontades e escolhas – ela diz e deixa um beijo na minha mão.

Agradeço pelo seu conselho, e penso comigo mesma quantas vezes deixei o medo tomar as decisões na minha vida. A verdade é que eu sou uma cagona, eu nunca me arrisquei, nunca me comprometi com nada, nunca tomei decisões difíceis.

Eu tenho um currículo de fracassos acumulados, e tenho medo de que seja assim para sempre.

Suspiro.

– Já são três horas, você ta com sono? – ela olha no celular e depois me pergunta.

– Pior que não – respondo – Você quer ir pra casa?

– Quero.

– E quer que eu vá com você? – eu pergunto e ela sorri para mim.

– Quero.

O caminho até a casa de Loris é rápido, principalmente quando ela corta caminho pelo um beco. Às três da manhã só tem alguns jovens festeiro na rua, e alguns atletas correndo na pista.

– Eu morava ali com os meus pais – ela aponta para uma casa vermelha, do outro lado da rua. Tem um escorregador de madeira no gramado e eu só consigo imaginar Loris pequenina brincando ali.

– Onde seus pais estão agora?

– Eles moram numa casa á duas horas daqui, eu os vejo nos finais de semana.

– E um dia vai me permitir conhecê- los? – eu pergunto baixo, diretamente em seu ouvido.

– Talvez sim.

Ao entrar na casa de Loris me recordo do pequeno lugar aconchegante que vive, Loris tira suas vestes e eu abaixo minha cabeça, quando levanto ela já está vestida com uma camiseta e um sorriso cínico no rosto, quando vê que eu não estou a olhar.

Ela me joga uma camiseta e eu não sei o que fazer, pois seus olhos estão sobre mim. Tiro minhas roupas e Loris sorri para mim em seguida, ela encara o meu corpo de cima em baixo. Eu visto a camiseta e deito ao seu lado na cama.

Seu olhar no meu é forte, embora pareça que seus olhos sorriem para mim sempre que me observa, eu deixo um beijo em sua bochecha, e a noite termina assim como ela disse. Quando todos estiverem dormindo nós duas estaremos acordadas.

Tudo o que o meu coração queria ter dito a você ( Lésbico ) Onde histórias criam vida. Descubra agora